MEDIA NA ENCRUZILHADA ENTRE PROTAGONISMO E SERVIÇO: MENSAGEM DO PAPA PARA DIA MUNDIAL
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
Cidade do Vaticano, 24 jan (RV) - Os meios de comunicação devem estar a serviço
do homem e não serem megafones do materialismo econômico e do relativismo ético, verdadeiras
pragas do nosso tempo: é o que afirma o papa, em sua mensagem para o 42º Dia Mundial
das Comunicações Sociais, a ser celebrado no dia 4 de maio próximo. O tema é "Os media:
na encruzilhada entre protagonismo e serviço. Procurar a Verdade para compartilhá-la."
A
mensagem foi apresentada na manhã desta quinta-feira, na Sala de Imprensa da Santa
Sé, em coincidência com a memória litúrgica de São Francisco de Sales _ padroeiro
da imprensa católica _ pelo presidente e secretário do Pontifício Conselho das Comunicações
Sociais, respectivamente, Dom Claudio Maria Celli e Mons. Paul Tighe.
"A humanidade
se encontra hoje, diante de uma encruzilhada" _ escreve o pontífice: os meios de comunicação,
em função do progresso, oferecem inéditas possibilidades para o bem, mas abrem, ao
mesmo tempo, possibilidades abissais de males que antes não existiam.
De fato,
graças a uma vertiginosa evolução tecnológica, esses meios adquiriram potencialidades
extraordinárias: é inegável _ afirma o papa _ a contribuição deles para a alfabetização,
o desenvolvimento da democracia e para o diálogo entre os povos.
Todavia _
acrescenta _ não devem ser somente meios para a difusão das idéias, mas também instrumentos
a serviço de um mundo mais justo e solidário. Há, ao invés, "o risco de que eles se
transformem... em sistemas voltados a submeter o homem a lógicas ditadas pelos interesses
dominantes do momento".
"É o caso de uma comunicação usada para fins ideológicos
ou para a venda de produtos de consumo, mediante uma publicidade obsessiva. Com o
pretexto de se apresentar a realidade, s tende, de fato, a legitimar e a impor modelos
errados de vida pessoal, familiar ou social.
Além disso, para atrair os ouvintes,
o chamado índice de audiências, por vezes não se hesita em recorrer à transgressão,
à vulgaridade e à violência. Existe, enfim, a possibilidade de serem propostos e defendidos,
através dos media, modelos de desenvolvimento que, ao invés de reduzir, aumentam o
desnível tecnológico entre países ricos e pobres."
Por isso, há que interrogar-se
se é sensato deixar que os instrumentos de comunicação social se ponham a serviço
de um protagonismo indiscriminado ou acabem nas mãos de quem se serve deles para manipular
as consciências. Eles devem, ao invés, permanecer "a serviço da pessoa e do bem comum".
Bento
XVI evidencia uma reviravolta, aliás, uma verdadeira transformação de papel dos meios
de comunicação que suscita a preocupação da Igreja: "Hoje, de modo sempre mais acentuado,
a comunicação parece, às vezes, ter a pretensão não só de apresentar a realidade,
mas também de determiná-la, graças à capacidade e força de sugestão que possui. Constata-se,
por exemplo, que, em certos casos, os media são utilizados, não para um correto serviço
de informação, mas para "criar" os próprios acontecimentos."
A seguir, o papa
ressalta que, por sua incidência sobre as consciências, os instrumentos da comunicação
social assumiram um papel importante, no que define como o "desafio crucial do terceiro
milênio", ou seja, "a questão antropológica".
De fato, está em jogo a dimensão
constitutiva do homem: a vida humana, o matrimônio, a família, a paz, a justiça, e
a salvaguarda da criação.
E "quando a comunicação perde as amarras éticas e
se esquiva do controle social, acaba por deixar considerar a centralidade e a dignidade
inviolável do homem, arriscando-se a influir negativamente sobre sua consciência,
sobre suas decisões, e a condicionar em última análise, a liberdade e a própria vida
das pessoas. Por esse motivo, é indispensável que as comunicações sociais defendam
ciosamente a pessoa e respeitem plenamente sua dignidade".
Nesse contexto,
o pontífice ressalta a necessidade de uma "infoética", tal como existe a bioética
no campo da Medicina e da pesquisa científica relacionada com a vida: "É preciso evitar
que os media se tornem megafones do materialismo econômico e do relativismo ético,
verdadeiras pragas do nosso tempo. Pelo contrário, eles podem e devem contribuir para
dar a conhecer a verdade sobre o homem, defendendo-a face àqueles que tendem a negá-la
ou a destruí-la. Pode-se mesmo afirmar que a busca e a apresentação da verdade sobre
o homem constituem a vocação mais sublime da comunicação social."
Trata-se
de "uma tarefa grandiosa" _ prossegue o papa _ confiada, em primeiro lugar, aos responsáveis
e operadores do setor. Mas tal tarefa, de certo modo, diz respeito a todos nós, porque
todos, nesta época da globalização, somos usuários e operadores de comunicações sociais.
"O
homem tem sede de verdade, anda à procura da verdade; demonstram-no particularmente
a atenção e o sucesso registrados por muitas publicações, programas ou filmes de qualidade,
onde são reconhecidas e bem apresentadas a verdade, a beleza e a grandeza da pessoa,
incluindo sua dimensão religiosa. Jesus disse: "Conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará" (Jo 8, 32). A verdade que nos torna livres é Cristo, porque só Ele
pode corresponder plenamente à sede de vida e de amor que está no coração do homem."
Bento
XVI conclui sua mensagem para o 42º Dia Mundial das Comunicações Sociais com um auspício:
Que "não faltem comunicadores corajosos e testemunhas autênticas da verdade... fiéis
ao mandato de Cristo e apaixonados pela mensagem da fé". (RL/AF)