Quaresma tempo de acolhimento da Ternura de Deus: Mensagem quaresmal do Bispo
de Leiria-Fátima
(12/2/2008) “Eis agora o tempo favorável; eis o tempo da Salvação” (2 Cor
6, 1-2). A liturgia cristã propõe estas palavras do apóstolo S. Paulo para nos introduzir
no caminho da Quaresma que nos prepara, pouco a pouco, ao longo de 40 dias, para celebrar
a Páscoa da Ressurreição. Para muitos, falar de Quaresma evoca, imediatamente,
um conjunto de sacrifícios, jejuns e penitências a praticar como se fosse um tempo
de tristeza. No entanto, à luz das palavras do apóstolo, somos convidados a olhá-lo,
sobretudo, como um tempo especial de graça salvífica. A Quaresma é, antes demais,
um dom a receber do que coisas a fazer, mesmo se estas também são necessárias. É
o próprio Deus que convida a Sua Igreja a fazer um “retiro no deserto” com Cristo,
durante quarenta dias. É Ele mesmo que cuida da Sua Igreja e a submete a uma cura
de rejuvenescimento e embelezamento. Oferece-lhe uma terapia espiritual de purificação,
renovação e santificação. Nesta linha, a Quaresma é um tempo forte, tempo propício
para cada um se reencontrar consigo mesmo, interrogar-se sobre a qualidade da sua
vida cristã, pôr ordem na própria vida e pôr a vida em ordem, sair da mediocridade
e, assim, responder ao chamamento de Deus à santidade, quer dizer, a uma vida espiritual
de qualidade de filho de Deus. Quaresma da Ternura de Deus: um “retiro popular”
Para nos abrirmos à acção de Deus e de Seu Espírito em nós e nos nossos corações
o caminho da Quaresma é feito à maneira de um retiro espiritual, com tempos particulares
de escuta da Palavra de Deus, de oração e meditação, de busca de reconciliação. Para
concretizar esta pedagogia da santidade, ousei lançar a proposta de, na Quaresma deste
ano, se realizar na Diocese um grande “retiro popular”, isto é, acessível a todo o
povo de Deus sobre o tema: “acolher, saborear e testemunhar a ternura de Deus”, em
ordem a interiorizar a espiritualidade do acolhimento e da vocação, que constituem
a temática do ano pastoral. Com esta iniciativa queremos proporcionar a todos
os fiéis a possibilidade de fazer um “retiro espiritual” na vida quotidiana, sem sair
dos lugares e ocupações habituais, dedicando determinados momentos a essa finalidade
na própria casa, nas igrejas ou noutros locais, em grupos ou em assembleias. Para
esse efeito já estão publicadas as meditações quaresmais sob a forma de leitura familiar
e orante da Palavra de Deus (lectio divina), a partir de alguns textos bíblicos. Peço
encarecidamente aos párocos e a todos os agentes pastorais nasparóquias o melhor empenho
na sensibilização e na organização deste retiro. Quaresma de partilha fraterna Na pedagogia da santidade, o caminho de conversão quaresmal inclui também um estilo
sóbrio de vida – é este o sentido do jejum e da abstinência – e a partilha solícita
com as necessidades do mundo e da Igreja, como testemunho da ternura de Deus e expressão
do amor fraterno. Este aspecto concretiza-se na chamada “renúncia quaresmal” que
cada fiel é chamado a fazer para partilhar os bens materiais com os mais necessitados.
O produto desta renúncia, na nossa diocese, será destinado à diocese de Karanganda
no Cazaquistão. Assim correspondemos ao pedido de ajuda dirigida pelo Bispo D. Atanásio
quando aqui esteve na peregrinação de 13 de Outubro passado. A Igreja Católica no
Cazaquistão é minoritária e pobre, com grandes dificuldades económicas para construir
e manter as estruturas necessárias tais como o Seminário e um Santuário dedicado a
Nossa Senhora de Fátima. Maria, Mãe da Ternura e Estrela da Esperança, ilumine
os nosso passos no caminho quaresmal para sermos cada vez mais discípulos fiéis de
Jesus Cristo. Leiria, 4 de Fevereiro de 2008