Santa Sé lamenta «contínua discriminação racial» e pede «soluções concertadas»
(20/3/2008) A Santa Sé lamenta que a discriminação baseada na raça seja ainda uma
prática que ameaça as pessoas. “Nenhuma parte do mundo está isenta de experiências
de discriminação racial, apesar de o racismo, a xenofobia e outras formas de intolerância
serem alvo de condenação pela lei, que todos os estados e actores têm de respeitar”.
No discurso da 7ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, sobre
racismo, discriminação racial, xenofobia e formas de intolerância, o Arcebispo Silvano
M. Tomasi Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, em Genebra, enfatizou
a necessidade de o receio e o medo sobre a diferença ter de ser ultrapassado. O
fenómeno da globalização e a pluralidade das sociedade “faz aumentar o risco de racismo”,
apontou o Arcebispo. “A falta de conhecimento e a presença de tradições pouco familiares
levam ao medo do outro e ao risco da rejeição”. O Observador Permanente da Santa
Sé junto das Nações Unidas indicou que o caminho não é um diálogo abstracto entre
civilizações. O Relatório sobre o racismo, discriminação racial, xenofobia e outras
formas de intolerância, seguido da implementação da Declaração de Durban e do Programa
de Acção, indicam que, na era da globalização, o Estado não se pode basear exclusivamente
na ideia de identidade nacional. “A lei internacional de direitos humanos reconhece
claramente que a principal função do Estado é estar ao serviço da pessoa humana, da
sua vida na comunidade e ao serviço da promoção do bem comum”. “Não será através
da assimilação ou da separação radical, mas através da integração baseada em valores
comuns, expressos pelos direitos humanos, que o diálogo genuíno possibilita”. O
Arcebispo Silvano M. Tomasi indicou como condições necessárias a “liberdade, um diálogo
franco que gere responsabilidade e a capacidade de aceitar criticas que levem à evolução
dos direitos humanos”. “Mais do que insistir no choque de civilizações ou polarizar
posições, o foco deve ser centrado na promoção dos direitos humanos”, sublinhou. “A
intolerância religiosa voltou à tona como uma questão que deveria ser conduzida num
contexto de interdependência e universalidade dos direitos humanos”. “Há grupos
que são identificados pela sua etnia ou religião enquanto que outros são identificados
simplesmente pela sua crença”, apontou o Núncio Apostólico. A complexidade das
situações exige uma abordagem “conjunta entre os Relatórios Especiais e entre os mecanismos
internacionais para um impacto efectivo e para uma solução convergente”, indicou.
Situações como a falta de liberdade para expressar as suas crenças religiosas,
que acontecem em alguns países, deveriam constar nesses relatórios, pediu o Arcebispo.
O racismo e a intolerância devem ser combatidos com medidas concertadas. “Educação,
que favorece o conhecimento, que constrói a confiança e sustenta a implementação dos
direitos humanos deve servir como veículo para um diálogo efectivo”, lembrou. A
ratificação da Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial,
assim como a implementação da Declaração de Durban e do Programa de Acção são algumas
das formas concretas para um combate eficaz. “A prioridade, no entanto, é mudar
a atitude para que o coração seja purificado e não controlado pelo medo ou pelo espírito
da dominação”. O Arcebispo lembrou ainda que as religiões têm um papel fundamental,
pois “têm a responsabilidade de ensinar que a dignidade da pessoa e a unidade da família
humana é o mais importante”.