REPRESENTANTE VATICANO NA ONU: PAZ PRESSUPÕE RESPEITO DOS DIREITOS HUMANOS, ENTRE
OS QUAIS, A LIBERDADE RELIGIOSA
Nova York, 1º nov (RV) - A paz pressupõe respeito pelos direitos humanos fundamentais,
e entre esses se encontram o direito à vida e o direito à liberdade religiosa. Foi
o que disse o observador permanente da Santa Sé na ONU, Dom Celestino Migliore, em
seu pronunciamento na Assembléia Geral do organismo, em Nova York, no âmbito da sessão
dedicada à cultura da paz.
Uma organização "que nasceu das cinzas de uma guerra
mundial única, pelos indizíveis ultrajes à dignidade humana". Por isso, a Carta das
NN.UU. estabeleceu "a ligação direta entre a paz e o respeito aos direitos humanos
fundamentais" _ recordou o arcebispo. Deriva daí "uma universal e transcendente verdade"
segundo a qual "o homem não é somente prioritário em relação a toda atividade humana,
mas também a determina".
Isso comporta, "em nível interpessoal", "tratar todos
como iguais a nós" e, "em nível internacional", dar "a justa medida" aos "interesses
nacionais" que estão relacionados e "jamais devem ser considerados absolutos", quando
promovê-los e defendê-los atinge "os legítimos interesses dos outros Estados" _ precisou
Dom Migliore.
Por outro lado, é "uma obrigação, ajudar a promover e defender
o bem comum de todos os povos".
Nesse contexto, o observador da Santa Sé chamou
a atenção para a questão da aprovação de "leis contrárias à dignidade humana", e para
o fato de se medir "o progresso em todos os campos" com o "metro" do que é possível,
ao invés de se avaliar a "compatibilidade" com a dignidade humana.
A seguir,
Dom Celestino Migliore fez uma exortação em favor do respeito à vida _ desde a concepção
até a morte natural _ e da abolição da pena de morte.
Dom Celestino Migliore
se deteve ainda, sobre a espinhosa questão da liberdade religiosa, que vê tantos fiéis,
de vários credos, encontrarem dificuldades no exercício de um de seus direitos, "sintoma
inquietante de falta de paz".
O arcebispo explicou que, quando um Estado impõe
uma única religião a todos, e proíbe a prática das demais, ou quando um sistema secular
denigre os credos religiosos e nega espaço público à religião, "é violado um direito
humano fundamental, com sérias repercussões para a coexistência pacífica".
"Por
outro lado, as religiões são chamadas a trabalhar pela paz e a promover a reconciliação
entre os povos. Diante de um modelo dilacerado por conflitos _ concluiu o representante
da Santa Sé na ONU _ as religiões jamais devem se tornar veículo de ódio e jamais
podem justificar o mal e a violência invocando o nome de Deus."
Dom Migliore
já havia manifestado sua profunda preocupação, em pronunciamento _ na segunda-feira
passada, perante a Assembléia _ em resposta ao relatório elaborado pelo relator especial
da ONU, sobre como eliminar todas as formas de intolerância religiosa.
"Trata-se
de um relatório no qual se denunciam, em numerosos países do mundo, conversões forçadas,
execuções, dessacralização de lugares de culto, expulsões de minorias religiosas de
suas comunidades, e minorias ainda vítimas _ sublinhou o arcebispo _ de algumas leis
sobre a blasfêmia, que são motivo de grandes sofrimentos, e que permitem punições
até a morte, e até mesmo execuções sumárias." (RL)