Quaresma: tema da audiência geral da quarta-feira de Cinzas. O Papa lançou um apelo
sobre o Chade
Nesta quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, foi naturalmente a este tempo litúrgico
que Bento XVI dedicou a audiência geral desta semana, na Aula Paulo VI, do Vaticano,
com a participação de uns cinco mil fiéis provenientes da Alemanha, Áustria, Espanha,
França, Inglaterra, Suíça e também Portugal, e ainda dos Estados Unidos. O Papa evocou
a preocupante situação em que se encontra o Chad, invocando o cessar das violência
e solidariedade para o socorro humanitário às vítimas.
“Ser cristãos
realiza-se sempre como um novo tornarmo-nos cristãos: nunca é uma história
concluída, mas um caminho que exige continuamente um novo exercitar-se” – sublinhou
o Papa, falando da Quaresma que agora se inicia. Trata-se – recordou – de um “caminho
de conversão”, de um “momento favorável” para “renovar o nosso abandono filial nas
mãos de Deus e para pôr em prática o que Jesus continua a repetir-nos , exortando-nos
a renegarmos a nós mesmos, tomando a sua cruz para O seguir”.
É na Cruz de
Cristo, no amor que se dá a si mesmo, que renuncia à posse de si mesmo, que se encontra
aquela profunda serenidade que é nascente de generosa dedicação aos irmãos, especialmente
aos pobres e aos necessitados, e isto dá-nos também a alegria. E assim se avança pelo
caminho do amor e da verdadeira felicidade”.
Bento XVI recordou as três práticas
tradicionalmente propostas pela Igreja na Quaresma: oração, jejum e esmola. O Papa,
que recordou ter dedicado precisamente à esmola a sua Mensagem Quaresmal deste ano,
observou que a esmola não só ajuda os pobres mas ajuda também a quem partilha os seus
bens levando-o a desapegar-se das riquezas materiais e a dedicar-se mais aos bens
espirituais.
Referindo-se ao rito quaresmal do início deste tempo – a imposição
das cinzas, nesta quarta-feira - Bento XVI evocou as duas formas propostas para esse
momento (“Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” e “Lembra-te que és pó e ao pó
hás-de voltar”), observando que “constituem um apelo à verdade da existência humana:
somos criaturas limitadas, pecadores sempre carecidos de penitência e de conversão”.
Presentes, nesta audiência geral, diversos grupos de peregrinos portugueses,
aos quais o Papa dirigiu uma saudação especial, na nossa língua:
Queridos
peregrinos de língua portuguesa, saúdo cordialmente a todos, nomeadamente os grupos
das paróquias de Espinho e Ameal no Porto, de Nogueiró e Tenões em Braga, da diocese
de Bragança-Miranda e ainda o Colégio Rainha Santa Isabel de Coimbra. De bom augúrio
é este nosso encontro ao início da Quaresma, que a todos chama a uma conversão mais
profunda, deixando-nos conquistar por Jesus e, com Ele, regressar aos braços de Deus,
Pai terno e misericordioso. Aí temos a alegria que não morre; repletos da mesma, será
impossível não transbordar como uma festa de Deus para os outros. Eu desejo a cada
um de vós esta festa de Deus, deixando a Deus o tempo e o cuidado de insistir com
os demais para que entrem na festa. Uma santa Quaresma!
A situação de confronto
bélico que se vive no Chad mereceu uma referência especial do Papa, que pediu “oração
e solidariedade” para as vítimas e exorta a que se ponha termo à violência:
Estou
particularmente próximo das caras populações do Chad, abaladas por dolorosas lutas
intestinas, que causaram numerosas vítimas e a fuga de milhares de civis da capital.
Confio também à vossa oração e à vossa solidariedade estes irmãos e irmãs que sofrem.
Peço que lhes sejam poupadas ulteriores violências e se lhes assegure a necessária
assistência humanitária, ao mesmo tempo que dirijo um premente apelo a depor as armas
e a percorrer o caminho do diálogo e da reconciliação.
Saudando, em inglês,
uma delegação de líderes políticos provenientes do Líbano, do Iraque e da Jordânia,
o Santo Padre assegurou a sua atenção e oração para “os esforços desenvolvidos para
promover a reconciliação, a justiça e a paz na região” do Médio Oriente.
Nas
saudações finais em italiano, dirigindo-se a um grupo de peregrinos vindos a Roma
por ocasião dos 130 anos da morte do beato Pio IX, cuja memória litúrgica se celebra
amanhã. Bento XVI louvou o “generoso empenho” com que tratam de “chamar a atenção
sobre a figura e exemplaridade das virtudes deste grande pontífice que desempenhou
com heróica caridade a missão de pastor universal da Igreja, tendo sempre como objectivo
a salvação das almas”.
No seu longo pontificado, marcado por acontecimentos
tempestuosos, ele procurou reafirmar com vigor as verdades da fé cristã perante uma
sociedade exposta a uma progressiva secularização. O seu testemunho de indómito e
corajoso servidor de Cristo e da Igreja constitui também hoje um luminoso exemplo
para todos.
Bento XVI fez votos de que se possa “conhecer melhor o espírito
e o rosto” deste seu predecessor, de tal modo que se possam “apreciar ainda mais (disse)
a sua sapiência evangélica e a sua fortaleza interior”.