“Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”. Publicada
a segunda Enciclica de Bento XVI - SPE SALVI facti sumus » é na esperança
que fomos salvos.
(30/11/2007) O Papa assinou na manhã desta sexta feira dia 30 de Novembro na Biblioteca
do Palácio Apostólico , a sua segunda encíclica: SPE SALVI facti sumus » ,
uma passagem da Carta de São Paulo ao Romanos (Rm 8,24):
é na esperança que fomos salvos. A redenção, a salvação, segundo a fé cristã
–explica o Papa na introdução não é um simples dado de facto. “A redenção é-nos oferecida
no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos
enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e
aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for
tão grande que justifique a canseira do caminho” (1) Portanto, elemento distintivo
dos cristãos, é o facto de que eles têm um futuro….sabem -….que a sua vida não acaba
no vazio. O Papa sublinha que a mensagem cristã não é só , « informativa »,
mas « performativa ». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação
de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida.
A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança,
vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova. ( 2)“Chegar a conhecer Deus,
o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”. Isto compreendiam-no muito bem
os primeiros cristãos, como os Efésios, que antes de encontrar Cristo tinham muitos
deuses mas viviam “sem esperança e sem Deus”. O problema para os cristãos de antiga
data – sublinha – é o hábito ao Evangelho: a esperança “que provém do encontro real
com ….Deus, quase deixa de ser perceptível . Aqui o Papa cita uma primeira testemunha
da esperança cristã: Santa Josefina Bakhita. Nascida em 1869 no Darfur, no Sudão,
foi raptada aos nove anos e vendida como escrava: depois de provações terríveis chega
á Itália onde conhece “a grande esperança”, e pode dizer “eu sou definitivamente amada
e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor”. (3). O Papa
recorda que Jesus não trouxe “uma mensagem social-revolucionaria, como Espártaco,
e não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba”.
Trouxe algo de totalmente distinto:….. o encontro com o Deus vivo …. o encontro com
uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso
mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo,” embora as estruturas externas
ficassem as mesmas” (4) Cristo torna-nos verdadeiramente livres: “ nós somos
escravos do universo e das leis da matéria e da evolução. São Gregório Nazianzeno
vê nos Reis Magos guiados pela estrela “ o fim da astrologia, uma concepção – afirma
o Papa – novamente no auge também hoje: não são os elementos do cosmo …que definitivamente
governam o mundo e o homem, mas um Deus pessoal governa as estrelas, isto é o universo.
Somos livres porque o céu não está vazio, porque o Senhor do universo é Deus que “em
Jesus se revelou como Amor (5) Cristo é “o verdadeiro filosofo” que “nos
diz quem é na realidade o homem e o que ele deve fazer para ser verdadeiramente homem.Ele indica ainda o caminho para além da morte; só quem tem a possibilidade de
fazer isto é um verdadeiro mestre de vida”.(6) E oferece-nos uma esperança
que é ao mesmo tempo expectativa e presença: porque o facto de que este futuro existe,
muda o presente”. De facto, “pela fé…já estão presentes em nós, num estádio inicial,
“as coisas que se esperam: o todo, a vida verdadeira. (7) Esta esperança
permite a tantos cristãos enfrentar as perseguições e o martírio opondo-se à prepotência
da ideologia e dos seus órgãos políticos e tornando-os assim capazes de renovar o
mundo (8) O Papa salienta que talvez “hojemuitas pessoas rejeitam
a fé, talvez simplesmente porque a vida eterna não lhes parece uma coisa desejável.
Não querem de modo algum a vida eterna, mas a presente; antes, a fé na vida eterna
parece, para tal fim, um obstáculo”.(10 A esperança torna-se assim fé no progresso,
baseada em duas colunas. A razão e a liberdade parecem garantir de per si, em virtude
da sua intrínseca bondade, uma nova comunidade humana perfeita. O reino da razão é
esperado como a nova condição da humanidade tornada totalmente livre ( 17-18) Duasetapas essenciais da concretização politica deste esperança foram a Revolução
Francesa (19) e a revolução marxista. Perante os desenvolvimento da Revolução
francesa, “a Europa do Iluminismo …teve de reflectir de uma maneira nova sobre
razão e liberdade. A revolução proletária por outro lado deixou atrás de si uma destruição
desoladora. O erro fundamental de Marx foi este: “esqueceu o homem e esqueceu a sua
liberdade… Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria.
O seu verdadeiro erro é o materialismo”. (20-21) Digamos isto de uma forma
mais simples, - escreve o Papa :- o homem tem necessidade de Deus; de contrário, fica
privado de esperança.(23) O homem nunca pode ser redimido simplesmente
por uma estrutura externa. Quem promete o mundo melhor que duraria para sempre faz
uma promessa falsa. É assim que se enganam todos aqueles que pensam que o homem pode
ser redimido mediante a ciência. A ciência…pode também destruir o homem e o mundo
( 25) Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido mediante o amor.
UM amor incondicional, absoluto. “ A verdadeira grande esperança do homem que resiste
não obstante todas as desilusões, pode ser somente Deus - o Deus que nos amou e nos
ama ainda até ao fim ( 24-26) Bento XVI indica quatro lugares de aprendizagem
e de exercício da esperança. O primeiro é a oração: Quando já ninguém me escuta, Deus
ainda me ouve…... Se não há mais ninguém que me possa ajudar…..Ele pode ajudar-me.
O Papa recorda a experiência do Cardeal vietnamita Van Thuan, durante 13 na prisão,
dos quais 9 em regime de isolamento: numa situação de desespero aparentemente total,
a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança,
(32-34) Ao lado da oração temos depois o agir “ A esperança em sentido
cristão é sempre também esperança para os outros. E é esperança activa, na qual lutamos
para que o mundo se torne um pouco mais luminoso e humano. E somente se sei que a
minha vida pessoal e a historia no seu conjunto estão guardadas no poder indestrutível
do amor eu posso sempre esperar ainda…. E não obstante todas as falências esta esperança
dá-me ainda coragem para actuar e prosseguir ( 35) Também o sofrer é um
lugar de aprendizagem da esperança. Certamente é preciso fazer tudo o que é possível
para diminuir o sofrimento: contudo: não é a fuga diante da dor que cura o homem,
mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, encontrar sentido mediante
a união com Cristo que sofreu com amor infinito. Na sua encíclica Bento XVI cita aqui
outra testemunha da esperança, o mártir vietnamita Paulo Le-Bao- Thin, morto em 1857.
Fundamental é portanto saber sofrer com o outro e pelos outros. “Uma sociedade que
não consegue aceitar os que sofrem…é uma sociedade cruel e desumana ( 36-39) Finalmente
outro lugar de aprendizagem da esperança é o Juízo de Deus. “A fé no Juízo final é
antes de mais e sobretudo esperança: “existe a ressurreição da carne. Existe uma justiça.
Existe a revogação do sofrimento passado , a reparação que restabelece o direito.
O Papa manifesta-se convencido de que a questão da justiça constitui o argumento
essencial, em todo o caso o mais forte, em favor da fé na vida eterna. De facto é
impossível que a injustiça da história seja a última palavra. Deus é justiça e cria
justiça. É esta a nossa consolação e a nossa esperança. Mas na sua justiça é ao mesmo
tempo também graça. A graça não exclui a justiça. Bento XVI reafirma que “a nossa
esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente
esperança também para mim.40 Como cristãos, não basta perguntarmo-nos:
como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer
a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança?
Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal. No último capitulo
o Papa dirige a sua oração a Maria estrela da esperança:”Mãe de Deus, Mãe nossa,
ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino!
Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho! (49-50)(
versão integral em "documentos ")