A tentação da eutanásia - um alarmante sintoma da cultura de morte que cresce sobretudo
na sociedade de bem-estar: Bento XVI, na conclusão da Conferência sobre a pastoral
dos idosos doentes
17/11/2007) “A tentação da eutanásia aparece como um dos mais alarmantes sintomas
da cultura de morte que cresce sobretudo na sociedade do bem-estar. A vida do homem
é dom de Deus, que todos estamos chamados a defender sempre”: advertiu Bento XVI,
recebendo neste sábado, no Vaticano, os participantes na XXII Conferência Internacional
do Conselho Pontifício para a pastoral da saúde, que teve como tema “A pastoral na
assistência aos doentes idosos”.
Evocando a figura do seu predecessor, “que
especialmente durante a doença ofereceu um exemplar testemunho de fé e coragem”, o
Papa recordou que “João Paulo II exortou os cientistas e médicos a empenharem-se na
investigação, para prevenir e tratar as doenças ligadas ao envelhecimento, sem nunca
ceder à tentação de recorrer a práticas visando abreviar a vida do idoso doente, que
seriam na prática formas de eutanásia”.
“Não esqueçam os cientistas, investigadores,
médicos e enfermeiros, assim como os políticos, administradores e agentes pastorais
que a tentação da eutanásia aparece como um dos mais alarmantes sintomas da cultura
da morte que avança sobretudo na sociedade do bem-estar. A vida do homem é dom de
Deus, que todos somos chamados a defender sempre”.
“Se é verdade que a vida
humana, em cada fase, é digna do máximo respeito, em alguns aspectos é-o ainda mais
quando marcada pela idade avançada e pela doença. A idade avançada constitui a última
etapa da nossa peregrinação terrena, que tem fases diferenciadas, cada uma com suas
luzes e sombras. E surge a pergunta: continua a ter sentido a existência de um ser
humano reduzido a condições muito precárias, em razão da idade e da doença? Porquê
continuar a defender a vida, em vez de aceitar a morte como uma libertação? É possível
viver a doença como uma experiência humana a assumir com paciência e coragem?”
Perguntas
com as quais se confronta quem está chamado a acompanhar os doentes idosos, especialmente
quando parece não existirem possibilidades de cura.
“A actual mentalidade
eficientista tende muitas vezes a marginalizar estes nossos irmãos e irmãs que sofrem,
como se fossem apenas um peso e um problema para a sociedade. Quem tem
o sentido da dignidade humana sabe que, pelo contrário, há que os respeitar e sustentar
quando se encontram a enfrentar sérias dificuldades ligadas ao seu estado”.
Para
além dos tratamentos paliativos, para aliviar os sofrimentos fruto da doença – advertiu
ainda Bento XVI – é preciso “mostrar concretamente a capacidade de amar, porque os
doentes carecem de compreensão, de conforto e de encorajamento e acompanhamento permanentes”.
“Os idosos, em particular, devem ser ajudados a percorrer de modo consciente e humano
a última etapa da existência terrena, para se prepararem serenamente para a morte,
que – como nós, cristãos, sabemos – é uma passagem para o abraço do Pai celeste, cheio
de ternura e de misericórdia”.