Director da Obra Católica Portuguesa de Migrações defende uma solução conjunta entre
"paises do Mediterrâneo", para o problema da imigração ilegal
(18/12/2007) Manifestar “caridade perante quem arrisca tudo” é a postura do Padre
Francisco Sales, director da Obra Católica Portuguesa de Migrações – OCPM, perante
a chegada de 23 imigrantes clandestinos à costa algarvia. Os 23 cidadãos de origem
africana foramdetectados nesta segunda feira dia 17 junto à Ilha da Culatra. Os
18 homens e cinco mulheres partiram de Kenetra, a 40 quilómetros de Rabat, Marrocos,
e terão viajado durante cerca de quatro dias até alcançar o Algarve, numa pequena
embarcação a motor. O destino era alcançar a costa espanhola, mas as más condições
climatéricas, desviou a embarcação da rota. O director da OCPM frisou à Agência
ECCLESIA que “por detrás de cada vida está um grande drama humano”, pois quem se lança
ao mar em situações tão precárias, arrisca a própria vida na busca de melhores condições.
Este é o primeiro acontecimento do género registado em Portugal. O director
nacional do SEF, Manuel Jarmela Palos, refutou hoje que Portugal seja um alvo da imigração
clandestina por mar e assume este como um "episódio esporádico". Espanha e Itália
fecham fronteiras marítimas, aumentam o policiamento nas suas costas, deixando como
alternativa aos imigrantes, a costa portuguesa, mesmo que de passagem. Este quadro
é lançado pelo próprio Comandante da Marinha, Silvestre Correia. O repatriamento
“é a lógica de lei”, assume o Padre Francisco Sales, mas frisa esperar que o “tratamento
prestado seja pautado pela caridade e dignidade humana”, que cada pessoa merece. Solução
entre países do Mediterrâneo Perante uma nova situação, mas que não se ficará
por aqui, assegura, a resposta deve ser encontrada numa “aliança dos países do Sul”.
O problema não deve ser resolvido “à chegada”, mas na sua raiz, “evitando as travessia
de risco e garantindo condições de subsistência nos países de origem”. O drama à chegada
“é sempre maior”, sublinha. A solução não passa “pela abertura das fronteiras,
pois o país não comporta condições” mas a caridade cristã e o humanismo devem centrar-se
“na origem dos imigrantes”, junto dos governos. Sobre a Cimeira Europa / África
que Lisboa acolheu, apesar do assunto estar incluído na agenda, acredita que a solução
deve ser encontrada entre governos dos países do Sul da Europa e do Norte de África,
de forma “particular”. Os países do Norte “não se confrontam com a mesma realidade
que os países do Sul enfrentam”. O Pe. Francisco Sales afirma-se relutante quanto
a Cimeiras com “muitos governos”, pois acredita que os interesses económicos, “neste
encontros prevalecem sempre”. Dia Internacional dos Migrantes Este
acontecimento na costa portuguesa ocorre na véspera do assinalar do Dia Internacional
dos Migrantes. Uma efeméride, assinalada no mundo inteiro, num momento da história
com “uma sensibilidade diferente do passado”. O dia de hoje contribui para uma
“tomada de consciência da sociedade” para reflectir sobre a condição humana condicionada
pelo desenvolvimento da economia. Franjas da população são “extremamente ricas quando
muitos vivem na extrema pobreza”, alerta o director da OCPM. Igreja e sociedade
estão alertas para este drama. Basta, por exemplo, ler a mensagem de Bento XVI para
o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, celebrado a 13 de Janeiro, onde se percebe
a “sua preocupação e a dimensão da imigração presente na juventude”, frisa. O
quadro do imigrante «pai de família» que sai do seu país à procura de melhores condições
de vida para depois receber a família, está a mudar. Actualmente são os jovens, mais
mulheres, “algumas ainda adolescentes”, que se lançam na aventura de mudar de vida
em diferentes locais. Este quadro é traçado pelo director da OCPM que alerta para
as redes de exploração. Outro sintoma do alerta que corre na Europa é a movimentação
gerada ao nível dos governos – as Presidências da União Europeia têm mantido esta
preocupação na agenda política e na reflexão. Em Portugal, a 3 de Agosto, entrou
em vigor a nova Lei de Imigração, aquela que o Pe. Francisco Sales adjectiva de “melhor
da Europa”. Foram hoje entregues as primeiras autorizações de residência a cidadãos
estrangeiros.