O autêntico ecumenismo tem as suas raízes na oração: Bento XVI na conclusão da Semana
da Unidade
(25/1/2008) Não existe um ecumenismo genuíno que não tenha as suas raízes na oração”:
recordou Bento XVI, nas Vésperas a que presidiu, sexta-feira à tarde na basílica
de São Paulo fora de muros, na conclusão da Semana de oração pela unidade dos cristãos.
A homilia do Papa centrou-se na figura do Apóstolo Paulo, “escolhido por Deus para
ser sua testemunha perante todos os homens”. Entre os presentes, o cardeal Walter
Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
e o doutor Samuel Kobìa, secretário geral do Conselho Ecuménico das Igrejas, de Genebra.
De Paulo de Tarso, o Papa recordou “a completa transformação, uma autêntica conversão
espiritual” que o tornou de um momento para o outro, “cego mergulhado na escuridão,
mas com uma grande luz no coração”, que o levaria a ser um ardente apóstolo do Evangelho.
São Paulo, porém – observou ainda o Pontífice – tinha consciência de que só a graça
divina tinha podido realizar tal conversão. Um ensinamento que ainda hoje assume um
significado muito particular:
“Na conclusão da Semana de Oração pela Unidade
dos Cristãos, temos ainda mais consciência de quanto a obra da reconstução da unidade,
que exige aliás todas as nossas energias e esforços, é em todo o caso infinitamente
superior às nossas possibilidades. A unidade com Deus ecom os nossos irmãos e irmãs
è um dom que vem do Alto, que brota da comunhão de amor entre Pai, Filho e Espírito
Santo e que nela se dilata e aperfeiçoa. Não está ao nosso alcance decidir quando
ou como esta unidade se realizará plenamente. Só Deus o poderá realizar! Como São
Paulo, também nós colocamos a nossa esperança e confiança ‘na graça de Deus que está
connosco’.”
Actual é também – prosseguiu Bento XVI – o convite dirigido por
São Paulo aos Tessalonicenses, aquele ‘Rezai continuamente’ escolhido como tema da
Semana de oração deste ano. Em que é que se tornaria o movimento ecuménico – interrogou-se
o Papa – sem a oração? Onde se poderia encontrar o indispensável “impulso suplementar”
de fé, caridade e esperança? Daqui a exortação a desejar constantemente a unidade
dos cristãos:
“O nosso desejo de unidade não se deveria limitar a ocasiões
esporádicas, mas sim tornar-se parte integrante de toda a nossa vida de oração. Em
todas as fases da história, foram homens e mulheres formados na Palava de Deus e na
oração os artesãos da reconciliação e da unidade Foi o caminho da oração que abriu
a estrada ao movimento ecuménico, tal como o conhecemos hoje”.
“Não esiste
ecumenismo genuíno que não lance as suas raízes na oração”, prosseguiu o Santo Padre,
evocando algumas figuras-símbolo da Semana de Oração, como o Papa Leão XIII, que já
em 1895 recomendava a introdução de uma novena de oração pela unidade dos cristãos,
ou ainda o Padre Paulo Wattson, que há cem anos ideou o Oitavário pela Unidade da
Igreja. Uma iniciativa retomada e relançada depois, no século XX, pelo Padre Paul
Couturier, de Lyon.
Demos graças a Deus pelo grande movimento de oração que,
desde há cem anos, acompanha e sustenta os crentes em Cristo na sua busca da unidade.
A barca do ecumenismo nunca teria saído do porto, se não tivesse sido impulsionada
por esta ampla corrente de oração e pelo sopro do Espírito Santo”.
A conversão,
a cruz e a oração: são estes os três elementos sobre os quais se realiza a busca da
unidade – prosseguiu Bento XVI, citando João Paulo II. Elementos que fundaram também
a vida e o testemunho da Irmã Maria Gabriela da Unidade, religiosa trapista beatificada
pelo Papa Wojtyla a 25 de Janeiro de 1983, há 25 anos, portanto. Ela “não hesitou
em decidar a sua jovem existência a esta grande causa”.
“Ontem como hoje,
o ecumenismo tem grande necessidade do grande ‘mosteiro invisível’ de que falava o
Padre Couturier, daquela vasta comunidade de cristãos de todas as tradições, que,
sem clamor, rezam e oferecem a sua vida para que se realize a unidade”.
A
concluir, o Santo Padre recordou que a 28 de Junho próximo terãá lugar a abertura
do Ano Paulino, dedicado ao apostolo de Tarso e ao seu “incansável fervor em construir
o Corpo de Cristo na unidade”.