BENTO XVI: HUMILDADE DE CRISTO PARA COM APÓSTOLOS É CHAVE PARA COMPREENDER ESSÊNCIA
DO SACERDÓCIO
Cidade do Vaticano, 16 fev (RV) - Bento XVI concluiu neste sábado os exercícios
espirituais da Quaresma, no Vaticano, pregados pelo cardeal jesuíta, Albert Vanhoye.
O
papa agradeceu calorosamente ao purpurado, que precedentemente havia feito a última
meditação sobre o tema da relação entre o sacerdócio ministerial e o coração sacerdotal
de Cristo.
Referindo-se à imagem de Jesus que, inclinado, lava os pés dos apóstolos,
presente na Capela Redemptoris Mater, o papa disse: "Através de suas meditações,
essa imagem me falou. Vi que justamente aí, nesse comportamento, nesse ato de extrema
humildade se realiza o novo sacerdócio de Jesus. E se realiza justamente no ato da
solidariedade conosco, com as nossas fraquezas, o nosso sofrimento, as nossas provações,
até a morte. Assim, vi com olhos novos também as vestes vermelhas de Jesus, que nos
falam de Seu sangue. O senhor, cardeal, ensinou-nos que o sangue de Jesus era, devido
a Sua oração, 'oxigenado' pelo Espírito Santo. E assim tornou-se força de ressurreição
e fonte de vida para nós".
Bento XVI louvou a "competência teológica" e a "profundidade
espiritual" que caracterizaram as reflexões do Cardeal Vanhoye: "Elas nos permitiram
entrar na participação do sacerdócio de Cristo e, assim, também receber o novo coração,
o coração de Jesus, como centro do mistério da Nova Aliança".
E justamente
sobre a estreita relação entre o coração de Jesus e o ministério dos sacerdotes, o
purpurado jesuíta havia permeado a última meditação desta manhã.
Ele ressaltou
que, no Antigo Testamento, o sacerdócio não tem nenhuma relação com o coração. Trata-se
de uma constatação triste, mas verdadeira, observou o cardeal. Naqueles textos milenares
se fala comumente do coração do rei, por vezes com poesia e retórica, mas jamais do
coração de quem administra o culto: "O culto antigo não tem nenhuma relação com o
coração. O culto é definido pela lei, se faz com ritos convencionais, externos. O
sacerdote deve cumprir ritos e basta. Jesus substituiu esse rito externo, convencional,
com um culto pessoal, existencial, que parte de Seu coração".
Jesus assume
um coração de carne para renovar os corações de toda pessoa, passando por um momento,
o momento da Paixão, muito contrário ao amor, porque dominado pela crueldade e pelas
torturas, explicou o purpurado.
É aí que Cristo se torna sacerdote perfeito
e o Seu coração, na Igreja de todos os tempos, continua se manifestando por meio da
mediação dos ministros, chamados a ter as mesmas qualidades de seu cabeça: um coração
humilde para com Deus, um coração manso para com o próximo: "Para ser sacramento de
Cristo sacerdote, o bispo, o presbítero devem estar unidos ao coração de Cristo em
suas duas disposições fundamentais: a docilidade para com Deus, a misericórdia para
com os homens. Deve ter um coração filial para com Deus Pai e um coração fraterno
para com as pessoas humanas", reiterou.
O cardeal prosseguiu afirmando que
Jesus associa os apóstolos e, por conseguinte, os bispos e os sacerdotes, a Seu sacerdócio.
E mais, com a Última Ceia, Ele coloca literalmente o próprio corpo, o próprio coração,
nas mãos dos presbíteros para que o distribuam aos outros. "No fundo, a vida cristã
consiste em receber e em ter no próprio coração o coração de Jesus", concluiu o Cardeal
Vanhoye. (RL/BF)