BÍBLIA DEVE SER LIDA EM COMUNHÃO COM A IGREJA: PAPA DEDICA AUDIÊNCIA GERAL A SÃO JERÔNIMO
Cidade do Vaticano, 07 nov (RV) - A Bíblia tem palavras que transcendem os
tempos: dirige-se ao coração de cada pessoa e, ao mesmo tempo, faz nascer a comunidade
cristã _ a Igreja _ dentro da qual as palavras sagradas podem ser compreendidas em
sua mais profunda verdade. Foi o ensinamento central da catequese de Bento XVI, na
Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, no Vaticano.
Diante
de cerca de 40 mil fiéis e peregrinos, provenientes de diversas partes do mundo, o
pontífice apresentou a figura de um célebre biblista do século V, São Jerônimo, autor
da "Vulgata" _ a tradução oficial do Antigo Testamento adotada pela Igreja latina.
São
Jerônimo é, para a Bíblia, o que um famoso concertista é para a partitura de um clássico
da música: estudo aprofundado, preparação, sensibilidade e dedicação aos textos sagrados
fizeram dele um dos maiores exegetas e escritores da antiguidade cristã.
O
Santo Padre o apresentou como um "Padre da Igreja, que colocou a Bíblia no centro
de sua vida: traduziu-s, comentou-a em suas obras, e, sobretudo _ ressaltou _ procurou
vivê-la concretamente, em sua longa existência terrena", permitindo _ entre outras
coisas _ que a vasta produção de escritos da Igreja fosse acolhidos, em sua importância
tanto espiritual quanto cultural.
O Santo Padre recordou as fases mais significativas
da vida de São Jerônimo. Homem de caráter "forte", Jerônimo foi eremita e secretário
de um papa _ São Dâmaso _ poliglota e cultor das obras-primas do pensamento antigo,
monge no ânimo e defensor da fé contra os hereges.
Mas foram os livros do Antigo
e Novo Testamento o objeto central da paixão, da fé e do trabalho de um homem que
teve a sorte de concluir seus dias no lugar onde o cristianismo teve início: Belém.
A
tradução latina dos textos bíblicos _ mais conhecida como "Vulgata" _ é seu inestimável
legado à Igreja de todos os tempos. O seu deixar-se interpelar profundamente pela
Bíblia _ como fez em seus primeiros anos, na desejada solidão do deserto _ continua
sendo um exemplo antigo de uma atitude sempre atual para todo cristão _ afirmou Bento
XVI.
"Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo." Por isso, é importante que todo
cristão viva em contato e em diálogo pessoal com a Palavra de Deus, que nos é oferecida
na Sagrada Escritura. Esse nosso diálogo com a Palavra de Deus deve sempre ter duas
dimensões: a pessoal, porque Deus fala com cada um de nós mediante a Sagrada Escritura
e tem uma mensagem para cada um. E devemos ler a Sagrada Escritura como palavra atual.
Mas "para não cair no individualismo", isto é, em uma compreensão personalista
da Bíblia, é preciso sempre considerar _ disse o papa _ também outra característica
da Sagrada Escritura: a de "dom" de Deus "para construir a comunidade da Igreja":
"Devemos
lê-la em comunhão com a Igreja viva. O lugar privilegiado da leitura e da escuta da
Palavra de Deus é a liturgia, na qual _ celebrando a Palavra e tornando o Corpo de
Cristo presente no sacramento _ atualizamos a Palavra em nossa vida e a tornamos presente
entre nós. Jamais devemos esquecer que a Palavra de Deus transcende os tempos."
Na
conclusão da Audiência Geral, Bento XVI saudou o metropolita Innokentiy, do Patriarcado
Ortodoxo de Moscou. Após o aperto de mão e um breve momento de conversação com o pontífice,
o metropolita se despediu, presenteando o papa com um livreto em cuja capa está a
foto do Patriarca ortodoxo de Moscou e de todas as Rússias, Aleksej II.
Antes
de sua bênção, o Santo Padre saudou os numerosos grupos de fiéis e peregrinos presentes,
em diversos idiomas. Eis o que disse aos de língua portuguesa: "Com fraterna
amizade saúdo os Bispos de Portugal aqui presentes em Visita ad Limina Apostolorum,
com o seu povo no coração para a vida e para a morte. Compartilho a tristeza que vos
vai na alma pelo desastre rodoviário de anteontem, com numerosas vítimas e dezenas
de feridos; o braço forte do Pai celeste a todos guarde e console. Às famílias atingidas
por esta tragédia e a quantos trabalham por remediar as suas conseqüências, levai
a certeza da minha particular solidariedade orante. Sobre todos eles, vós e demais
peregrinos aqui presentes de língua portuguesa, com menção especial para o grupo vindo
do Brasil, desça a minha bênção." (RL)