2008-01-02 16:12:15


Família, centro de direitos e deveres, no Dia Mundial da Paz. Bispos Portugueses apontam singularidade familiar como essencial para a paz, e pedem condições sociais para plena realização
 
 


(2/1/2008) A família humana como célula central da promoção da paz é nota comum nas homilias dos Bispos portugueses para o Dia Mundial da Paz, ontem celebrado mundialmente.
D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, alerta para a integração no património da família “não só dos bens materiais necessários mas também dos valores essenciais que configuram a vida e das normas jurídicas e morais que a alicerçam”. Estes valores são imprescindíveis e revelam que a “paz não se inventa, não se improvisa, não se adivinha nem se impõe. A paz educa-se e edifica-se, implora-se e merece-se”, sublinha.
A família humana pede uma valorização “nos seus princípios essenciais, nos seus fundamentos indestrutíveis, nos seus valores cristãos”, de modo a “construir a paz no coração humano e na comunidade humana”.
O Bispo de Aveiro pede à sociedade civil e ao Estado para que não se demitam das suas responsabilidades, mas que também “não menosprezem o esforço da Igreja no serviço da família nas suas mais diversas vertentes e concretamente como educadora da paz das consciências, da harmonia dos esposos, do encontro de gerações, da comunhão entre pais e filhos e do equilíbrio social”.
D. António Marto, Bispo de Leiria – Fátima, lembra que o conceito de família vai além das relações “funcionais ou da mera convergência de interesses. Implica laços profundos de fraternidade, solidariedade, apoio recíproco, respeito sincero que devem guiar as relações entre os povos”.
Numa saudável vida familiar “faz-se a experiência de todos os ingredientes fundamentais da paz: a justiça e o amor nas relações entre irmãos e irmãs, a importância da lei e da autoridade dos pais, o serviço aos mais débeis que, em família, se tornam centro de interesse quando estão em dificuldade, a ajuda recíproca nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher, para fazer renúncias, para perdoar”, aponta o Bispo.
“A paz não se reduz ao silêncio das armas”, é antes “uma cultura e um ambiente a construir, a trabalhar e cultivar, em cada dia, por todos nós”. Daí que o tema seja de grande actualidade e particular relevância “em tempos de crescente globalização, de riscos e crises globais, com efeitos de boomerang”.
D. António Marto aponta ainda que para “experimentar um futuro em dignidade e paz”, a humanidade deve reconhecer-se como “família na sua múltipla unidade e no seu destino comum, deve reconhecer os valores comuns do viver uns com os outros”.
D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, aponta as famílias como princípio construtor de um mundo mais humano. “A família é o lugar primário de humanização da pessoa e da sociedade, onde recebemos os valores, as referências, a integração e a identidade”.
O Bispo explicita que “muitos governos, o nosso concretamente, não dão ainda o necessário reconhecimento e apoio à família, designadamente quanto à natalidade, ao reconhecimento do contributo educativo e às condições de habitação”, mas expõe que a união é obra de todos, precisa da colaboração de cada um, no seu papel próprio”.
“Tudo o que debilita a família deve ser considerado um impedimento para o caminho da paz”, finaliza.
D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa opta por evidenciar que, apesar de “densas nuvens que geram perplexidade e timidez no contexto social” a igreja tem a “responsabilidade eclesial de reavivar a esperança e tornar o mundo uma casa de serenidade e paz”. A igreja “poderá não fazer muitas coisas, mas de for capaz de experimentar a esperança de Cristo e comunica-la ao mundo envolvente está correspondendo às exigências actuais”.
O Presidente da CEP lembra que os cristãos têm a responsabilidade de combater o “indiferentismo ou agnosticismo”. E acrescenta que “a luta não permite o conformismo e a adaptação ao mundo que outros vão criando”.
Ecologia
O ambiente é também focado pelo Arcebispo Primaz, perante o aquecimento global do planeta. “Assistimos a Cimeiras, com bonitos discursos e conclusões bem elaboradas, onde as alterações climatéricas assustam com dados objectivos e repletos de verdadeiro realismo”, aponta o D. Jorge Ortiga, que frisa a exigência de uma “política ambiental criadora de futuro” e “atitudes responsáveis pela protecção do clima”.
D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, refere acontecimentos de relevo “portadores de esperança de paz”. O Cardeal percebe que “são passos limitados, perante o objectivo de construir uma paz sólida e duradoira”, mas são também “são sinais de esperança, porque representam uma consciência colectiva e esforços reais para construir a paz”.
O ambiente é também focado por D. José Policarpo, que evidencia não fazer sentido “salvar a natureza à custa do próprio homem. Ao salvar a natureza, o que se pretende salvar é o homem, toda a família humana”.
O grande desafio para a cultura contemporânea é “integrar, sem medo e sem preconceitos passados, os contributos da fé religiosa para a sabedoria que há-de inspirar e conduzir o desenvolvimento da humanidade”.
A esperança é o “grande contributo dos cristãos para o «progresso sustentável»” e o “vigor da sua esperança alimentado por uma fé harmonicamente integrada na razão”.
Por último, diz o Cardeal Patriarca de Lisboa, “quem destrói a família, afasta-se da paz”.
Medos
D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, evidencia que o abandono e a delinquência enquanto “sinais de novos medos”, são sintoma de que ainda não se reconhece o papel da família na consolidação da paz
“Perguntemo-nos, para começar, se os jovens têm condições reais para constituir família e acolher os filhos, ”, adianta. “Perguntemo-nos se os pais têm a possibilidade de exercer o seu imprescindível direito de educar os filhos, com os apoios institucionais que lhe são devidos, mas exactamente como apoios e não restrições arbitrárias do direito e dever dos pais em transmitir aos filhos os próprios sentimentos, valores e convicções”, explicita o Bispo do Porto.
D. Manuel Clemente relembra o que sucedeu a tantos centros de actividades de tempos livres (ATL), “postos em causa por uma legislação que não teve suficientemente em conta os serviços prestados e os encargos assumidos”.
Recordando que em 2008 se assinalam os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento da Organização das Nações Unidas, o Bispo do Porto afirma que, na pedagogia eclesial e cívica, “há algo a fazer, evidenciando valores básicos de humanidade e responsabilidade, aproximando pessoas e crenças”. A família é um dos valores básicos e reconhecidos na declaração.
O Bispo do Porto aponta por último, o cuidado com o ambiente. Enaltece o trabalho que o Escutismo Católico tem feito nesse sentido, mas afirma ser “obrigação de nós todos, como crentes e cidadãos responsáveis pelo mundo. Das famílias às empresas, das nações à cena internacional, o empenho é imprescindível e urgente neste capítulo”.
D. António Carrilho, Bispo do Funchal, baseia-se na Mensagem de Bento XVI para sublinhar que a família é “referência e instrumento para os esforços de paz ainda tão necessários no nosso tempo”.
Na eucaristia assinalando o Dia Mundial, o Bispo do Funchal referiu que “fazer balanço ao ano 2007 conduz-nos certamente a um compromisso ainda maior na construção de um projecto de vida pessoal e de serviço à comunidade de maior qualidade para que a todos vá chegando resposta às suas carências e problemas”.
( Em Ecclesia )








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