A natureza e identidade da educação católica hoje, no encontro do Papa com o mundo
universitário católico na "Catholic University" de Washington
(17/4/2008) No discurso dirigido, na primeira Universidade Católica dos Estados Unidos
a uma assembleia de 600 pessoas (reitores, professores e alunos de escolas superiores
da Igreja), Bento XVI desenvolveu “algumas reflexões sobre a natureza e identidade
da educação católica hoje”. O Papa começou por recordar que “a tarefa educativa é
parte integrante da missão que a Igreja tem de proclamar a Boa Nova”. “Antes
de mais – sublinhou – toda e qualquer instituição educativa católica é um lugar aonde
encontrar o Deus vivo, o qual em Jesus Cristo revela a força transformadora do seu
amor e da sua verdade”. “A dinâmica entre encontro pessoal, conhecimento e testemunho
cristão é parte integrante da diaconia da verdade que a Igreja exerce no meio
da humanidade”.
Bento XVI congratulou-se com os “numerosos exemplos de empenho
da Igreja” no campo da educação, nos Estados Unidos. Um empenho testemunhado, não
sem sacrifício, por variadas figuras de fundadores e fundadoras. Um empenho que dura
até aos nossos dias e que constitui – reconheceu – “um excelente apostolado da esperança”
que toma em consideração as necessidades materiais, intelectuais e espirituais de
mais de três milhões de jovens e estudantes. Importa fazer com que os estabelecimentos
educativos da Igreja possam ser acessíveis a pessoas de todas as extracções sociais
e económicas. “A nenhuma criança deve ser negado o direito à educação na fé, que por
sua vez alimenta o espírito da nação”.
Bento XVI considerou “oportuno reflectir
sobre o que é específico das instituições católicas: como é que podem contribuir para
o bem da sociedade através da missão primária da Igreja que é evangelizar”. Esboçando
uma resposta a esta questão, o Papa observou que “o desejo de fazer-se conhecer e
o inato desejo de cada ser humano de conhecer a verdade fornecem o contexto da busca
humana sobre o significado da vida”. Ora – prosseguiu – “quem procura a verdade torna-se
em alguém que vive da fé”. O que pode ser descrito como “um movimento do eu
ao nós, que leva o indivíduo a ser parte integrante do povo de Deus”. “A
identidade de uma Universidade ou de uma Escola católica não é uma simples questão
do número de estudantes católicos. É uma questão de convicção – acreditamos mesmo
que só no mistério do Verbo incarnado se esclarece o mistério do homem? Estamos mesmo
prontos a confiar todo o nosso eu – inteligência e vontade, mente e coração – a Deus?
Aceitamos nós a verdade que Cristo revela? Nas nossa universidades e escolas a fé
é tangível? Dá-se uma fervorosa expressão (à fé) na liturgia, nos sacramentos,
mediante a oração, os actos de caridade, a solicitude pela justiça, o respeito pela
criação de Deus? - interrogou-se o Papa, advertindo que “só desse modo nós damos realmente
testemunho sobre o sentido de quem nós somos e do que nós sustentamos”. É a partir
daqui que se pode reconhecer que a “crise de verdade” dos nossos dias se radica numa
“crise de fé”. De facto, “só mediante a fé nós podemos dar livremente o nosso assentimento
ao testemunho de Deus, reconhecendo-o como o garante transcendente da verdade que
Ele revela”. É por isso que é ´”indispensável” promover nas instituições formativas
católicas “a intimidade pessoal com Jesus Cristo e o testemunho comunitário da sua
verdade que é amor”.
“A missão primária da Igreja – evangelizar, na qual
as instituições educativas desempenham um papel crucial, está em consonância com a
aspiração fundamental da nação de desenvolver uma sociedade verdadeiramente à altura
da dignidade da pessoa humana”. “É importante recordar que a verdade da fé e a verdade
da razão nunca se contradizem entre si”. “Exprimindo a verdade revelada, a Igreja
serve todos os membros da sociedade purificando a razão, assegurando que esta permanece
aberta à consideração das verdades últimas” A Igreja “recorda a todos os grupos na
sociedade que não é a práxis a criar a verdade, mas sim a verdade que deve servir
de base à praxis”. “Longe de ameaçar a tolerância da legítima diversidade, tal contributo
ilumina a própria verdade que torna possível o consenso, e ajuda a manter racional,
honesto e credível o debate público. De igual modo, a Igreja não se cansa de sustentar
as categorias morais essenciais do que é justo e injusto, sem as quais inevitavelmente
se esbate a esperança, abrindo o caminho a pragmáticos cálculos utilitaristas que
reduzem a pessoa a pouco mais de um peça num ideal xadrês”.
Quase a concluir
o seu discurso na Universidade Católica de Washington, Bento XVI fez ainda questão
de “reafirmar o grande valor da liberdade académica”, recordando porém, ao mesmo tempo,
que “qualquer apelo ao princípio da liberdade académica para justificar posições que
contradizem a fé e o ensinamento da Igreja criaria obstáculos ou trairia mesmo a identidade
e a missão da Universidade, uma missão que se encontra no coração do munus docendi
da Igreja e não é de modo algum autónoma ou independente dessa”.