PAPA AO CORPO DIPLOMÁTICO JUNTO À SANTA SÉ: DIPLOMACIA DEVE DAR ESPERANÇA
Cidade do Vaticano, 07 jan (RV) - O papa recebeu em audiência, na manhã desta
segunda-feira, os membros do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, composto
por 176 nações, para a troca de votos de Feliz Ano Novo, durante a qual foi apresentado
um panorama do cenário mundial atual.
Bento XVI iniciou seu discurso dirigindo
um pensamento especial às nações que não mantêm relações diplomáticas com a Santa
Sé, afirmando que elas também ocupam um lugar especial em seu coração. O pontífice
traçou um retrato preocupante da situação internacional, abordando mais de uma dezena
de cenários de crise, e afirmou que "a segurança e a estabilidade no mundo continuam
a ser frágeis".
A propósito do continente africano, o Santo Padre mencionou
a situação de Darfur, falando de um "sinistro cortejo de fome e de morte", numa região
onde parece que a esperança "foi quase vencida". Por isso, fez votos de que a operação
conjunta ONU/UA (Nações Unidas-União Africana) recentemente iniciada, leve ajuda e
conforto às populações.
Destacando a violência na Somália, o processo de paz
na República Democrática do Congo e ainda a recente crise no Quênia, o Papa fez um
convite: "Convido todos os habitantes, em particular as autoridades políticas, a buscarem,
através do diálogo, uma solução pacifica, fundamentada na justiça e na fraternidade.
A Igreja Católica não é indiferente aos gemidos de dor que se elevam nessas regiões.
A Igreja faz apelos em favor dos refugiados e desabrigados, e se empenha em favorecer
a reconciliação, a justiça e a paz."
O papa pediu também que o status definitivo
de Kosovo leve em consideração as "legítimas reivindicações" das partes em causa,
garanta "segurança e respeito" pelos direitos de quem habita naquele território, afastando
as perspectivas de guerra e fortalecendo a estabilidade européia.
Lembrando
a "preocupação" da comunidade internacional com a situação no Oriente Médio, o papa
congratulou-se pelas conclusões da recente conferência de Annapolis (EUA), da qual
emergiram sinais de "abandono do recurso a soluções parciais ou unilaterais, em favor
de uma abordagem global, que respeita os interesses e os direitos dos povos da região".
Bento XVI fez um ainda apelo aos israelenses e palestinos: "Apelo, mais uma
vez, a israelenses e palestinos, para que concentrem suas energias na "aplicação dos
compromissos assumidos" (...) "E convido a comunidade internacional a dar apoio aos
dois povos, com convicção e compreensão para com os sofrimentos e temores de ambos."
Iraque,
Irã, Líbano, Afeganistão, Sri Lanka, Mianmar, Coréia do Norte e Chipre foram outras
das situações de crise que o papa abordou, em seu discurso aos diplomatas acreditados
junto à Santa Sé. Bento XVI destacou a importância da paz para a resolução dos problemas
enfrentados por diversas nações e para a construção do futuro da humanidade.
"A
paz não pode ser uma simples palavra ou uma aspiração ilusória, mas sim um compromisso
e um modo de vida que exigem que se satisfaçam as legítimas aspirações de todos, como
o acesso à alimentação, à água e à energia, à tecnologia e aos medicamentos, bem como
o controle das alterações climáticas. Só assim, se pode construir o futuro da humanidade;
só assim, se favorece o desenvolvimento integral, para hoje e para amanhã."
O
apelo do papa tornou-se vibrante, quando falou sobre a bioética: "Gostaria de lembrar,
juntamente com tantos pesquisadores e cientistas, que as novas fronteiras da bioética
não impõem uma escolha entre ciência e moral, mas exigem, antes, um uso moral da ciência.
Por outro lado, alegro-me pelo fato que, no dia 18 de dezembro passado, a Assembléia
Geral da ONU tenha adotado uma resolução, exortando seus Estados-membros a instituírem
uma moratória da aplicação da pena de morte. Faço votos de que essa iniciativa estimule
o debate público sobre o caráter sagrado da vida humana."
Bento XVI exortou
a comunidade internacional a promover um "compromisso global em favor da segurança",
que permita impedir "o acesso dos terroristas a armas de destruição em massa".
Nesse
contexto, saudou o desmantelamento dos programas de armamento nuclear na Coréia do
Norte, e pediu que fossem adotadas "medidas apropriadas", para reduzir os armamentos
convencionais e enfrentar "o problema humanitário apresentando pelas bombas de fragmentação".
O pontífice concluiu seu discurso aos diplomatas, afirmando que "a diplomacia
é, de certo modo, a arte da esperança": "A diplomacia deve dar esperança. A celebração
do Natal vem, anualmente, recordar que, quando Deus se fez criança, a esperança veio
habitar no mundo, no coração da família humana. Essa certeza hoje, se transforma em
oração: que Deus abra o coração dos que governam a família dos povos, para a esperança
que nunca desilude." (JD/AF)