2007-11-05 16:17:36

“A relação entre ciganos e os que o não são encontra-se falseada por uma rejeição ancestral” – adverte o comunicado final (agora divulgado) de um encontro recentemente realizado no Vaticano, com padres, diáconos, religiosos e religiosas ciganos (33 no total), tendo como tema “Com Cristo, ao serviço do povo cigano”


(5/11/2007) Foi o I encontro mundial deste tipo. Promoveu a iniciativa o Conselho Pontifício para a pastoral de migrantes e itinerantes”, inspirando-se num seu documento publicado em finais de 2005 “Orientações para uma pastoral dos ciganos”, que propunha nomeadamente uma pastoral vocacional específica visando suscitar vocações e preparar adequadamente ministros e agentes de pastoral provenientes do próprio meio cigano.
Numa saudação aos participantes neste Encontro, a 23 de Setembro, por ocasião do Angelus dominical, Bento XVI declarou: “Caros irmãos e irmãs, que o tema do vosso Encontro “Com Cristo ao serviço do povo cigano” se torne cada vez mais uma realidade na vida de cada um de vós. Rezo por esta intenção e confio-vos à protecção da Virgem Maria”.

As Conclusões do referido encontro detêm-se sobre os problemas e perspectivas da relação entre a Igreja e a cultura cigana. “A cultura cigana contemporânea encontra-se em fase de mutação, devido ao desenvolvimento tecnológico, à influência dos meios de comunicação e à alfabetização, que oferece novas possibilidades para a evangelização. Por este motivo, os ciganos têm cada vez mais consciência da sua própria dignidade de pessoas e, ao mesmo tempo, advertem a necessidade de trabalhar para a promoção humana dos irmãos de etnia”.

“O respeito da diversidade – observa ainda o documento – manifesta-se na comunicação pessoa a pessoa, que depende da capacidade de empatia, com tudo o que isso comporta: prestar atenção à humanidade do outro e ao que ele sente, respeitando a sua identidade e os seus costumes, evitando actos e gestos que o possam ferir”.
Pede-se que se “procurem modos adequados para superar a desconfiança geral em relação aos ciganos e solicitar uma abertura na sociedade que lhes ofereça a possibilidade de se inserirem plenamente”. Faz-se também votos de colaboração mútua da igreja com as comunidades ciganas e a presença, em cada país, de animadores pastorais adequadamente preparados. Recomenda-se que se tenha em conta a visão e experiência religiosa destas comunidades, com especial atenção à mulher cigana, enquanto “portadora de valores humanos e religiosos na família”.
O Documento conclusivo do I Encontro mundial de padres e religiosos ciganos recorda que tanto os ciganos, como os “gagé” (isto é, aqueles que o não são) se encontram envolvidos em actos de racismo, “é preciso que a raça não nos separe”. Pelo contrário, “procure-se favorecer a unidade na diversidade”. Para tal, que os diáconos, padres e religiosos de origem cigana assumam um papel de “ponte entre a comunidade cigana e gagé”. Se “a relação entre Ciganos e os que o não são se encontra falseada por uma rejeição ancestral”, esta relação “abre-se (agora) a uma verdade que lhe é própria, permeada pela confiança e pelo amor gratuito, sem nenhum desejo de domínio”. Chegou a hora – observa-se – de dar ao mundo “o único sinal indicado por Jesus Cristo: oferecer este sinal de amor fraterno “mais com os actos do que com as palavras”, “mais no quotidiano da vida eclesial do que em manifestações extraordinárias”. Aos ciganos consagrados, definidos como “embaixadores de Cristo”, se confia portanto o dever de encorajar, no interior da sociedade e da Igreja, a passagem à reconciliação e à comunicação entre ciganos e gagé.

Calcula-se que haja no mundo 36 milhões de ciganos, dispersos pela Europa, América e diversos países da Ásia. Os religiosos e padres de etnia cigana são neste momento uma centena: ao menos uns 20 padres na Índia, 10 na Hungria. Até agora é a França o único país onde o director nacional da Pastoral dos Ciganos é um seu presbítero, apoiado por três diáconos permanentes, duas irmãs e uma leiga consagrada, todos ciganos.








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