Hoje, eleições politicas e provinciais no Paquistão:Igreja apela ao voto
(18/2/2008) Mais de 80 milhões de paquistaneses são chamados hoje às urnas para votar
em eleições legislativas e provinciais cruciais para a única potência nuclear do mundo
muçulmano, que enfrenta uma profunda crise política e uma vaga de atentados presumivelmente
ligados à Al-Qaida. O escrutínio é tanto mais importante quanto o Paquistão tem estado
nos últimos meses sob alta vigilância da comunidade internacional. Os Estados Unidos
multiplicaram os comentários e pressões sobre o presidente Pervez Musharraf, seu aliado
chave na “guerra contra o terrorismo”, considerando Washington que os fundamentalistas
ameaçam um Estado essencial para a estabilidade da região e que a Al-Qaida e os talibãs
reconstituíram as suas forças na zonas tribais do noroeste paquistanês que faz fronteira
com o Afeganistão. O cenário “ideal” caiu por terra a 27 de Dezembro quando a ex-primeira-ministra
e líder da oposição, Benazir Bhutto, foi assassinada num atentado suicida. Sob
pressão norte-americana, Pervez Musharraf negociava com Benazir Bhutto uma partilha
de poder por ocasião das legislativas previstas na altura para oito de Janeiro. O
escrutínio foi adiado para 18 de Fevereiro, mas o Partido do Povo Paquistanês conduzido
agora pelo viúvo de Benazir, Asif Ali Zardari, tem alertado para a possibilidade de
fraude eleitoral. Dezenas de milhares de soldados foram destacados para todo o país
como reforço para assegurar a segurança das 64 mil assembleias de voto e do milhar
de observadores internacionais. A demonstração de força acontece durante a maior vaga
de atentados, sobretudo suicidas, que afecta o país há meses. Os bombistas suicidas
presumivelmente de grupos próximos da Al-Qaida e dos talibãs fizeram de 2007 o ano
mais mortífero da história do Paquistão em termos de terrorismo, com mais de 800 mortos.
Uma centena de pessoas morreu em atentados desde o início deste ano. Nesta República
islâmica com cerca de 160 milhões de habitantes, a campanha eleitoral foi fraca, sobretudo
depois da morte de Benazir Bhutto, com os políticos a recearem organizar grandes comícios
e os paquistaneses mais preocupados com a degradação rápida do seu poder de compra
e a sua segurança que com as lutas políticas.
O secretário da Comissão Episcopal
Justiça e Paz no Paquistão, Peter Jacob, exortou os cristãos a participarem activamente
nas eleições desta Segunda-feira. "É necessário reforçar o sistema democrático
que as forças extremistas querem danificar. As pessoas precisam de entender que o
voto tem uma função importante na reforma do sistema. Não concordamos com aqueles
que querem boicotar as eleições, e convidamos todas as pessoas a expressarem as suas
preferências nas urnas", declarou Jacob. O secretário da Comissão Episcopal sublinhou,
como ponto positivo, o recente envolvimento das minorias religiosas no movimento pelos
direitos civis, que luta pela independência do sistema judiciário, pelo Estado de
direito e pela liberdade de expressão. O Pe. Bonnie Mendes, director do "Centro
de Desenvolvimento Humano" (Human Development Centre), disse que vários progressos
foram realizados no que diz respeito ao direito eleitoral, pois antes existiam cédulas
separadas para as minorias religiosas. O sacerdote ressaltou ainda que o povo não
está satisfeito com os representantes do presidente Pervez Musharraf nas duas Câmaras
do Parlamento. "Os cristãos ainda precisam de trabalhar muito para participar
activamente na vida política", concluiu.