2008-01-17 20:00:13

NO DISCURSO À COMUNIDADE DA "LA SAPIENZA" PAPA PEDE QUE A RAZÃO JAMAIS DEIXE DE PROCURAR A VERDADE


Cidade do Vaticano, 17 jan (RV) - Bento XVI lança um apelo a não cansar-se de buscar a verdade, no discurso que teria proferido pessoalmente, esta manhã, durante sua cancelada visita à Universidade romana "La Sapienza". A visita foi cancelada em decorrência da falta de "pressupostos para um acolhimento digno e tranqüilo" _ como escreveu o cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, numa carta endereçada ao reitor da Universidade, Renato Guarini.

O discurso do pontífice foi lido por um professor, na Sala Magna da Universidade, durante a inauguração do "ano acadêmico" dessa Universidade, fundada pelo papa Bonifácio VIII, em 1303. As palavras do papa foram longamente aplaudidas por todos os presentes. O texto de Bento XVI é hino à liberdade e à responsabilidade da razão, que não deve fechar-se à grande mensagem que vem da fé.

Em seu discurso, o papa expressa sua gratidão pelo convite a visitar a Universidade "La Sapienza", que considera "dentre as mais prestigiosas Universidades do mundo", por seu "elevado nível científico e cultural". "A "La Sapienza" _ afirma _ "foi a Universidade do papa, mas hoje é uma Universidade leiga" e, como tal, autônoma "de autoridades políticas e eclesiásticas", "ligada exclusivamente à autoridade da verdade": nesse sentido, é uma instituição necessária à sociedade moderna.

Mas _ pergunta-se Bento XVI _ "o que o papa tem a fazer ou a dizer na Universidade"?

"Seguramente _ ressalta _ não deve procurar impor a outros, de modo autoritário, a fé, que pode ser somente doada em liberdade." Sua tarefa, ao invés, é "manter firme a sensibilidade pela verdade".

Cita Sócrates: sobre o interrogar-se desse filósofo grego nasce o primeiro germe da Universidade. É a "sede de conhecimento... que é própria do homem. Ele quer saber o que é tudo aquilo que o circunda. Quer a verdade". Assim, os cristãos dos primeiros séculos _ recorda o papa _ reconheceram-se a si mesmos naquele interrogar-se socrático, naquela "busca árdua da razão, para alcançar o conhecimento da verdade inteira".

O pontífice convida a não perder "a coragem da verdade", a não desviar-se "da busca da verdade", mas a permanecer "em caminho, com os grandes que ao longo da história lutaram e procuraram, com suas respostas e com suas inquietações pela verdade, que remete continuamente, para além de cada resposta individual".

"A verdade _ precisa Bento XVI _ jamais é somente teórica." E citando Santo Agostinho, recorda que "o simples saber... entristece". De fato, "quem vê e toma conhecimento somente de tudo aquilo que se dá no mundo, acaba por tornar-se triste. Mas a verdade significa mais que saber: o conhecimento da verdade tem como finalidade o conhecimento do bem."

"Esse _ especifica _ é também o sentido do interrogar-se socrático: qual é o bem que nos torna verdadeiros? A verdade nos torna bons, e a bondade é verdadeira: é esse o otimismo que vive na fé cristã, porque a ela foi concedida a visão do Logos, da Razão criadora que, na encarnação de Deus, se revelou junto como o Bem, como a própria Bondade."

A seguir, o Santo Padre recorda "o mérito histórico de Santo Tomás de Aquino", que, "diante da diferente resposta dos Padres da Igreja por causa de seu contexto histórico, "evidenciou a autonomia da filosofia da teologia e, portanto, "o direito e a responsabilidade próprios da razão, que se interroga baseada em suas forças".

O papa afirma que "filosofia e teologia devem relacionar-se entre si "sem confusão e sem separação". "Sem confusão" significa que cada uma das duas deve conservar a própria identidade".

"A filosofia deve permanecer verdadeiramente uma busca da razão na própria liberdade e na própria responsabilidade; deve ver os seus limites e justamente assim também a sua grandeza e vastidão."

"A teologia deve continuar recorrendo a um tesouro de conhecimento que ela mesma não inventou, que sempre a supera e que, jamais sendo totalmente exaurível mediante a reflexão, justamente por isso ativa sempre novamente o pensamento."

Ao mesmo tempo, não deve haver separação: "a filosofia não recomeça cada vez do ponto zero" daquele que pensa de modo isolado, fora da história, mas se insere "no grande diálogo da sabedoria histórica" sem "fechar-se diante daquilo que as religiões e, em particular, a fé cristã, receberam e doaram à humanidade como indicação do cominho".

Efetivamente _ afirma o pontífice _ "várias coisas ditas pelos teólogos ao longo da história ou também traduzidas na prática pelas autoridades eclesiais se demonstraram falsas pela história e hoje nos confundem. Mas, ao mesmo tempo, é verdade que a história dos santos, a história do humanismo cresceu baseada na fé cristã, que demonstra a verdade dessa fé em seu núcleo essencial, tornando-a com isso também uma instância para a razão pública".

O papa recorda com gratidão, as conquistas da humanidade no âmbito do conhecimento e dos direitos humanos. "Mas o caminho do homem _ acrescentou _ nunca pode dizer-se completado, e o perigo da queda na desumanidade jamais está totalmente esconjurado."

"O perigo do mundo ocidental... é hoje, que o homem, justamente em consideração à grandeza de seu saber e poder, se renda diante da questão da verdade", prosternado "diante da pressão dos interesses e da atração da utilidade".

Bento XVI cita o filósofo Jürgen Habermas, que fala em âmbito político da "sensibilidade pela verdade", que muitas vezes é sufocada pelos interesses particulares. A mensagem cristã _ afirma _ quer sempre ser "um encorajamento à verdade e assim uma força contra a pressão do poder e dos interesses".

Por isso, convida a não confinar a fé à esfera privada, "com sua mensagem dirigida à razão". De fato, se "a razão _ solícita de sua presumível pureza _ se torna surda à grande mensagem que vem da fé cristã e da sua sabedoria, ela se torna árida" e "não se torna maior, mas menor". Assim, a nossa cultura européia: se se preocupa somente com a sua laicidade, "se se separa das raízes das quais vive", "não se torna mais racional e mais pura, mas se descompõe e se esfacela".

Por fim _ volta a perguntar-se Bento XVI _: "O que o papa tem a fazer ou a dizer na Universidade?"

Simplesmente isto: "Convidar sempre e novamente a razão a colocar-se em busca do verdadeiro, do bem, de Deus e, nesse caminho, exortá-la a notar as úteis luzes surgidas ao longo da história da fé cristã e a perceber, assim, Jesus Cristo como a Luz que ilumina a história e ajuda a encontrar o caminho rumo ao futuro." (RL/AF)








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