PAPA PEDE LIBERTAÇÃO DO ARCEBISPO IRAQUIANO SEQUESTRADO EM MOSSUL
Cidade do Vaticano, 1º mar (RV) - A Sala de Imprensa da Santa Sé se manifestou
ontem a propósito do seqüestro do arcebispo iraquiano de Mossul, Dom Paulos Faraj
Rahho, ocorrido na tarde de sexta-feira.
A nota da Sala de Imprensa afirma
que Bento XVI foi imediatamente informado do seqüestro de Dom Paulos. "Amargurado
por esse novo execrável ato, que atinge profundamente toda a Igreja no país e, em
especial, a Igreja caldéia, o Papa manifesta sua solidariedade ao Patriarca Card.
Emmanuel III Delly e a toda a comunidade cristã", lê-se na nota. O Santo Padre convida
ainda toda a Igreja a unir-se à sua fervorosa oração, para que prevaleçam razão e
humanidade nos autores do seqüestro e Dom Paulos seja restituído o quanto antes ao
cuidado de seu rebanho. Bento XVI renova os votos para que o povo iraquiano reencontre
caminhos de reconciliação e de paz.
O seqüestro ocorreu quando Dom Paulos saía
da Igreja do Santo Espírito, depois de ter celebrado a Via-Sacra, por volta das 17h30.
O rito reúne muitos fiéis e, por isso, a Santa Sé afirma que pode ser um indício de
que o seqüestro tenha sido premeditado. Dois seguranças e o motorista que estavam
com o prelado no momento do seqüestro foram assassinados.
O arcebispo conseguiu
entrar em contato brevemente, através do celular, com a sede do arcebispado sírio-católico
de Mossul no momento em que estavam para levá-lo. Naqueles poucos segundos, Dom Paulos
pôde somente alertar que dois homens desconhecidos tinham disparado e que o estavam
seqüestrando.
Nos dias passados, o arcebispo disse a um coirmão que tinha
recebido um telefonema em que pediam 50 mil dólares como "indenização ao povo, já
que os iraquianos sofrem muito por causa da guerra".
O primeiro a noticiar
o seqüestro foi o bispo caldeu de Amadiyah, Dom Rabban Al-Qas. No entanto, o arcebispo
sírio de Mossul, Dom Basile Georges Casmoussa, afirmou neste sábado que houve um telefonema
dos seqüestradores e teve início uma negociação para a libertação de Dom Paulos. "Infelizmente
não pudemos falar com o arcebispo para averiguar suas condições de saúde e isso nos
preocupa ainda mais, pois é um homem enfermo e necessita de seus medicamentos", declarou
Dom Casmoussa, acrescentando que "até o momento nenhum grupo reivindicou o seqüestro".
Neste sábado, foi realizado o funeral dos dois seguranças e do motorista,
assinados durante o seqüestro.
A notícia do seqüestro mobilizou a comunidade
católica. O bispo auxiliar de Bagdá, Dom Shlemon Warduni, lançou um apelo aos seqüestradores
para que libertem o prelado, pois ele está doente. "Olhem para Deus no céu e o deixem
ir", afirmou Dom Warduni. As precárias condições de saúde do prelado também foram
confirmadas pelo pároco Renato Sacco, responsável pela organização católica "Pax Christi"
no Iraque.
Já o representante da Igreja caldéia na Santa Sé, Mons. Philip
Najim, afirmou que esse seqüestro não serve para construir o Iraque e o respeito recíproco
entre os povos. "Esta terra é nossa, é de todos os iraquiano, por isso peço que libertem
o arcebispo, porque ele sempre amou a sua cidade, Mossul, e sempre a serviu. Se existe
um Deus que nos une na fé, pedimos a esse Deus que liberte Dom Paulos", disse Mons.
Najim. Este mesmo apelo foi transmitido na noite de ontem, ao vivo, na televisão iraquiana.
Mons. Najim recordou ainda que o arcebispo tem uma forte amizade com os muçulmanos
de Mossul, goza de uma ótima reputação e sempre manteve relações calorosas. "Ele é
muito estimado e considerado um homem de diálogo”, afirmou. Para Mons. Najim, o seqüestro
confirma a total fragilidade do governo, que não consegue garantir a segurança de
seus cidadãos.
De maioria árabe sunita, Mossul é capital da província de Nínive,
atualmente uma das mais perigosas do país.
Antes da invasão de março de 2003,
a comunidade cristã do Iraque totalizava 800.000 membros. Desde então, numerosos representantes
da comunidade, alvo constante de grupos extremistas, fugiram do país ou se mudaram
para o Curdistão iraquiano. Os caldeus, católicos de rito oriental, constituem a principal
comunidade cristã do Iraque e é uma das mais antigas do cristianismo.
Uma onda
de atentados com bombas no mês de janeiro, tendo como alvo igrejas e edifícios cristãos
de Mossul, feriu quatro pessoas e causou prejuízos materiais. Após esses atos de violência,
ocorridos no dia da celebração cristã da Epifania, em 6 de janeiro, Bento XVI expressou
sua "profunda preocupação" e sua "solidariedade a todos os membros das comunidades
cristãs do país ". (BF)