DOCUMENTO FINAL SOBRE PASTORAL DOS SEM-TETO: SÃO PORTADORES DE DIREITOS, NÃO SÓ DE
NECESSIDADES
Cidade do Vaticano, 19 fev (RV) - Numa sociedade que interpreta as relações
sociais em função de retornos econômicos, é bom reiterar que a pessoa sem moradia
fixa tem uma singularidade e uma unicidade ímpar. Este é um dos trechos do documento
final do I Encontro internacional de pastoral para os sem-teto, que se realizou nos
dias 26 e 27 de novembro do ano passado, organizado pelo Pontifício Conselho da Pastoral
para os Migrantes e os Itinerantes. No documento são traçadas as diretrizes para um
renovado plano de ação, com recomendações à sociedade e à Igreja.
"Vivemos
numa sociedade de risco", lê-se no documento, e ninguém pode estar seguro de que jamais
se tornará pobre. Antes de considerar o sem-teto como um objeto ao qual destinar iniciativas
estabelecidas a priori, é fundamental entender a sua situação e relacionar-se
com ele. A dimensão do socorro material por si só não basta: deve-se atuar na direção
de uma promoção humana.
Os sem-teto devem ser considerados não somente como
"um catálogo de necessidades a serem satisfeitas, mas, em primeiro lugar, devem ser
considerados como portadores de direitos: ao trabalho, à habitação, à saúde. Diante
do aumento do número de sem-teto nos países industrializados, bem como nos países
em desenvolvimento, Igreja e sociedade devem colaborar e definir objetivos comuns,
"possíveis e alcançáveis".
No documento, pede-se também um trabalho de equipe
"entre instituições eclesiais, acabando com a tendência de trabalhar sozinho, por
vezes com espírito de competição". Também as iniciativas ecumênicas devem ser encorajadas.
Propõe-se
às dioceses que coloquem à disposição os prédios e os bens eclesiais não utilizados.
Em nível local, as paróquias devem acolher os sinais de dificuldade ainda antes dos
sinais de sofrimento. Os sacerdotes e diáconos devem estar prontamente disponíveis
para com os sem-teto.
"De um ponto de vista eclesial, lê-se ainda, o compromisso
em favor dos sem-teto deve ser baseado na verdade fundamental de que neles se torna
presente o Cristo sofredor e ressuscitado: eis o motivo pelo qual devem ser tratados
como "sujeitos únicos" e, portanto, devem ser colocados em condições de poder se expressar
na Igreja e nos eventos públicos."
Por fim, o Pontifício Conselho da Pastoral
para os Migrantes e os Itinerantes se propõe a fazer uma lista das organizações que
atuam com os sem-teto, e a dedicar todos os anos uma semana à sensibilização sobre
suas necessidades pastorais.
"O presente encontro não deveria ser o primeiro
e o último; é importante que tenha uma seqüência", conclui o documento. (RL/BF)