APELO DO PAPA EM FAVOR DA SOMÁLIA, BURUNDI E DARFUR PODE DAR FRUTOS, DIZ JORNALISTA
DA REVISTA MISSIONÁRIA "NIGRIZIA"
Cidade do Vaticano, 28 abr (RV) - O apelo em favor da estabilização em várias
zonas da África, feito ontem por Bento XVI na oração dominical do Regina Coeli,
se dá num momento muito particular para o continente. O recrudescimento das tensões
em Burundi, Quênia, Somália, Sudão e República Democrática do Congo corre o risco
de desestabilizar ulteriormente os já frágeis equilíbrios africanos. Mas quanto as
palavras do papa sobre essa crise pode influenciar? Foi o que a Rádio Vaticano perguntou
ao redator da revista dos padres Combonianos "Nigrizia", Rafaello Zordan. Eis o que
nos disse:
Rafaello Zordan:- "Todos fazemos votos de que possam influenciar,
no sentido que a comunidade internacional não deve desviar a atenção de algumas realidades
específicas. Naturalmente, se pensamos na República Democrática do Congo, o país atravessa
um processo de transição rumo à democracia. Porém, no nordeste, isto é, na área próxima
a Uganda, Ruanda, Burundi _ existem historicamente desestabilizações crônicas e é
preciso trabalhar sobre isso. Existem ali tropas da ONU, há uma atenção internacional:
o papa reforça a idéia de que é preciso manter a vigilância e acompanhar essa democracia.
Ao invés, para o Darfur _ no sul do Sudão _ a coisa é ainda mais complicada, porque
nos encontramos em meio a um processo de pacificação. O Darfur é utilizado como 'mercadoria'
de troca por parte do governo de Cartum para fazer pressão sobre o sul do país, para
distanciar a possibilidade de que se chegue às eleições e também eventualmente à autodeterminação
do sul do Sudão."
P. A seu ver, como realizar concretamente as palavras
do pontífice, que falou sobre a necessidade de se criar um sólido fundamento à paz
e ao desenvolvimento?
Rafaello Zordan:- "Concretamente, a cada momento
em que a comunidade internacional se reúne, raciocina _ pensamos na Europa _ sobre
temas africanos, a África deve encontrar um espaço específico seu, estar presente
também nos jornais, na opinião pública: em suma, deve encontrar maiores momentos para
ser levada em consideração, mesmo porque aquelas crises podem repercutir aqui entre
nós."
P. A seu ver, as palavras do papa podem deixar, de qualquer modo,
algum sinal?
Rafaello Zordan:- "Seguramente deixarão um sinal em
todos aqueles que, de um modo ou de outro, têm relações com o continente africano
e têm intenção de atuar naquele continente com critérios, no respeito pelo homem e
por seus direitos. Ademais, sabemos que a comunidade internacional tem seus tempos,
as suas prioridades. Muitas vezes se mete em tentativas pouco claras de mediação.
E talvez essas palavras possam indicar uma pista ou ao menos redesenhar o mapa das
prioridades. É claro, sabemos que são indicações que não são vinculativas para os
Estados e para quem faz a política." (RL)