BENTO XVI NA AUDIÊNCIA GERAL: SEM RECONHECER SUAS RAÍZES CRISTÃS, EUROPA NÃO PODE
REDESCOBRIR SUA VERDADEIRA IDENTIDADE
Cidade do Vaticano, 09 abr (RV) - Um homem que, com a sua célebre "Regra",
deu início a um fermento espiritual que conferiu à Europa de seu tempo "uma nova unidade
espiritual e cultural", fundada na fé cristã. Foi a descrição que o papa fez de São
Bento de Núrcia, a quem dedicou a catequese da Audiência Geral desta manhã, realizada
na Praça São Pedro.
Também hoje, como no tempo de São Bento, a Europa está
em busca de uma identidade, que não pode deixar de fundar-se nas antigas raízes cristãs
difusas no continente pelo monaquismo beneditino, afirmou o pontífice, que fez uma
analogia entre a Europa do século V e a Europa do século XX. A primeira, tendo ruído
o sistema unificador imposto pelo império romano, buscou encontrar dolorosamente sua
nova identidade. A segunda, devastada por duas guerras mundiais e pela queda das ideologias
totalizadoras, está caminhando há anos, com dificuldade, rumo a uma nova fisionomia
unitária.
Essas duas faces da Europa historicamente distantes têm em comum
a raiz cristã, que justamente 1500 anos atrás um eremita de 50 anos escolheu "exportar"
para todo o continente.
Aquelas raízes antigas são também as raízes modernas
para a Europa que corre o risco, sem a "linfa vital" de Deus, de cair numa utopia
de auto-redenção, afirmou Bento XVI:
"Hoje a Europa está em busca de sua identidade.
Para criar uma unidade nova e duradoura são certamente importantes os instrumentos
políticos, econômicos e jurídicos, mas é necessário também suscitar uma renovação
ética e espiritual com base nas raízes cristãs do continente; do contrário, não se
pode reconstruir a Europa."
Recordando a vida e a missão de São Bento, o papa
deteve-se longamente sobre os grandes méritos do santo, padroeiro da Europa por vontade
de Paulo VI em 1964 e também "padroeiro de seu pontificado, como definiu o próprio
Bento XVI no início de sua catequese:
"A obra do Santo e, de modo particular,
a sua Regra se revelaram portadores de um autêntico fermento espiritual que mudou,
ao longo dos séculos, a face da Europa, suscitando, após a queda da unidade política
criada pelo império romano, uma nova unidade espiritual e cultural, oriunda da fé
cristã partilhada pelos povos do continente. Nasceu justamente assim a realidade que
nós chamamos 'Europa'."
Antes de exercer com os seus mosteiros aquela "influência
fundamental sobre o desenvolvimento da civilização e da cultura européia", Bento nasce
essencialmente como homem de profunda oração.
Quando a idéia que parte de Montecassino
ainda estava por vir, o futuro santo se retirou numa gruta de Subiaco. Na lúcida consciência
da experiência cristã que sempre o sustentou, ele compreendeu que antes de tudo deveria
aprender o domínio de si.
Em contraste com aquela "auto-realização fácil e
egocêntrica, hoje comumente exaltada", estigmatizou o papa, São Bento experimentou
em primeira pessoa a humildade na busca da relação com Deus:
"Sem oração não
há experiência de Deus. Mas a espiritualidade de São Bento não era uma interioridade
fora da realidade. Na inquietude e na confusão de seu tempo, ele vivia sob o olhar
de Deus e justamente assim jamais perdeu de vista os deveres da vida cotidiana e o
homem com as suas necessidades concretas. Vendo Deus, entendeu a realidade do homem
e a sua missão."
Necessidades concretas que encontram uma síntese na famosa
Regra do "reza e trabalha", escrita quinze séculos atrás, até hoje "surpreendentemente
moderna", observou Bento XVI:
"Bento qualifica a sua Regra como 'mínima, traçada
somente para o início'; na realidade, porém, ela oferece indicações úteis não só aos
monges, mas também a todos aqueles que buscam um guia em seu caminho rumo a Deus.
Por sua medida, sua humanidade e seu sóbrio discernimento entre o essencial e o secundário
na vida espiritual, ela pôde manter a sua força iluminadora até hoje."
O Santo
Padre concluiu a Audiência Geral concedendo a todos a sua Bênção apostólica. (RL/BF)