Bento XVI: viver, testemunhar e anunciar Jesus Cristo Salvador
(2/1/2007) Acaba de terminar um ano, sem dúvida denso de ensinamentos, gestos e significados
que tiveram um vasto eco nos meios de comunicação social, provocando interesse, curiosidade,
compartilha e também polémicas. Algumas destas, muitas vezes, revelaram-se superficiais
e inconsistentes, outras, poucas, sérias e significativas. Mas não acaba aqui o sentido
profundo do magistério do Papa, no qual a palavra ocupa um lugar fundamental, actuando
em profundidade, e no silêncio dos corações e das mentes. Antes de perspectivarmos
2008 convém aqui recordar o que foi 2007, salientando antes de mais que o magistério
pontifício não tem medo de confrontar-se. Bento XVI, desde há decénios, desde
a cátedra da Universidade de Bona à cátedra de Pedro, fez do seu empenho sacerdotal,
pastoral e teológico e agora papal, um "momento" aberto ao diálogo com todos, com
aqueles que vivem no corpo eclesial, mas também com aqueles que estão fora. Na
óptica do magistério pontifício, 2007 foi um ano extraordinário, não só porque o Santo
Padre nos deu a sua segunda Encíclica "Spe Salvi" e a Exortação apostólica pós-sinodal
centrada na Eucaristia, "Sacramentum Caritatis", mas também pelo que disse aos povos
latino-americanos, no Brasil por ocasião da V conferencia geral do episcopado regional
e aos povos da Europa durante a sua peregrinação à Áustria para a celebração dos 850
anos do santuário de Mariazell. Além disso, nos últimos doze meses o Papa dedicou
o seu magistério, nas visitas "ad limina Apostolorum, a numerosos povos asiáticos,
do pacifico, africanos ( entre os quais Moçambique) e europeus ( os bispos portugueses
foram recebidos em Novembro); e muitos dos colaboradores mais estritos do Papa visitaram
as Igrejas e as populações daquelas regiões. Passando em resenha os seus empenhos
e discursos emerge o abraço do Papa à humanidade inteira, à qual nunca deixou faltar
a sua palavra ,a sua solicitude, a sua solidariedade espiritual e material, e a sua
oração. Muitíssimas foram as suas preocupações, as suas angústias e os seus temores,
mas entre todos sobressaem aqueles pelos jovens, os pobres, as crianças, os sacerdotes
e as religiosas. Além disso, e trata-se de uma constante do seu pontificado, neste
último ano Bento XVI seguiu mais de perto os sofrimentos dos povos envolvidos em áreas
de crise e atingidos por catástrofes naturais. Recebeu na "sua casa" dezenas de Governantes
e Embaixadores, trocando com eles diagnósticos e perspectivas para a procura da paz
verdadeira e do progresso autêntico. Na "sua casa" a porta do diálogo ecuménico e
inter-religioso , e mais em geral, intercultural esteve sempre aberta para todos.
Na tentativa de perspectivar 2008, pode-se afirmar que o pontificado de Bento
XVI continuará a trilhar este caminho, com o Papa a recordar a tempo e fora de tempo
aquilo que constitui a razão de ser da Igreja: viver, testemunhar e anunciar Jesus
Cristo Salvador universal. E isso desembaraçadamente, sem timidez nem inibições, no
pleno respeito da liberdade de cada um e precisamente em nome do direito fundamental
de poder receber e acolher o anúncio do Evangelho. Em 2008 , Bento XVI visitará
os Estados Unidos da América, a Austrália, a França e as regiões italianas da Ligúria,
Sardenha e Puglia. O Papa atravessa o Atlântico no mês de Abril, para, de 15 a
20 desse mês, visitar Washington e Nova Iorque. Ali, na sede das Nações Unidas, pronunciará
um discurso. Bento XVI será o terceiro Papa a falar da tribuna de oradores daquela
instituição mundial, depois de Paulo VI em 1965 e João Paulo II em 1979 e 1995. De
15 a 20 de Julho visitará a Austrália, para participar, em Sidney, na XXII Jornada
Mundial da Juventude, e em Outubro, em data ainda não definida, visitará França, onde
participará, no santuário mariano de Lourdes, nas celebrações do 150.º aniversário
da aparição de Nossa Senhora a Bernadette Soubirous. Estão previstas também 3
visitas a dioceses italianas: o Papa irá à região italiana da Ligúria, nos dias 17
e 18 de Maio, para visitar Savona e Génova, a capital da região. Um mês mais tarde,
em 14 e 15 de Junho, Bento XVI viajará para a região de Puglia, no sul, para visitar
as cidades de Santa Maria di Leuca e Brindisi. Finalmente, para o dia 7 de Setembro,
está marcada uma visita a Cagliari, capital da ilha da Sardenha. Não obstante
Bento XVI tenha um grande desejo de se deslocar à Terra Santa, não há nenhum projecto
concreto neste sentido . Essa viagem espera por "sinais positivos" da parte de Israel,
e por certas condições, como salientou em conferencia de imprensa, no Vaticano, a
17 de Dezembro, o director da Sala de Imprensa da Santa Sé Padre Frederico Lombardi
. Entre essas condições apresentou "a pacificação da situação na região e o envio,
por parte de Israel, de sinais positivos nas negociações bilaterais", que conheceram,
na 2ª semana de Dezembro, mais um impasse, em Jerusalém. Convém recordar aqui
que a maior parte dos observadores esperava para 2007, um documento de Bento XVI de
carácter social, ocorrendo neste ano, o 40º aniversario da Populorum Progressio de
Paulo VI e o 20º da Sollicitudo Rei Socialis de João Paulo II. Ao contrário, Bento
XVI decidiu prosseguir a reflexão acerca das virtudes teologais iniciada em 2006 com
a Deus caritas est e dedicou a sua segunda encíclica, intitulada Spe Salvi e publicada
a 30 de Novembro à esperança, colocando-a em relação muito estreita com a fé. Central
- no percurso interno da encíclica, bem como no pensamento de Bento XVI - o confronto
com as perguntas do tempo presente, que introduz o tema da diferença cristã em relação
ao desenvolvimento da modernidade, do Iluminismo às ideologias dos séculos XVIIII
e XIX e à liberdade do homem, fundada na esperança de Deus, como antídoto às tantas
presunções cientistas : dois temas que durante o biénio passado, desde a primeira
encíclica absorveram muitas das energias de Bento XVI. Um documento do Papa, de
carácter social , que se esperava para 2007, será realidade em 2008? Não há informação
concreta nesse sentido; estamos apenas no campo das probabilidades. Na viagem
de Bento XVI aos Estados Unidos na próxima Primavera, momento saliente será a visita
à sede das Nações Unidas. Recordo aqui uma frase do discurso do Papa à Cúria Romana
no passado 21 de Dezembro: "Perante os sentimentos e as realidades da violência e
da injustiça que ameaçam a humanidade, devem ser suscitadas forças antagónicas", ou
seja, "forças de reconciliação, de paz, de amor e de justiça". E concluo com uma
brevíssima referência a uma realidade que muito preocupa o Papa: a situação da juventude
no mundo inteiro, que enfrentará numa ocasião muito especial no Verão de 2008, no
encontro mundial da juventude. Aqui em Roma, na festa da Imaculada Conceição,
dizia Bento XVI: "Penso nos jovens de hoje, crescidos num ambiente saturado de mensagens
que propõem falsos modelos de felicidade. Estes rapazes e raparigas correm o risco
de perder a esperança porque parecem muitas vezes órfãos do verdadeiro amor, que enche
de significado e de alegria a vida". António Pinheiro