2007-12-21 13:26:18

Papa passa em resenha momentos salientes da sua actividade em 2007, no encontro de Natal com a Cúria Romana, para apresentação das Boas Festas


(21/12/2007) A necessidade da iniciativa missionária da Igreja, a situação dos católicos na China, o diálogo com o Islão, a correcta relação entre fé e empenho cristão no mundo, a importância de uma fé pessoal profundamente radicada em Cristo – foram alguns dos temas recordados por Bento XVI aos cardeais e outros membros da Cúria Romana, recebidos nesta sexta de manhã, no Vaticano, para a tradicional apresentação de votos de boas festas. No seu discurso, como é tradição, o Papa passou em resenha alguns dos principais momentos da sua actividade ao longo deste ano de 2007, detendo-se em particular na sua viagem ao Brasil, para a abertura da V Conferência Geral do Episcopado latino-americano.

O encontro com os jovens brasileiros num estádio de São Paulo mereceu um especial realce pela “grande alegria interior” ali vivida e pela “experiência viva de comunhão” no Espírito de Jesus Cristo. Algo bem diferente das tantas “manifestações de massa que têm apenas o efeito de uma auto-afirmação, em que as pessoas se deixam arrastar pela embriaguez do ritmo e dos sons”.

“A profunda comunhão que naquela tarde se instaurou espontaneamente entre nós, no estar uns com os outros, teve como resultado um estar uns para os outros. Não foi uma fuga diante da vida quotidiana, mas transformou-se na força de aceitar a vida de um modo novo”.

Outro momento da viagem ao Brasil evocado pelo Papa foi o dia passado na “Fazenda da Esperança”, em que (recordou) “pessoas caídas na escravidão da droga reencontram liberdade e esperança”. Referida “a nascente de água límpida” que brota do sacrário da capela das Irmãs Carmelitas que ali se encontram. Uma água que – disse – “desintoxica a água salgada e faz crescer árvores que procuram a vida”. “Devemos defender a criação não só em vista da nossa utilidade, mas por si mesma – como mensagem do Criador, como dom de beleza, que é promessa e esperança” (prosseguiu Bento XVI). “O homem tem necessidade de transcendência”.

A propósito da sua deslocação ao santuário da Aparecida, o Papa confessou como lhe ficou impressa a recordação da pequenina imagem de Nossa Senhora ali venerada:

“É a nossa Senhora dos pobres, que se tornou ela mesma pobre e pequena. Assim, precisamente mediante a fé e o amor dos pobres, se formou à volta desta figura o grande santuário que, evocando sempre a pobreza de Deus, a humildade da Mãe, constitui hoje em dia uma casa e um refúgio para as pessoas que rezam e que esperam”.

Recordando o tema do documento daquele Encontro do episcopado latino-americano em Aparecida – “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que tenham a vida”, o Papa interrogou-se sobre “o que significa ser discípulo de Cristo”. Significa antes de mais chegar a conhecê-lo. Mas como?

“Nunca se pode conhecer Cristo só teoricamente. Com grande doutrina pode-se saber tudo sobre as Sagradas Escrituras, sem nunca O ter encontrado. Faz parte integrante do conhecê-lo o caminhar juntamente com Ele, o entrar nos seus sentimentos, como diz a Carta aos Filipenses”.
E Bento XVI explicitou o modo como o Apóstolo Paulo descreve brevemente, nesta sua epístola (capítulo 2, versículo 5) esses “sentimentos de Cristo”: “ter o mesmo amor, formar conjuntamente uma só alma, caminhar de acordo, nada fazer por rivalidade e vã glória, não pensando cada um só aos seus próprios interesses, mas também aos dos outros”.

“A catequese nunca pode ser apenas um ensinamento intelectual; deve tornar-se sempre também um concretizar da comunhão de vida com Cristo, um exercitar-se na humildade, na justiça e no amor. (…) O encontro com Jesus Cristo requer a escuta, requer a resposta na oração e no praticar o que Ele nos diz. Chegando a conhecer a Cristo, conhecemos Deus, e só a partir de Deus compreendemos o homem e o mundo, um mundo que de outro modo permanece uma pergunta sem sentido”.

Neste contexto, o Papa sublinhou ao importância da actividade “missionária” dos cristãos. Será ainda hoje lícito “evangelizar”, perguntou. “Não deveriam antes todas as religiões e concepções do mundo conviver pacificamente e procurar fazer juntas o melhor que poderem a bem da humanidade, cada uma a seu modo?” “É indiscutível que devemos todos conviver e cooperar na tolerância e no respeito recíprocos” – assegurou Bento XVI, que recordou as suas claras tomadas de posição, ao longo deste ano, nomeadamente em Assis e em Nápoles, evocando a esse propósito a carta recebida, a 13 de Outubro, “da parte de 138 líderes religiosos muçulmanos, testemunhando o seu empenho comum na promoção da paz no mundo”.
“Foi com alegria que respondi exprimindo a minha convicta adesão a estes nobres entendimentos, sublinhando ao mesmo tempo a urgência de um empenho concorde na tutela dos valores do respeito recíproco, do diálogo e da colaboração. O reconhecimento partilhado da existência de uma único Deus, Criador providente e Juiz universal do comportamento de cada um, constitui a premissa de uma acção comum em defesa do efectivo respeito da dignidade de cada pessoa humana para a edificação de uma sociedade mais justa e solidária”.

Contudo, fez questão de precisar o Papa, esta vontade de diálogo e de colaboração não significa que já não possamos transmitir a mensagem de Jesus Cristo, propondo a esperança que d’Ele deriva. “Quem reconheceu uma grande verdade, quem encontrou uma grande alegria, deve transmiti-la, não pode guardá-la para si” – observou.


“Para chegar ao seu cumprimento, a história tem necessidade do anúncio da Boa nova a todos os povos, a todos os homens. E de facto: quanto é importante que confluam na humanidade forças de reconciliação, forças de paz, forças de amor e de justiça! Quanto é importante que no ‘balanço’ da humanidade, perante os sentimentos e realidades de violência e de injustiça que a ameaçam, sejam suscitadas e se consolidem forças antagonistas!
É precisamente isto o que tem lugar na missão cristã. Mediante o encontro com Jesus Cristo e com os seus santos, mediante o encontro com Deus, o balanço da humanidade beneficia das forças do bem, sem as quais todos os nossos programas de ordem social não se tornam realidade, mas – perante a pressão prepotente de outros interesses contrários à paz e à justiça – permanecem só teorias abstractas”.

Neste contexto, Bento XVI retomou a questão já anteriormente referida: se o encontro de Aparecida terá feito bem ao dar a prioridade ao seguimento de Cristo e à evangelização, na busca da vida para o mundo. Terá sido um fechar-se erradamente na interioridade? – interrogou-se o Papa.

“Não! Aparecida decidiu bem, porque é precisamente através do novo encontro com Jesus Cristo e o seu Evangelho – e só assim – que se suscitam as forças que nos tornam capazes de dar a resposta apropriada aos desafios do tempo”.

Quase a concluir, Bento XVI referiu ainda a sua Carta aos pastores e fiéis da Igreja Católica da República Popular Chinesa. Congratulando-se com o bom acolhimento que os fiéis católicos reservaram a esta sua mensagem, o Papa sublinhou que ali indicava “a disponibilidade da Santa Sé a um diálogo sereno e construtivo com as Autoridades civis para encontrar uma solução aos diversos problemas que dizem respeito à comunidade católica”.
Bento XVI referiu ainda a sua “maravilhosa” visita à Áustria, e diversos encontros com os Jovens, nomeadamente em Loreto, e finalmente o encontro de Nápoles, exprimindo a sua satisfação pela experiência de fé e de esperança que estes diferentes momentos proporcionaram.

“È claro que há que não ter ilusões: não são pequenos os problemas levantados pelo secularismo do nosso tempo e pela pressão de presunções ideológicas a que tende a consciência secularista, com a sua pretensão exclusiva à racionalidade definitiva! Sabemos isso, e conhecemos a fadiga da luta que neste tempo se nos impõe. Mas também sabemos que o Senhor mantém a sua promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.








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