2008-04-12 11:33:52

Aumento mundial dos preços dos alimentos, ameaça a estabilidade de regiões pobres e centenas de milhões de vidas


(12/4/2008) Violentos motins causados pelo aumento dos preços dos alimentos estão a provocar o caos no Haiti que é apenas um dos países afectados por um problema que se agrava em cada dia que passa: o aumento mundial dos preços dos alimentos, fenómeno complexo que ameaça a estabilidade de regiões pobres e centenas de milhões de vidas.

Os preços mundiais estão a aumentar há três anos. Só o custo do trigo, por exemplo, subiu 181% em 36 meses. As razões são diversas, mas estão sobretudo relacionadas com mudanças no consumo e com o petróleo caro. O aumento do preço da energia torna os fertilizantes mais dispendiosos e o transporte mais caro. Também estimula a produção de biocombustíveis (por exemplo, à base de milho, girassol ou soja), que por sua vez, desequilibram a oferta de rações para animais.

A isto somam-se alterações climáticas, que não têm impacto nas produções mundiais, mas podem ser catastróficas a nível regional.

Nesta Quarta feira, em Nova Deli, Jacques Diouf, o director-geral da FAO (a agência da ONU para a alimentação) fez um novo alerta para o problema do aumento dos preços e os respectivos efeitos na alimentação dos mais pobres. "Os preços subiram 45% nos últimos nove meses e há uma séria falta de arroz, trigo e milho", disse Diouf.

As organizações internacionais, como a FAO ou o Banco Mundial, têm alertado para a questão. Além do Haiti, já houve incidentes no Egipto, na Costa do Marfim, Camarões, Bolívia, México ou Iémen, entre muitos outros.

A crise alimentar atinge 36 países, segundo a FAO, não apenas pelo aumento dos preços dos alimentos, mas por efeitos regionais, tais como secas, inundações, conflitos políticos ou dificuldades de pós-conflitos. A Suazilândia ou o Lesotho, por exemplo, estão em seca há vários anos. O Zimbabwe mergulhou em profunda crise política. A respectiva situação alimentar é de "faltas excepcionais" de alimentos.

Na Ásia, a situação mais grave é no Iraque, onde há milhões de deslocados, mas também no Afeganistão ou na Coreia do Norte. A insegurança alimentar (situação menos séria do que a anterior) afecta países muito populosos, tais como República Democrática do Congo, Quénia, Etiópia, Paquistão, Indonésia ou ainda Bolívia, entre outros.

A população mundial aumenta entre 50 milhões e 70 milhões de pessoas em cada ano. Isto está a provocar uma forte pressão sobre a terra arável disponível. Enquanto os países mais ricos, como os da União Europeia ou os Estados Unidos, estão há duas décadas a reduzir os espaços agrícolas; outros, como China, Índia ou Brasil tendem a aumentar as terras aráveis, causando maior erosão dos solos.

O enriquecimento de alguns países também tem impacto. Em 1980, o consumo per capita de carne, na China, era de 20 quilos; agora é de 50 quilos. Mas, nos países mais pobres do mundo, um quarto da população gasta 70% a 80% do seu rendimento em comida. São estes países que mais sofrem com a inflação internacional.

Um dos Objectivos do Milénio, proclamados pela ONU com meta até 2015, era o de erradicar a pobreza extrema e a fome. As razões para o aumentos extraordinário dos preços dos alimentos não vão desaparecer tão cedo e o objectivo parece comprometido. As grandes fomes do passado foram provocadas por conflitos ou falhanços catastróficos de colheitas. A actual situação de subida muito rápida e acentuada de preços mundiais é inédita, dada a extensão do comércio internacional. As consequências são uma incógnita.








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