2007-11-30 13:52:27

“Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”. Publicada a segunda Enciclica de Bento XVI - SPE SALVI facti sumus » é na esperança que fomos salvos.


(30/11/2007) O Papa assinou na manhã desta sexta feira dia 30 de Novembro na Biblioteca do Palácio Apostólico , a sua segunda encíclica: SPE SALVI facti sumus » , uma passagem da Carta de São Paulo ao Romanos (Rm 8,24): é na esperança que fomos salvos.
A redenção, a salvação, segundo a fé cristã –explica o Papa na introdução não é um simples dado de facto. “A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (1) Portanto, elemento distintivo dos cristãos, é o facto de que eles têm um futuro….sabem -….que a sua vida não acaba no vazio. O Papa sublinha que a mensagem cristã não é só , « informativa », mas « performativa ». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova. ( 2)“Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”. Isto compreendiam-no muito bem os primeiros cristãos, como os Efésios, que antes de encontrar Cristo tinham muitos deuses mas viviam “sem esperança e sem Deus”. O problema para os cristãos de antiga data – sublinha – é o hábito ao Evangelho: a esperança “que provém do encontro real com ….Deus, quase deixa de ser perceptível . Aqui o Papa cita uma primeira testemunha da esperança cristã: Santa Josefina Bakhita. Nascida em 1869 no Darfur, no Sudão, foi raptada aos nove anos e vendida como escrava: depois de provações terríveis chega á Itália onde conhece “a grande esperança”, e pode dizer “eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor”. (3).
O Papa recorda que Jesus não trouxe “uma mensagem social-revolucionaria, como Espártaco, e não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba”. Trouxe algo de totalmente distinto:….. o encontro com o Deus vivo …. o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo,” embora as estruturas externas ficassem as mesmas” (4)
Cristo torna-nos verdadeiramente livres: “ nós somos escravos do universo e das leis da matéria e da evolução. São Gregório Nazianzeno vê nos Reis Magos guiados pela estrela “ o fim da astrologia, uma concepção – afirma o Papa – novamente no auge também hoje: não são os elementos do cosmo …que definitivamente governam o mundo e o homem, mas um Deus pessoal governa as estrelas, isto é o universo. Somos livres porque o céu não está vazio, porque o Senhor do universo é Deus que “em Jesus se revelou como Amor (5)
Cristo é “o verdadeiro filosofo” que “nos diz quem é na realidade o homem e o que ele deve fazer para ser verdadeiramente homem. Ele indica ainda o caminho para além da morte; só quem tem a possibilidade de fazer isto é um verdadeiro mestre de vida”.(6) E oferece-nos uma esperança que é ao mesmo tempo expectativa e presença: porque o facto de que este futuro existe, muda o presente”.
De facto, “pela fé…já estão presentes em nós, num estádio inicial, “as coisas que se esperam: o todo, a vida verdadeira. (7)
Esta esperança permite a tantos cristãos enfrentar as perseguições e o martírio opondo-se à prepotência da ideologia e dos seus órgãos políticos e tornando-os assim capazes de renovar o mundo (8)
O Papa salienta que talvez “hoje muitas pessoas rejeitam a fé, talvez simplesmente porque a vida eterna não lhes parece uma coisa desejável. Não querem de modo algum a vida eterna, mas a presente; antes, a fé na vida eterna parece, para tal fim, um obstáculo”.(10 A esperança torna-se assim fé no progresso, baseada em duas colunas. A razão e a liberdade parecem garantir de per si, em virtude da sua intrínseca bondade, uma nova comunidade humana perfeita. O reino da razão é esperado como a nova condição da humanidade tornada totalmente livre ( 17-18)
Duas etapas essenciais da concretização politica deste esperança foram a Revolução Francesa (19) e a revolução marxista. Perante os desenvolvimento da Revolução francesa, “a Europa do Iluminismo …teve de reflectir de uma maneira nova sobre razão e liberdade. A revolução proletária por outro lado deixou atrás de si uma destruição desoladora. O erro fundamental de Marx foi este: “esqueceu o homem e esqueceu a sua liberdade… Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo”. (20-21)
Digamos isto de uma forma mais simples, - escreve o Papa :- o homem tem necessidade de Deus; de contrário, fica privado de esperança.(23)
O homem nunca pode ser redimido simplesmente por uma estrutura externa. Quem promete o mundo melhor que duraria para sempre faz uma promessa falsa. É assim que se enganam todos aqueles que pensam que o homem pode ser redimido mediante a ciência. A ciência…pode também destruir o homem e o mundo ( 25) Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido mediante o amor. UM amor incondicional, absoluto. “ A verdadeira grande esperança do homem que resiste não obstante todas as desilusões, pode ser somente Deus - o Deus que nos amou e nos ama ainda até ao fim ( 24-26)
Bento XVI indica quatro lugares de aprendizagem e de exercício da esperança. O primeiro é a oração: Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve…... Se não há mais ninguém que me possa ajudar…..Ele pode ajudar-me. O Papa recorda a experiência do Cardeal vietnamita Van Thuan, durante 13 na prisão, dos quais 9 em regime de isolamento: numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, (32-34)
Ao lado da oração temos depois o agir “ A esperança em sentido cristão é sempre também esperança para os outros. E é esperança activa, na qual lutamos para que o mundo se torne um pouco mais luminoso e humano. E somente se sei que a minha vida pessoal e a historia no seu conjunto estão guardadas no poder indestrutível do amor eu posso sempre esperar ainda…. E não obstante todas as falências esta esperança dá-me ainda coragem para actuar e prosseguir ( 35)
Também o sofrer é um lugar de aprendizagem da esperança. Certamente é preciso fazer tudo o que é possível para diminuir o sofrimento: contudo: não é a fuga diante da dor que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, encontrar sentido mediante a união com Cristo que sofreu com amor infinito. Na sua encíclica Bento XVI cita aqui outra testemunha da esperança, o mártir vietnamita Paulo Le-Bao- Thin, morto em 1857. Fundamental é portanto saber sofrer com o outro e pelos outros. “Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem…é uma sociedade cruel e desumana ( 36-39)
Finalmente outro lugar de aprendizagem da esperança é o Juízo de Deus. “A fé no Juízo final é antes de mais e sobretudo esperança: “existe a ressurreição da carne. Existe uma justiça. Existe a revogação do sofrimento passado , a reparação que restabelece o direito. O Papa manifesta-se convencido de que a questão da justiça constitui o argumento essencial, em todo o caso o mais forte, em favor da fé na vida eterna. De facto é impossível que a injustiça da história seja a última palavra. Deus é justiça e cria justiça. É esta a nossa consolação e a nossa esperança. Mas na sua justiça é ao mesmo tempo também graça. A graça não exclui a justiça.
 Bento XVI reafirma que “a nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim.40 Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.
No último capitulo o Papa dirige a sua oração a Maria estrela da esperança:Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho! (49-50)( versão integral em "documentos ")








All the contents on this site are copyrighted ©.