(7/12/2007) A Igreja “peregrina entre as perseguições do mundo e as consolações
de Deus”, escrevia Santo Agostinho, citado pelo Vaticano II: uma constatação que bem
corresponde ao que exprimiram os participantes na recente reunião (décima primeira)
do Conselho especial para a Ásia da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, a 20 de
Novembro passado, no Vaticano. Na Ordem do Dia, a situação da Igreja na Ásia, com
especial referência à aplicação da Exortação Apostólica pós-sinodal, “Ecclesia in
Ásia”. As comunicações e o debate efectuado permitiram delinear uma ampla panorâmica
da vida eclesial neste imenso continente, assim como das condições de vida na sociedade
civil, em muitos aspectos favoráveis à actividade da Igreja. Apontadas também preocupações,
ligadas a variadas situações: guerra, corrida aos armamentos, recontros étnicos, violência,
terrorismo, assim como também repressões e diferentes formas de limitação da liberdade
de consciência. Uma variegada realidade eclesial que revela o contraste entre os sofrimentos
de certos casos de perseguição e as alegrias de muitas realidades positivas.
As
“perseguições” afectam sobretudo as minorias, quando os cristãos são praticamente
constrangidos a abandonar o seu país de origem, vítimas de violências da parte de
grupos fundamentalistas. A falta de liberdade religiosa exprime-se em várias formas:
limites à comunicação entre os bispos e destes com o Papa; impossibilidade de erigir
Conferências episcopais; dificuldade de obter vistos para os agentes pastorais; limites
à construção de lugares de culto; impedimentos à presença na vida pública. Também
as catástrofes naturais, como o tufão que tantas vítimas causou, recentemente, no
Bangladesh, constituem um desafio para a caridade cristã da Igreja Católica na Ásia
e no mundo inteiro. As “consolações de Deus”, para as Igrejas na Ásia, correspondem
a tantas realidades benéficas, como o acolhimento fraterno dos cristãos que fugiram
para salvar a vida; o aumento do número de católicos em regiões onde, até agora, eram
muito poucos; a fidelidade até ao dom da vida - como no caso dos quatro padres assassinados
na Ásia, em 2006, cujo sacrifício, unido ao de outros cristãos, através do mundo,
promete uma nova vitalidade de vida cristã, na certeza de que “o sangue dos mártires
é semente de novos cristãos”. Adverte-se, de facto, um aumento de vocações sacerdotais
e religiosas que permite que os próprios asiáticos se tornem missionários noutras
Igrejas particulares, não só na Ásia mas também noutros continentes.
A Igreja
continua aberta ao diálogo com as grandes religiões da Ásia, dando um contributo notável
à tolerância e à concórdia civil, ao reforço do Estado de direito e do processo de
democratização da sociedade. O influxo da Igreja, pela sua actividade social nas
escolas e hospitais, a favor da promoção humana, estende-se mesmo fora da comunidade
dos cristãos, que são como que um gérmen de uma nova sociedade assente nos valores
da paz, justiça, liberdade e caridade. A aplicação da “Ecclesia in Ásia” está
produzindo abundantes frutos, sobretudo através de programas de actividade diocesana
ou de Cartas Pastorais dos bispos. A Exortação pós-sinodal constitui um documento
apreciado não só pelo conteúdo teológico, mas também pelas indicações práticas, pois
nele se encontram referências aos temas hoje em dia mais sentidos pela Igreja na Ásia:
vida, paz, ambiente, educação, saúde, juventude, família, justiça, diálogo inter-religioso
e concórdia civil.