2008-04-17 17:52:59

Ser fermento de esperança evangélica na sociedade americana, visando levar a luz e a verdade do Evangelho, para criar um mundo cada vez mais justo e livre, para as gerações futuras”:Bento XVI na homilia da Missa no “Nationals Stadium” de Washington


( 17/4/2008) A homilia da Missa celebrada pelo Papa num estádio de Washington constituiu um apelo à unidade, à conversão e à esperança – dirigido a todos os católicos dos Estados Unidos.
“Em nome do Senhor Jesus peço-vos que ponhais de lado todas as divisões e que actueis com alegria preparando para Ele uma via, na fidelidade à sua palavra e em constante conversão à sua vontade.
Encorajo-vos sobretudo a continuar a ser um fermento de esperança evangélica na sociedade americana, visando levar a luz e a verdade do Evangelho, para criar um mundo cada vez mais justo e livre, para as gerações futuras.”
Partindo das leituras proclamadas nesta celebração eucarística, Bento XVI observou que estas sublinham “o elo indissolúvel entre o Senhor ressuscitado, o dom do Espírito para o perdão dos pecados e o mistério da Igreja”. “Cristo constituiu a sua Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos, como comunidade visível, estruturada, que é ao mesmo tempo comunhão espiritual, corpo místico animado por múltiplos dons do Espírito e sacramento de salvação para toda a humanidade”.
“Em todos os tempos e lugares a Igreja está chamada a crescer na unidade através de uma constante conversão a Cristo, cuja obra redentora é proclamada pelos Sucessores dos Apóstolos e celebrada nos sacramentos.
Esta unidade comporta uma contínua expansão, porque o Espírito leva os crentes a proclamar as grandes obras de Deus e a convidar todas as gentes a entrarem na comunidade dos que se salvam mediante o sangue de Cristo, tendo recebido a vida nova no seu Espírito.”
Recordando que esta sua deslocação aos Estados Unidos prende-se com a celebração dos 200 anos da elevação de Baltimore a arquidiocese, com a instauração das dioceses de Bóston, Louisville, Nova Iorque e Filadélfia, o Papa observou que a presença do sucessor de Pedro é, para todos os católicos americanos, “uma ocasião para reafirmar a sua unidade na fé apostólica - oferecendo aos contemporâneos uma razão convincente da esperança que os inspira - e para se renovarem no zelo missionário ao serviço da expansão do Reino de Deus”.
“O mundo tem necessidade deste testemunho! Quem pode negar que o momento presente constitui uma viragem não só para a Igreja na América, mas também para a sociedade no seu conjunto”.
Vive-se “um tempo cheio de grandes promessas”, com a “família humana” cada vez mais interdependente, mas também não faltam “sinais evidentes de um preocupante desmantelamento nos próprios fundamentos da sociedade” – advertiu o Papa: alienação, violência, enfraquecimento do sentido moral, decadência nas relações sociais, crescente afastamento de Deus. Também no interior da Igreja, ao lado de elementos positivos que suscitam esperança, coexistem dados preocupantes e dolorosos, tais como divisões e polarizações internas, e “a desconcertante descoberta de que tantos baptizados, em vez de agirem no mundo como fermento espiritual, tendem a adoptar atitudes contrárias à verdade do Evangelho”.
Bento XVI deixou “uma especial palavra de gratidão e encorajamento (citamos) a todos os que acolheram o desafio do Concílio Vaticano II, tantas vezes repetida pelo Papa João Paulo II, dedicando a sua vida à nova evangelização”. Palavras, estas, dirigidas aos bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, mas também aos pais, aos professores, aos catequistas. Há que prosseguir hoje fielmente, no ambiente secularizado e materialista que se respira, a mesma acção evangelizadora:
“A fidelidade e coragem com que a Igreja neste país conseguir enfrentar os desafios de uma cultura cada vez mais secularizada e materialista dependerá em grande parte da vossa fidelidade pessoal em transmitir o tesouro da nossa fé católica.
Os jovens precisam de ser ajudados a discernir o caminho que conduz à verdadeira liberdade: o caminho de uma sincera e generosa imitação de Cristo, o caminho do empenho a favor da justiça e da paz”.
O Papa recordou que os grandes desafios do nosso tempo requerem “uma instrução ampla e sã na verdade da fé”, mas também que se cultive “um modo de pensar, uma cultura intelectual genuinamente católica, confiante na profunda harmonia entre fé e razão, capaz de levar a riqueza da visão da fé às questões urgentes que afectam o futuro da sociedade americana”. Tudo isto com uma grande esperança, bem correspondente à índole e à história do povo e da nação.
A vida da comunidade católica dos Estados Unidos – observou Bento XVI – sempre se caracterizou e continua a caracterizar pela virtude cristã da esperança - “a esperança que (disse) purifica e corrige de modo sobrenatural as nossas aspirações orientando-as para o Senhor e para o seu plano de salvação”.
Foi neste contexto de “esperança nascida do amor e da fidelidade de Deus” que o Papa reconheceu o sofrimento que a Igreja na América tem experimentado em consequência do abuso sexual de menores”.
“Nenhuma palavra minha poderia descrever o sofrimento e o dano provocados por tal abuso. É importante que aqueles que sofreram sejam objecto de uma amorosa atenção pastoral. E não se pode descrever adequadamente o prejuízo verificado no interior da comunidade da Igreja”.
Para além dos “grandes esforços” já empreendidos para “enfrentar de modo justo e honesto esta trágica situação” e para assegurar um ambiente seguro onde as crianças possam crescer, esforços que se devem prosseguir, Bento XVI convida os católicos americanos a não pouparem esforços para “promover a cura e reconciliação e para ajudar todos os que ficaram feridos”. Lembrando que “nosso Senhor ama tão profundamente” as crianças e que estas “são o nosso maior tesouro”, o Papa convidou a uma oração profunda, que suba do íntimo dos nosso corações como os gemidos (sugeridos pelo Espírito) de que fala São Paulo. “É uma oração de inexaurível esperança, mas também de paciente perseverança, tantas vezes acompanhada de um sofrer pela verdade” – precisou o pontífice. Uma oração que aspira, no meio do castigo, à realização das promessas de Deus”.
Evocando a leitura da Missa, em que o Senhor ressuscitado faz aos Apóstolos o dom do Espírito Santo e a autoridade para perdoar os pecados, Bento XVI recordou o permanente renascer da Igreja “mediante o invencível poder da graça de Cristo, confiado a frágeis ministros humanos”:
“a Igreja renasce continuamente e a cada um de nós é dada a esperança de um novo início. Confiemos no poder do Espírito de inspirar a conversão, de curar todas as feridas, de superar todas as divisões e de suscitar nova vida e uma nova liberdade.”
Estes dons tão necessários estão ao alcance de todos particularmente no Sacramento da penitência – lembrou o Papa. É importante que todos os católicos redescubram “a força libertadora” deste sacramento, em que “a sincera confissão dos pecados se encontra com a palavra misericordiosa de perdão e de paz, da parte de Deus. “A renovação da Igreja na América depende em grande parte da renovação da prática da penitência e do crescimento na santidade: ambas inspiradas e concretizadas neste Sacramento”.










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