Alerta dos Bispos da Europa e Africa sobre as "novas escravidões":Santa Sé pede maior
esforço contra tráfico de seres humanos
(20/11/2007) O bicentenário do fim da escravidão na África foi ocasião para uma reflexão
e um alerta episcopal africano-europeu sobre as "novas escravidões" do mundo de hoje.
A cidade ganesa de Cape Coast acolheu, de 13 a 18 de Novembro, um seminário –
com trinta participantes, entre bispos, membros da Cúria Romana e organismos de solidariedade
– organizado pelo Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE) e pelo Simpósio
das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM). A iniciativa faz parte
de um projecto trienal (de 2007 a 2010) que prevê seminários na Europa e África para
tornar realidade uma maior comunhão e solidariedade entre as Igrejas neste tempo de
mobilidade humana.
"Muitas pessoas, na Europa e na África, continuam a ser
escravas da pobreza e da injustiça, sobretudo pela falta de uma distribuição equitativa
dos recursos do planeta", denunciou na abertura dos trabalhos o Cardeal Josip Bozanic,
Arcebispo de Zagreb e vice-presidente do CCEE. Com a secularização, que tende
a relegar Deus à esfera privada da existência humana, e um crescente fundamentalismo
religioso que quer se impor à força, o drama da escravidão assumiu formas novas, advertiu
o purpurado. Disso se faz eco a Congregação Vaticana para a Evangelização dos
Povos – através de seu órgão informativo “Fides” –, junto à exortação do cardeal Bozanic
a propósito do destino comum de Europa e África. «‘Conheço os sofrimentos do meu
povo’ (Ex 3, 7). A escravidão e as novas escravidões» foi o tema deste seminário,
que percorreu a perspectiva bíblico-teológica do fenómeno, as experiências de escravidão
vividas em ambos os Continentes, a reconciliação e a cura da memória, o vínculo entre
migrações e novas escravidões, bem como a libertação destas últimas – prostituição,
escravidão infantil, tráfico de mulheres, crianças e de órgãos – e o trabalho dos
imigrantes.
O Arcebispo Agostinho Marchetto, secretário do Conselho Pontifício
para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI) pediu, no Gana, um maior esforço
da comunidade internacional contra o tráfico de seres humanos, exploração sexual e
trabalho forçado. Citando os dados de diversas organizações internacionais, o
Arcebispo italiano destacou que o fenómeno atinge de 12 a 27 milhões de pessoas, em
especial mulheres e crianças, e que não é limitado a particulares áreas geográficas,
mas tem uma incidência, diferente para cada região, em todo o mundo. D. Marchetto
defendeu que "a principal causa das novas escravidões é o enorme abismo económico
entre os países ricos e pobres, e entre os ricos e pobres de um mesmo país".
O
Bispo de Rabat (Marrocos), D. Vincent Landel, falou dos maus-tratos sofridos pelas
mulheres marroquinas, levadas à prostituição em países do Golfo Pérsico ou enganadas
com falsos contratos de trabalho. De acordo com o prelado, também há crianças
na cidade de Tanger que se escondem em camiões ou em contentores tentando emigrar,
para além dos muitos subsaarianos que morrem nas suas longas travessias por mares
e desertos. "Todo homem o tem direito de viver e trabalhar onde queira, mas anteporia
a esse direito o de poder viver dignamente no próprio país", indicou, defendendo que
a "como Igreja, devemos levar por diante a «pastoral do grito»".