Cidade do Vaticano, 27 dez (RV) - O ano de 2007, para Bento XVI, foi marcado
pela esperança evangélica: nos últimos doze meses, o papa ofereceu aos fiéis, sua
segunda encíclica _ Spe salvi _ e o livro sobre Jesus de Nazaré. Foi o ano
das viagens apostólicas ao Brasil e à Áustria, da carta aos católicos chineses, da
exortação Sacramentum Caritatis, e de um renovado diálogo ecumênico e com o
mundo muçulmano. Vamos recordar alguns momentos fortes deste 2007, na vida do "papa
da esperança".
Spe salvi (Salvos pela esperança): a encíclica sobre
a esperança foi publicada quase no final de 2007, mas Bento XVI consagrou todo o ano
que está para findar, à esperança. Todo gesto de seu magistério é um convite a esperar
no Senhor, no seu amor. No dia 8 de janeiro, encontrou o corpo diplomático acreditado
junto à Santa Sé, para os tradicionais votos de início de ano. O papa pediu, antes
de tudo, que o mundo não esquecesse a África. Ressaltou as dificuldades, por vezes
dramáticas, com que se depara a humanidade: dos conflitos à fome...
O Santo
Padre convidou a comunidade internacional a "promover e consolidar tudo o que existe
de positivo no mundo e a superar, com boa vontade, sabedoria e tenacidade, tudo o
que fere, degrada e mata o homem".
Bento XVI testemunhou a esperança de Cristo
aos últimos: foi tocante sua visita ao presídio romano para menores "Casal del Marmo",
no dia 18 de março. Nesse mesmo dia, por ocasião da oração mariana do Angelus, falou
de sua exortação pós-sinodal Sacramentum Caritatis, publicada no dia 22 de
fevereiro, e explicou a ligação entre a Eucaristia e o amor cristão, tema de sua primeira
encíclica...
"Eis o motivo porque escolhi como título Sacramentum caritatis,
retomando uma bela definição da Eucaristia, de Santo Tomás de Aquino: "Sacramento
da caridade". Sim, na Eucaristia, Cristo quis dar-nos o seu amor, que o levou a oferecer
a vida, na cruz, por nós."
O dia 13 de abril foi a data da apresentação do
livro do teólogo Joseph Ratzinger: "Jesus de Nazaré". Trata-se, como ressalta o autor
na introdução, do fruto de "um longo caminho interior". A obra torna-se, em poucos
dias, um best-seller em todo o mundo. Apesar da proximidade do dia do seu aniversário,
foi ele quem nos deu um presente. No dia 16 de abril, de fato, Bento XVI festejou
seus 80 anos de vida. Na véspera, na missa na Praça São Pedro, ele agradeceu aos fiéis
que, com amor filial, o acompanham no seu ministério...
"Repetidamente, vejo
com grata alegria, o quanto é grande o número daqueles que me amparam com sua oração;
que, com a sua fé e com o seu amor, me ajudam a exercer meu ministério; que são indulgentes
com a minha fraqueza, reconhecendo também na sombra de Pedro, a luz benéfica de Jesus
Cristo."
Na semana sucessiva, no dia 21 de abril, ele se encontrava em Vigevano
e Pavia, para uma visita pastoral, nas pegadas de Santo Agostinho, um modelo sempre
atual para o povo de Deus. Um santo que nos exorta a esperar no amor de Jesus... "Na
escola de Santo Agostinho, repito esta verdade para vós, como bispo de Roma, enquanto
com alegria sempre nova, a acolho convosco, como cristão. Servir a Cristo é, antes
de tudo, questão de amor."
O mês de maio foi caracterizado pela sexta viagem
apostólica internacional de Bento XVI que, pela primeira vez, partiu para a América
Latina: o Continente da Esperança. O papa visitou o Brasil de 9 a 14 de maio de 2007,
por ocasião da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em
Aparecida, SP, de 13 a 31 de maio.
A visita do pontífice imprimiu novo impulso
missionário à Igreja no continente. Em terras brasileiras, o papa viveu um dos momentos
mais intensos, na Fazenda da Esperança, uma comunidade onde jovens toxicômanos renascem
para a vida, graças à força da esperança evangélica...
"Ali, na Fazenda da
Esperança, os confins do mundo são verdadeiramente superados; abre-se o olhar para
Deus, para a amplidão da nossa vida e assim acontece uma cura."
No dia 17 de
junho, ele foi a Assis, por ocasião do VIII Centenário da Conversão de São Francisco.
O período do verão no hemisfério norte caracteriza-se pela publicação de documentos
pontifícios de grande relevância: em 22 de junho, o Motu Proprio com o qual se estabelece
que será sempre necessária uma maioria de dois terços para eleger o Sucessor de Pedro.
No dia 30 do mesmo mês, um evento de alcance histórico: a publicação da carta do papa
aos católicos chineses. Falando à Cúria Romana, em 21 de dezembro, Bento XVI manifestou
a esperança de que essa carta abra uma nova fase nas relações entre Roma e Pequim...
"A
carta foi acolhida com alegria e gratidão pelos católicos na China. Faço votos de
que, com a ajuda de Deus, ela possa produzir os frutos esperados."
O mês de
julho começou com a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, sobre o
uso da "Liturgia romana anterior à reforma de 1970". Na carta enviada a todos os bispos
do mundo, o papa ressalta que a razão positiva do documento é a reconciliação, referindo-se
às divisões que, no passado, dilaceraram o Corpo de Cristo. No dia 20 de julho foi
publicada a mensagem para o XXIII Dia Mundial da Juventude, de Sydney, sobre o tema
"Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas
testemunhas". Bento XVI lançou ainda uma mensagem forte à juventude, em Loreto, no
dia 2 de setembro, por ocasião da Ágora dos jovens italianos...
"Caminhem contracorrente:
não escutem as vozes interessadas e persuasivas que hoje, de muitas partes, divulgam
modelos de vida marcados pela arrogância e pela violência, pela prepotência e pelo
sucesso a todo o custo, pelo aparecer e pelo ter, em detrimento do ser."
De
7 a 9 de setembro, Bento XVI esteve na Áustria, para a sua sétima viagem apostólica
internacional. Uma visita que teve seu ponto alto na peregrinação ao santuário mariano
de Mariazell. "Guiados e encorajados por Maria _ foi a exortação do pontífice _ queremos
apurar o nosso olhar cristão." No signo da esperança, embora não ignorando as dificuldades,
foram os pronunciamentos do papa sobre os temas-chave do ecumenismo e das relações
com o mundo muçulmano.
A carta à Assembléia Ecumênica de Sibiu e a resposta
aos 138 sábios muçulmanos reiteram a preocupação do Santo Padre em promover um diálogo
fundamentado na verdade e na caridade. No dia 21 de outubro, em Nápoles, no encontro
inter-religioso promovido pela comunidade romana de Santo Egídio, Bento XVI reiterou
que as religiões "devem oferecer recursos preciosos para construir uma humanidade
pacífica"...
"Diante de um mundo dilacerado por conflitos onde, por vezes,
se justifica a violência em nome de Deus, é importante reiterar que jamais as religiões
podem tornar-se veículos de ódio; jamais, invocando o nome de Deus, se pode chegar
a justificar o mal e a violência."
No dia 24 de novembro, se realizou o segundo
consistório de Bento XVI, para a criação de 23 novos cardeais, entre eles 18 eleitores.
A proveniência geográfica dos novos cardeais (um deles foi o arcebispo de São Paulo,
Odilo Pedro Sherer) é expressão da universalidade da Igreja.
Em 2007, além
da criação dos novos cardeais, foram muitas as nomeações significativas na Cúria Romana
e nas arquidioceses e dioceses. Destacamos a do Prof. Gian Maria Vian, para a direção
do "L'Osservatore Romano", e do biblista Dom Gianfranco Ravasi, para chefiar o Pontifício
Conselho para a Cultura.
As últimas semanas do ano são iluminadas pela publicação
da Spe salvi _ um presente do papa aos cristãos e a todos os homens de boa
vontade, por ocasião do Natal. A segunda encíclica de Bento XVI, publicada no dia
30 de novembro, é também coroada de êxito editorial, como o fora a Deus caritas
est. Na oração mariana do Angelus de 2 de dezembro _ primeiro domingo do Advento
_ o pontífice explicava a unicidade da esperança cristã...
"O homem é redimido
pelo amor, que torna boa e bela e vida pessoal e social. Por isso, a grande esperança,
aquela esperança plena e definitiva, é garantida por Deus, que em Jesus nos visitou
e nos deu a vida, e n'Ele voltará no fim dos tempos. É em Cristo que esperamos, é
Ele que esperamos!"
Uma esperança salvífica, que todos têm o direito de conhecer.
É este o significado profundo da "Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização",
publicada no dia 14 do corrente. O documento _ advertiu o papa _ lembra a todo fiel,
que nada nos pode eximir do compromisso fascinante de anunciar a Boa Nova.
O
papa se dirige ao coração do homem que espera pela paz, em sua mensagem para o 41º
Dia Mundial da Paz, publicada no dia 11 deste mês. Bento XVI lembra a centralidade
da família _ verdadeira "agência de paz". Todo homem e toda mulher _ é o convite do
Santo Padre no texto _ se torne consciente da "pertença comum à única família humana"
e se comprometa na "instauração de uma paz verdadeira e duradoura". (PL/AF)