PRIMAZ ANGLICANO PROPÕE APLICAR ALGUNS ASPECTOS DA XARIÁ, PARA FAVORECER COESÃO
Londres, 08 fev (RV) - O primaz da Igreja Anglicana no Reino Unido Dr. Rowan
Williams, arcebispo anglicano de Cantuária, desencadeou uma polêmica, nesta quinta-feira,
ao afirmar que, no seu parecer, parece inevitável a introdução no país de alguns aspectos
da xariá (a lei islâmica), para favorecer a coesão social.
A inusitada proposta
do líder cristão mais respeitado da Grã-Bretanha permitiria que os muçulmanos resolvessem
disputas conjugais ou financeiras segundo o Alcorão e não por meio das cortes civis.
Em
declarações à Rádio 4 da BBC, o primaz anglicano disse não estar defendendo os aspectos
mais radicais da xariá, que tem sido associada a punições físicas na Arábia Saudita
e a violações dos direitos da mulher. "Ninguém mentalmente saudável" gostaria de ver
isso _ declarou.
Ele recordou que já há exemplos na Grã-Bretanha, em que as
leis religiosas de uma comunidade foram reconhecidas pela legislação geral, para justificar,
por exemplo, casos de objeção de consciência. O arcebispo destacou que já existem
no país, tribunais ortodoxos judeus.
O diretor da "Fundação Ramadhan", Mohammed
Shafiq, saudou os comentários do arcebispo e os definiu como mais uma demonstração
do esforço das duas crenças, para construir respeito e tolerância. Segundo ele, o
uso da xariá reduziria as tensões na sociedade britânica, por dar aos muçulmanos a
sensação de que sua fé é respeitada.
A xariá foi introduzida com êxito em alguns
países ocidentais, como matéria de Direito Civil. Creio que os muçulmanos se sentiriam
muito confortados, se o governo permitisse que alguns assuntos civis se resolvessem
de acordo com a sua fé" _ disse Shafiq.
O porta-voz do primeiro-ministro Gordon
Brown, repudiou a proposta de imediato. "O primeiro-ministro acredita que neste país
deve ser aplicada a lei britânica, baseando-se em valores britânicos" _ disse Michael
Ellam, admitindo, contudo, que se possam fazer concessões em certos casos, como no
campo das finanças.
Ele recordou que o Executivo modificou a lei, para facilitar,
por exemplo, as hipotecas islâmicas que, por seu especial mecanismo, tinham de pagar
duas vezes o imposto sobre a compra, o que acontece mais. A idéia também foi rejeitada
pela oposição. (CM/AF)