"A ESPERANÇA NÃO É ALGO, MAS ALGUÉM": PUBLICADA A NOVA ENCÍCLICA DE BENTO XVI, SPE
SALVI
Cidade do Vaticano, 30 nov (RV) - O papa assinou, nesta sexta-feira, na Biblioteca
do Palácio Apostólico, sua segunda encíclica _ Spe salvi, Salvos pela esperança.
Depois
da assinatura da nova encíclica, o documento foi apresentado, na Sala de Imprensa
da Santa Sé, pelo pro-teólogo emérito da Casa Pontifícia, Cardeal Georges Cottier,
e pelo professor emérito de Exegese do Novo Testamento, no Pontifício Instituto Bíblico
de Roma, Cardeal Albert Vanhoye.
O texto da encíclica foi publicado, inicialmente,
em oito línguas: latim, italiano, francês, inglês, alemão, espanhol, português e polonês.
Vamos conhecer agora o teor desta encíclica...
O documento é inspirado num
trecho da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8, 24): "Pois nossa salvação é objeto
de esperança". O papa parte da premissa de que a salvação, segundo a fé cristã, não
é um simples dado de fato. A redenção nos foi oferecida porque a esperança nos foi
dada.
O elemento distintivo dos cristãos é o fato que eles têm um futuro:
eles sabem que sua vida não termina no vazio. Nesse sentido, o Evangelho não é somente
uma comunicação de coisas que se podem saber, mas é uma comunicação que produz fatos
e transforma a vida. Quem tem esperança, vive de modo diferente. Receber esperança
significa chegar ao conhecimento de Deus, do verdadeiro Deus.
O papa cita
como exemplo a santa sudanesa, Josefina Bakhita, seqüestrada aos nove anos de idade
e vendida como escrava. Libertar-se dessa vida, para ela, significava ter conhecido
a "grande esperança" e, por isso, dizia: "Eu sou definitivamente amada e seja lá o
que for que me aconteça, eu sou aguardada por este Amor."
O Santo Padre recorda
que Jesus não trouxe uma mensagem social e revolucionária, mas algo diferente: o encontro
com o Deus vivo… o encontro com uma esperança que era mais forte que os sofrimentos
da escravidão e que, por isso, transformava do interior a vida e o mundo, apesar de
as estruturas permanecerem as mesmas.
Cristo nos torna realmente livres: "Não
somos escravos do universo" e das "leis da matéria e da evolução". Somos livres, porque
"o céu não está vazio", porque o Senhor do universo é Deus, que em Jesus se revelou
como Amor.
Cristo é o "verdadeiro filósofo" que "nos diz quem, na realidade,
é o homem e o que ele deve fazer para ser realmente homem". E nos oferece "uma esperança,
que é, ao mesmo tempo, expectativa e presença, pois o fato de esse futuro existir,
transforma o presente".
A atual crise da fé _ prossegue o papa _ é, sobretudo,
uma crise da esperança cristã, pois hoje, muitas pessoas rejeitam a fé, porque a vida
eterna não lhes parece desejável. A sociedade atual não quer, de maneira alguma, a
vida eterna, mas aquela presente. Assim, "a esperança se torna fé no progresso", fundada
sobre duas colunas: a razão e a liberdade. A ciência pode também destruir o homem
e o mundo. Não é a ciência que redime o homem, ele é redimido mediante o amor.
Bento
XVI indica, então, quatro locais de aprendizagem e de exercício da esperança. O
primeiro é a oração, pois se ninguém me escuta, Deus me escuta. Ao lado da oração,
há a ação. "A esperança, em sentido cristão, é sempre também esperança para os outros.
Trata-se de uma esperança ativa, na qual lutamos para que o mundo se torne um pouco
mais luminoso e humano. Como cristãos, nunca devemos somente nos perguntar: como posso
salvar a mim mesmo? Mas sim: o que posso fazer para que outros sejam salvos?"
Também
o sofrimento é um meio de aprendizagem da esperança. "Certamente, é preciso fazer
de tudo para diminuir o sofrimento, todavia, não é a fuga diante da dor que cura o
homem, mas a capacidade de aceitá-la e, nela, de amadurecer, de encontrar sentido
mediante a união com Cristo, que sofreu com infinito amor."
Por fim, está
o juízo de Deus: "A fé no juízo final é, primeiramente e sobretudo, esperança." O
papa se diz convicto de que "a questão da justiça constitui o argumento essencial,
o mais forte em favor da fé na vida eterna". É impossível _ afirma _ que a injustiça
da história seja a última palavra. Deus é justiça e cria justiça.
Esta esperança
não é algo, mas Alguém: não é fundada em coisas que passam e que nos podem ser tiradas,
mas em Deus, que se doa para sempre: por isso, é uma esperança que liberta e permite
a tantos cristãos, abandonar tudo "por amor a Cristo".
No último capítulo,
o papa dirige sua oração a "Maria, estrela da esperança": "Mãe de Deus, nossa Mãe,
ensina-nos a crer, esperar e amar contigo. Indica-nos o caminho para o seu reino!
Estrela do mar, brilha sobre nós e guia-nos no nosso caminho. (BF/AF)