DOM RAVASI: "A BÍBLIA NÃO É UM TRATADO DE ASTROFÍSICA, MAS DE SABEDORIA"
Cidade do Vaticano, 15 nov (RV) - Abriu-se nesta quinta-feira, em Roma, o Congresso
"Ontogênese e vida humana", no Pontifício Ateneu "Regina Apostolorum", em colaboração
com a Pontifícia Academia para a Vida. O objetivo do simpósio é responder à complexa
pergunta: "Quem é o homem?"
O presidente do Pontifício Conselho para a Cultura,
Dom Gianfranco Ravasi, inaugurou o congresso, com uma palestra intitulada "O espírito
de todo homem carnal", extraído do livro de Jó (12, 10). Dom Ravasi afirmou que não
é sua intenção acirrar a polêmica entre fé e ciência, mas esclarecer o âmbito específico
de cada um.
Dom Ravasi recordou que não cabe à Bíblia responder ao quesito
"o que aconteceu na origem do cosmo e homem", mas "que sentido tem o homem no cosmo
e para si mesmo". A Bíblia _ e em especial o Antigo Testamento _ não é um tratado
de astrofísica ou de paleontologia ou antropologia, mas de filosofia e de teologia,
de "sabedoria". Como dizia João Paulo II, o texto bíblico quer colocar o homem, desde
o primeiro momento da sua existência, diante de Deus, na busca da definição de si
mesmo, da própria identidade.
É preciso interrogar a Bíblia de modo correto,
para não obrigá-la a dar respostas que não quer dar e que, portanto, somente de modo
artificial podemos obter. Dom Ravasi lembrou que a verdade que ela nos indica não
é de tipo científico, mas teológico, como destacou o Concílio Vaticano II.
Dom
Ravasi reconheceu que a tentação de ultrapassar a fronteira é forte, até porque idêntico
é o objeto em questão: ou seja, o universo e o humano.
Quem é, portanto, o
homem? _ concluiu Dom Ravasi, respondendo: um ser frágil, mas capaz de pensar, de
agir livremente, de se alegrar e sofrer, de encontrar e conhecer, desafiar e amar
o seu Criador.
O congresso é o segundo realizado pelo Projeto STOQ, "Ciência,
Teologia e Pesquisa Ontológica" (Science, Theology and the Ontological Quest). Trata-se
um programa de pesquisa para especialização, fundado em colaboração com seis Universidades
pontifícias, a fim de contribuir para o diálogo entre ciência, filosofia e teologia.
(BF/AF)