BENTO XVI NA AUDIÊNCIA GERAL: SANTO AGOSTINHO COMO PRECURSOR DA VERDADEIRA LAICIDADE
Cidade do Vaticano, 20 fev (RV) - Após a pausa dos exercícios espirituais,
Bento XVI retomou as audiências das quartas-feiras saudando os fiéis, peregrinos e
turistas reunidos na Basílica Vaticana, para depois fazer a sua catequese na Sala
Paulo VI.
O pontífice falou mais uma vez da "extraordinária figura de Santo
Agostinho", ressaltando que esse grande Padre da Igreja ensinou a "verdadeira laicidade".
Em seguida, exortou os fiéis a fazerem, neste tempo quaresmal, um decidido esforço
de conversão e a assumirem um compromisso evangélico mais generoso.
"Grande
testemunha de Cristo": assim foi Santo Agostinho, cujas inúmeras obras "são de importância
capital, e não somente para a história do cristianismo", disse Bento XVI. O exemplo
mais claro são as Confissões, um dos livros da antiguidade cristã até hoje mais lidos.
Escritas
entre os anos 397 e 400, durante o episcopado, as Confissões são uma "meditação interior"
feita diante de Deus, que descrevem "o caminho interior" do antigo bispo de Hipona,
uma "confissão das próprias fraquezas", "dos próprios pecados".
Mas também
um louvor a Deus, um olhar sobre a própria miséria à luz de Deus que se torna agradecimento
ao Senhor pelo amor alimentado pelos homens, amor que transforma e eleva o próprio
Deus: "São uma espécie de autobiografia, mas autobiografia na forma de um diálogo
com Deus. E esse gênero literário reflete justamente a vida de Santo Agostinho, que
era uma vida não fechada em si, e não uma vida dispersa em tantas coisas, mas substancialmente
uma vida vivida como diálogo com Deus, e assim uma vida pelos outros... E há muitos
irmãos que gostam dessas obras, e devo dizer que eu sou um deles".
O Santo
Padre ilustrou detalhadamente algumas obras do bispo de Hipona, mencionando as mais
de trezentas cartas que chegaram até nós e as quase seiscentas homilias, "fruto de
quarenta anos de pregação".
E como não falar de "A cidade de Deus"? "Obra imponente
e decisiva para o desenvolvimento do pensamento político ocidental e para a teologia
cristã da história", explicou Bento XVI. Trata-se de vinte e dois livros para responder
às acusações pagãs que imputavam ao cristianismo a queda de Roma, invadida e saqueada
pelos godos no ano 410: se com o culto aos deuses Roma havia se tornado caput mundi
(cabeça do mundo), a nova religião havia levado à sua queda. Em suma, o Deus cristão
era definido como incapaz de proteger a capital do império romano, portanto, não era
um deus ao qual se podia confiar.
Agostinho explicou o que se poderia e o que
não se poderia esperar de Deus, "como a relação entre a esfera política e a esfera
da fé e da Igreja: "Também hoje, este livro é uma fonte para definir bem a verdadeira
laicidade e a competência da Igreja, a grande verdadeira esperança que a fé nos doa.
Portanto, o livro é uma apresentação da história da humanidade governada pela providência
divina, mas dividida por dois amores. E esse é o seu desígnio fundamental, a sua interpretação
da história: a luta de dois amores, amor de si até a indiferença por Deus, e amor
por Deus até a indiferença de si, até a plena liberdade de si para os outros, na luz
de Deus". Bento XVI então exclamou a invocação de Santo Agostinho: "Nosso coração
permanecerá inquieto enquanto não repousar em Deus". E aos fiéis reunidos na Basílica
de São Pedro, o papa dirigiu o seguinte convite: "Que o caminho quaresmal que estamos
percorrendo seja uma ocasião favorável para um decidido esforço de conversão e de
renovação espiritual, para um despertar à fé autêntica, para uma recuperação salutar
da relação com Deus e para um compromisso evangélico mais generoso. Conscientes de
que o amor é o estilo de vida que caracteriza o fiel, não se cansem de ser, em todos
os lugares, testemunhas da caridade".
Em suas saudações, eis o que disse o
Santo Padre aos fiéis e peregrinos de língua portuguesa, presentes na audiência geral:
"Saúdo os visitantes de língua portuguesa, especialmente os brasileiros de Porto
Alegre. Faço votos por que vossa recente peregrinação à Terra Santa sirva de auspício
para invocar do Altíssimo, abundantes graças que vos façam prosseguir, seguros e concordes,
na caminhada penitencial rumo à Páscoa eterna. Que Deus Nosso Senhor abençoe vossas
famílias e comunidades". (RL/BF)