Números e estatísticas da Igreja Católica em Portugal mostram um cenário de transformação
cada vez maior
(29/10/2009) A viagem que os Bispos de Portugal vão realizar a Roma, de 3 a 12 de
Novembro, será a primeira do novo milénio. Desde 1999, data da última visita ad limina,
muita coisa mudou na vida das várias Diocese do país, na Igreja e no mundo. Desde
logo, o Papa que vai receber os Bispos do nosso país é Bento XVI, que será informado
da realidade das 21 Diocese portuguesas. Os relatórios entregues pelos prelados deverão
abranger um período ligeiramente superior aos 5 anos requeridos pelo Vaticano, procurando
mostrar o rosto da Igreja nestes novos tempos. A frieza dos números ajuda, desde
logo, a perceber este clima de mudança: o “guia” da Igreja Católica de Portugal confirma,
na sua edição de 2007, a quebra progressiva do número de Baptismos e de ordenações
sacerdotais, entre outros. De 2000 a Dezembro de 2005, o número de sacerdotes
diocesanos baixou de 3159 para 2934 (menos 225), enquanto que o clero religioso manteve
praticamente o mesmo número. A situação de 2005 mostra que por cada dois padres que
morrem (nesse ano foram 80), apenas um é ordenado (41 novos sacerdotes). A isto se
somam, em média, 5 defecções por ano. Apesar desta quebra no número de padres,
a esmagadora maioria das mais de 4 mil paróquias continuam confiadas à administração
sacerdotal (99,54%) e apenas 20 paróquias são administradas pastoralmente por diáconos,
religiosas e leigos, número aliás que tem vindo a decrescer de forma consistente.
Os seminaristas de filosofia e teologia também são menos, segundo os últimos dados
disponíveis: de 547, entre diocesanos e religiosos, em 2000 passou-se para 475 em
2005. O número de Baptismo mostra uma redução significativa, mas esse dado deve
ser lido à luz da variação do número de nascimentos em cada ano. Em 2000 foram baptizadas
mais de 92 mil crianças com menos de 7 anos, e em 2005 esse número ficou-se pelos
79 236. Comparativamente a 2001 (100 256) a quebra é de mais de 20%. Os Baptismos
depois dos 7 anos representam, actualmente, cerca de 6% do total e chegou, em 2005,
aos 5301 (5938 em 2000). Em Portugal, a percentagem de católicos é agora de 89,9%
- 9,35 milhões de católicos para uma população de 10,4 milhões de pessoas. O Recenseamento
da Prática Dominical, datado de 2001, mostrava que o número total de praticantes não
chegava, contudo, aos 2 milhões de fiéis. O nosso país tinha no final de 2005,
segundo os dados da CEP, 50 Bispos, 2934 padres diocesanos, 1050 padres de Institutos
Religiosos, 174 diáconos permanentes, 321 religiosos professos e 5890 religiosas professas.
Mudança Um dado curioso diz respeito aos Bispos titulares das Dioceses: desde
o ano 2000, foram 12 as Dioceses (mais de metade) que passaram a contar com um novo
Bispo (a que se somam outros quatro Bispos Auxiliares actualmente em Braga, Évora
e Lisboa). Apenas três Dioceses têm um Bispo há mais de 10 anos, sendo que o "decano"
nesta matéria é D. Maurílio de Gouveia, à frente da Arquidiocese de Évora desde 1981.
No quadro temporal em análise ganham ainda relevo a assinatura da Concordata entre
Portugal e a Santa Sé, no ano de 2004. O documento consagrava o princípio da "cooperação",
mas tem gerado algumas dificuldades por causa dos atrasos na regulamentação de pontos
delicados. Entre as várias alterações promovidas pela Concordata de 2004, destacam-se
as que se referem às matérias fiscais e ao reconhecimento da personalidade jurídica
da Conferência Episcopal Portuguesa. Outras mudanças foram também introduzidas na
nomeação dos Bispos, no estatuto da Universidade Católica Portuguesa e na assistência
religiosa que a Igreja Católica presta nas Forças Armadas, nas prisões e nos hospitais.
Também deste período data a Lei da Liberdade Religiosa e a criação da Comissão
da Liberdade Religiosa, onde a Conferência Episcopal Portuguesa se faz representar
por dois elementos. O quadro legal criado não impede, contudo, o crescimento de uma
onda secularizante e laicista na sociedade, que tende a remeter a presença da religião
para a esfera privada. Um capítulo que não deverá faltar nesta visita, apesar
de não directamente relacionado com a Igreja, é o do último referendo ao aborto, onde
se assistiu a uma mobilização de leigos que só encontra paralelo nos tempos da Acção
Católica. A liberalização do aborto levou a CEP a falar numa "mutação cultural", expressão
que, em larga medida, resumirá perante o Papa o essencial da vida da Igreja e da sociedade
do nosso país, nestes últimos anos. (Ecclesia)