2008-03-20 20:32:04

NÚNCIO APOSTÓLICO NO IRAQUE: A PAZ NÃO SE CONSTRÓI COM AS ARMAS


Cidade do Vaticano, 20 mar (RV) - Passaram-se cinco anos da invasão militar no Iraque _ por parte das forças anglo-americanas _ e a crise humanitária no País do Golfo permanece entre as mais críticas do mundo. Os terroristas continuam lançando proclamas contra o Ocidente: numa nova mensagem, o líder de Al Qaeda _ Osama Bin Laden _ anuncia "uma grave punição" para a Europa e ataca também o papa.

"Essas acusações _ disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi _ não são uma novidade e não surpreendem". Mas é totalmente infundada _ acrescentou _ "a acusação específica de envolvimento" numa campanha de menosprezo do Islã mediante o episódio das vinhetas satíricas contra Maomé. O papa e o Pontifício Conselho para o Diálogo inter-religioso condenaram, reiteradas vezes, a campanha satírica contra o Islã _ recordou em seguida o Pe. Lombardi.

Efetivamente, o Iraque é ainda um país fragmentado, devastado pelas violências e fragilidades. A violência no País do Golfo destruiu famílias, eliminou vilarejos inteiros, transtornou regiões: desde 2003 até hoje foram mortos mais de 150 mil iraquianos _ outras fontes falam de bem mais que isso. As viúvas são mais de 70 mil e centenas de milhares de crianças ficaram órfãs. Muitas delas também experimentam dramáticas realidades como a desnutrição, a doença e a impossibilidade de acesso à educação.

Há um Iraque que não consegue crescer e comunidades que não conseguem conviver: Bagdá é hoje um conjunto de guetos sunitas e xiitas. Apesar de tudo, o governo iraquiano procura promover um percurso democrático e as forças estadunidenses tentam garantir maior segurança _ com escassos resultados.

Nesse pantanal iraquiano _ do qual as forças ocupantes não sabem como sair _ as pouquíssimas melhoras dos últimos meses se alternam com sistemáticas tragédias e ataques camicases. A dor por essa interminável cadeia de violências é também partilhada por muitas famílias estadunidenses, com a morte de quase 4 mil soldados norte-americanos.

Somam-se às perdas também outros custos muito pesados: efetivamente, estima-se que as operações militares no país árabe custarão ao todo, à administração estadunidense, mais de três trilhões de dólares. Trata-se de um ulterior peso que cria obstáculo para o processo de reconstrução do Iraque.

O retrato é também o de um país que se esvazia: são ao menos 4 milhões e meios os iraquianos obrigados a abandonar as suas casas por causa de flagelos ainda presentes, como a violência e a pobreza. Por sua vez, os cárceres iraquianos estão lotados: em 2007, os prisioneiros eram mais de 51 mil. Entre esses, mais de 1.350 são menores, detidos em condições que em muitos casos não respeitam os padrões internacionais.

Não obstante esse quadro dramático, a esperança é de que o Iraque possa finalmente romper as cadeias do terrorismo e das divisões e se torne um país seguro e reconciliado.

O drama iraquiano demonstra mais uma vez que o uso das armas não pode levar à paz. Foi o que ressaltou _ nos microfones da Rádio Vaticano _ o núncio apostólico no país árabe, Dom Francis Chullikat. Eis o que disse:

Dom Francis Chullikat:- "O Iraque ainda está em ansiosa espera da paz. Infelizmente, a violência e o conflito sectário continuam. Com o passar dos anos, parece que a Santa Sé tinha razão ao afirmar que a paz não se constrói com as armas; a paz se constrói com a liberdade _ fundamental para as pessoas _ e com a convivência pacífica entre os povos."

P. Dom Chullikat, esta semente da paz que a Igreja no Iraque está difundindo, está germinando?

Dom Francis Chullikat:- "Está germinando muito lentamente, porque a reconciliação da sociedade iraquiana está ainda em andamento; está se buscando promovê-la especialmente mediante a atuação das organizações internacionais e dos vários grupos religiosos presentes no país. A Igreja católica está dando uma contribuição muito significativa, colocando-se em contato e em diálogo com várias comunidades muçulmanos do país. O próprio governo está apreciando essa concreta contribuição. Somente buscando construir uma harmonia e uma convivência entre os vários grupos, as etnias, as culturas e as religiões, é possível construir uma paz duradoura no país." (RL)







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