Comité Olímpico Internacional critica autoridade de Pequim, e mantém périplo mundial
da chama. “Profunda inquietação” da comunidade internacional em relação à repressão
chinesa no Tibete.
(11/4/2008) O clima de tensão e conflito vivido nas cidades por onde tem passado
a tocha olímpica, transferiu-se ontem para a reunião do Comité Olímpico Internacional
a decorrer em Pequim, com uma troca de palavras duras entre o presidente do Comité,
Jacques Rogge, e a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Jiang
Yu. A divergência pública entre o COI e o Governo de Pequim constituiu o mais recente
golpe na estratégia chinesa de manter dissociados os Jogos de questões delicadas para
o regime, como o Tibete ou o problema dos direitos humanos no país. Ao sucedido
na capital chinesa veio somar-se a aprovação no Parlamento Europeu ontem por esmagadora
maioria de uma resolução em que defende a necessidade de uma posição comum dos 27
Estados membros sobre "a opção da ausência" à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos
de Pequim, caso a China "não inicie o diálogo directo" com o líder tibetano no exílio,
o Dalai Lama. O presidente do COI, Jacques Rogge, não se coibiu de recordar os
compromissos assumidos por Pequim em matéria de direitos humanos quando a sua candidatura
foi escolhida em 2001 para organizar os Jogos deste Verão. "Pedimos claramente à China
que respeite esse compromisso moral", disse Rogge. O dirigente olímpico insistiu ainda
que "a liberdade de expressão é algo absoluta, é um dos direitos do homem, que, por
isso, é também dos atletas", admitindo, por outro lado, que poderiam vigorar "pequenas
restrições" nesta matéria para impedir a politização dos Jogos. As declarações
de Rogge suscitaram uma rápida reacção da diplomacia chinesa, que pediu aos responsáveis
do COI "para não introduzirem factores políticos a despropósito". Num sentido
conforme aos interesses chineses em matéria dos Jogos, e contrariando a impressão
dominante nos últimos dias, o Presidente George W. Bush voltou a afirmar ontem ser
sua intenção estar presente na cerimónia de abertura das Olimpíadas, a 8 de Agosto. Entretanto
a China rejeitou um pedido da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
para se deslocar ao Tibete, enquanto especialistas da ONU em direitos humanos manifestam
“profunda inquietação” em relação à repressão chinesa. O mesmo acontece com a União
Europeia. Os eurodeputados pedem à presidência eslovena da União Europeia que
se empenhe em “encontrar uma posição comum a respeito da presença dos chefes de Estado
e de Governo” na cerimónia. A hipótese de um boicote europeu à participação na cerimónia
de abertura está ainda prevista na resolução aprovada. O texto apela a que a China
e o Dalai Lama cheguem “a um acordo político global sobre uma solução viável para
a autonomia cultural e política” do território. O PE quer ainda que o Conselho
da União Europeia nomeie um enviado especial para as questões tibetanas e condena
a repressão dos manifestantes tibetanos pelas autoridades chinesas. Sete especialistas
da ONU em direitos humanos manifestaram, num comunicado conjunto ontem divulgado,
uma “profunda inquietação” em relação à repressão no Tibete e pediram a Pequim acesso
livre à região para jornalistas e observadores independentes. No documento, os
sete especialistas referem que estão inquietos com as “actuais manifestações e informações
sobre o elevado número de detenções na região autónoma do Tibete e regiões vizinhas
na China”. “Os especialistas da ONU estão profundamente preocupados com as informações,
segundo as quais, as forças de segurança dispararam contra os manifestantes provocando
mortos”, refere o texto.