COMUNIDADE JUDAICA PROTESTA E CARDEAL KASPER ESCLARECE MUDANÇAS NA ORAÇÃO DE SEXTA-FEIRA
SANTA
Cidade do Vaticano, 08 fev (RV) - Insatisfeitos com a nova versão autorizada
por Bento XVI para a oração que pede a conversão dos judeus ao Catolicismo, rabinos
e líderes da comunidade judaica da Itália propuseram uma pausa de reflexão no diálogo
entre as duas religiões.
A parte do missal que gerava polêmica dizia: "Oremos
pelos judeus, para que Deus retire o véu que cobre seus corações e os faça conhecer
nosso senhor Jesus Cristo." Na nova versão, autorizada pelo pontífice, os fiéis rezam
pelos judeus com as seguintes palavras: "Que o Senhor ilumine seus corações, para
que reconheçam Jesus Cristo como Salvador de todos os homens."
Numa nota,
o presidente da Assembléia dos Rabinos da Itália, Giuseppe Laras, diz que o texto
requer, no mínimo, uma pausa de reflexão, que permita compreender as efetivas intenções
da Igreja Católica.
Para Laras, rezar para que Deus ilumine os judeus significa
que eles não estão na luz, ou seja, são cegos. Além disso, a oração continua pedindo
para que os judeus reconheçam Jesus como Salvador, principal motivo das críticas da
comunidade judaica italiana.
Em resposta, o presidente da Comissão para as
Relações Religiosas com o Judaísmo, Cardeal Walter Kasper, argumentou que a intenção
da sexta-feira santa _ pelos judeus _ em sua nova versão, não é um obstáculo ao diálogo.
Segundo ele, o papa quis retirar do antigo Missal Romano, de 1962, as partes que podiam
ser consideradas ofensivas pelos judeus, sem anular "as diferenças" entre a Igreja
Católica e o Judaísmo.
"Temos muito em comum: Moisés e Abraão, os profetas,
o próprio Jesus era um judeu, sua mãe era judia, mas há uma diferença específica:
acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e isso não podemos esconder" _
frisou o cardeal.
"A oração que existia no rito extraordinário era um pouco
ofensiva, porque falava de cegueira. O Santo Padre quis eliminar esta parte, mas quis
também ressaltar a diferença específica que existe entre nós e o Judaísmo, não obstante
tenhamos muitas coisas em comum. Existe respeito pela diversidade e não desprezo.
Tal respeito pela posição e identidade própria de cada um pressupõe diálogo" _ acrescentou
o Cardeal Kasper.
O cardeal admitiu que a história das relações católico-judaicas
é complexa e difícil, com várias sensibilidades, e assinalou que o Santo Padre quis
apenas ressaltar que "Jesus é o Salvador de todos os homens, inclusive dos judeus".
"Isso não quer dizer que tenhamos intenção de fazer missão no mundo judaico" _ assegurou.
Para o Cardeal Kasper, é importante que os cristãos ofereçam a todos "um testemunho
da sua fé", evitando, contudo, "a linguagem do desprezo", que marcou a relação com
os judeus no passado. (CM/AF)