“A relação entre ciganos e os que o não são encontra-se falseada por uma rejeição
ancestral” – adverte o comunicado final (agora divulgado) de um encontro recentemente
realizado no Vaticano, com padres, diáconos, religiosos e religiosas ciganos (33 no
total), tendo como tema “Com Cristo, ao serviço do povo cigano”
(5/11/2007) Foi o I encontro mundial deste tipo. Promoveu a iniciativa o Conselho
Pontifício para a pastoral de migrantes e itinerantes”, inspirando-se num seu documento
publicado em finais de 2005 “Orientações para uma pastoral dos ciganos”, que propunha
nomeadamente uma pastoral vocacional específica visando suscitar vocações e preparar
adequadamente ministros e agentes de pastoral provenientes do próprio meio cigano.
Numa saudação aos participantes neste Encontro, a 23 de Setembro, por ocasião
do Angelus dominical, Bento XVI declarou: “Caros irmãos e irmãs, que o tema do vosso
Encontro “Com Cristo ao serviço do povo cigano” se torne cada vez mais uma realidade
na vida de cada um de vós. Rezo por esta intenção e confio-vos à protecção da Virgem
Maria”.
As Conclusões do referido encontro detêm-se sobre os problemas e
perspectivas da relação entre a Igreja e a cultura cigana. “A cultura cigana contemporânea
encontra-se em fase de mutação, devido ao desenvolvimento tecnológico, à influência
dos meios de comunicação e à alfabetização, que oferece novas possibilidades para
a evangelização. Por este motivo, os ciganos têm cada vez mais consciência da sua
própria dignidade de pessoas e, ao mesmo tempo, advertem a necessidade de trabalhar
para a promoção humana dos irmãos de etnia”.
“O respeito da diversidade –
observa ainda o documento – manifesta-se na comunicação pessoa a pessoa, que depende
da capacidade de empatia, com tudo o que isso comporta: prestar atenção à humanidade
do outro e ao que ele sente, respeitando a sua identidade e os seus costumes, evitando
actos e gestos que o possam ferir”. Pede-se que se “procurem modos adequados
para superar a desconfiança geral em relação aos ciganos e solicitar uma abertura
na sociedade que lhes ofereça a possibilidade de se inserirem plenamente”. Faz-se
também votos de colaboração mútua da igreja com as comunidades ciganas e a presença,
em cada país, de animadores pastorais adequadamente preparados. Recomenda-se que se
tenha em conta a visão e experiência religiosa destas comunidades, com especial atenção
à mulher cigana, enquanto “portadora de valores humanos e religiosos na família”. O
Documento conclusivo do I Encontro mundial de padres e religiosos ciganos recorda
que tanto os ciganos, como os “gagé” (isto é, aqueles que o não são) se encontram
envolvidos em actos de racismo, “é preciso que a raça não nos separe”. Pelo contrário,
“procure-se favorecer a unidade na diversidade”. Para tal, que os diáconos, padres
e religiosos de origem cigana assumam um papel de “ponte entre a comunidade cigana
e gagé”. Se “a relação entre Ciganos e os que o não são se encontra falseada
por uma rejeição ancestral”, esta relação “abre-se (agora) a uma verdade que lhe é
própria, permeada pela confiança e pelo amor gratuito, sem nenhum desejo de domínio”.
Chegou a hora – observa-se – de dar ao mundo “o único sinal indicado por Jesus Cristo:
oferecer este sinal de amor fraterno “mais com os actos do que com as palavras”, “mais
no quotidiano da vida eclesial do que em manifestações extraordinárias”. Aos ciganos
consagrados, definidos como “embaixadores de Cristo”, se confia portanto o dever de
encorajar, no interior da sociedade e da Igreja, a passagem à reconciliação e à comunicação
entre ciganos e gagé.
Calcula-se que haja no mundo 36 milhões de
ciganos, dispersos pela Europa, América e diversos países da Ásia. Os religiosos e
padres de etnia cigana são neste momento uma centena: ao menos uns 20 padres na Índia,
10 na Hungria. Até agora é a França o único país onde o director nacional da Pastoral
dos Ciganos é um seu presbítero, apoiado por três diáconos permanentes, duas irmãs
e uma leiga consagrada, todos ciganos.