NÚNCIO APOSTÓLICO NO IRAQUE: A PAZ NÃO SE CONSTRÓI COM AS ARMAS
Cidade do Vaticano, 20 mar (RV) - Passaram-se cinco anos da invasão militar
no Iraque _ por parte das forças anglo-americanas _ e a crise humanitária no País
do Golfo permanece entre as mais críticas do mundo. Os terroristas continuam lançando
proclamas contra o Ocidente: numa nova mensagem, o líder de Al Qaeda _ Osama Bin Laden
_ anuncia "uma grave punição" para a Europa e ataca também o papa.
"Essas acusações
_ disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi _ não são
uma novidade e não surpreendem". Mas é totalmente infundada _ acrescentou _ "a acusação
específica de envolvimento" numa campanha de menosprezo do Islã mediante o episódio
das vinhetas satíricas contra Maomé. O papa e o Pontifício Conselho para o Diálogo
inter-religioso condenaram, reiteradas vezes, a campanha satírica contra o Islã _
recordou em seguida o Pe. Lombardi.
Efetivamente, o Iraque é ainda um país
fragmentado, devastado pelas violências e fragilidades. A violência no País do Golfo
destruiu famílias, eliminou vilarejos inteiros, transtornou regiões: desde 2003 até
hoje foram mortos mais de 150 mil iraquianos _ outras fontes falam de bem mais que
isso. As viúvas são mais de 70 mil e centenas de milhares de crianças ficaram órfãs.
Muitas delas também experimentam dramáticas realidades como a desnutrição, a doença
e a impossibilidade de acesso à educação.
Há um Iraque que não consegue crescer
e comunidades que não conseguem conviver: Bagdá é hoje um conjunto de guetos sunitas
e xiitas. Apesar de tudo, o governo iraquiano procura promover um percurso democrático
e as forças estadunidenses tentam garantir maior segurança _ com escassos resultados.
Nesse
pantanal iraquiano _ do qual as forças ocupantes não sabem como sair _ as pouquíssimas
melhoras dos últimos meses se alternam com sistemáticas tragédias e ataques camicases.
A dor por essa interminável cadeia de violências é também partilhada por muitas famílias
estadunidenses, com a morte de quase 4 mil soldados norte-americanos.
Somam-se
às perdas também outros custos muito pesados: efetivamente, estima-se que as operações
militares no país árabe custarão ao todo, à administração estadunidense, mais de três
trilhões de dólares. Trata-se de um ulterior peso que cria obstáculo para o processo
de reconstrução do Iraque.
O retrato é também o de um país que se esvazia:
são ao menos 4 milhões e meios os iraquianos obrigados a abandonar as suas casas por
causa de flagelos ainda presentes, como a violência e a pobreza. Por sua vez, os cárceres
iraquianos estão lotados: em 2007, os prisioneiros eram mais de 51 mil. Entre esses,
mais de 1.350 são menores, detidos em condições que em muitos casos não respeitam
os padrões internacionais.
Não obstante esse quadro dramático, a esperança
é de que o Iraque possa finalmente romper as cadeias do terrorismo e das divisões
e se torne um país seguro e reconciliado.
O drama iraquiano demonstra mais
uma vez que o uso das armas não pode levar à paz. Foi o que ressaltou _ nos microfones
da Rádio Vaticano _ o núncio apostólico no país árabe, Dom Francis Chullikat. Eis
o que disse:
Dom Francis Chullikat:- "O Iraque ainda está em ansiosa
espera da paz. Infelizmente, a violência e o conflito sectário continuam. Com o passar
dos anos, parece que a Santa Sé tinha razão ao afirmar que a paz não se constrói com
as armas; a paz se constrói com a liberdade _ fundamental para as pessoas _ e com
a convivência pacífica entre os povos."
P. Dom Chullikat, esta semente da
paz que a Igreja no Iraque está difundindo, está germinando?
Dom Francis
Chullikat:- "Está germinando muito lentamente, porque a reconciliação da sociedade
iraquiana está ainda em andamento; está se buscando promovê-la especialmente mediante
a atuação das organizações internacionais e dos vários grupos religiosos presentes
no país. A Igreja católica está dando uma contribuição muito significativa, colocando-se
em contato e em diálogo com várias comunidades muçulmanos do país. O próprio governo
está apreciando essa concreta contribuição. Somente buscando construir uma harmonia
e uma convivência entre os vários grupos, as etnias, as culturas e as religiões, é
possível construir uma paz duradoura no país." (RL)