O CRISTO NEGRO DE PORTOBELO: DEVOÇÃO E HISTÓRIA DO PANAMÁ
Cidade do Panamá, 22 out (RV) – Milhares de peregrinos, cumprindo promessas,
reuniram-se neste domingo, no estreito ingresso do histórico povoado de Portobelo,
Panamá, para venerar o mais negro dos santos locais: um Cristo de olhos tristes que
os irmana a todos, com seu olhar.
Os cerca de três mil habitantes de Portobelo
_ a maioria descendente de negros escravos _ fizeram de seu Cristo um sinal de identidade
e hoje, a imagem tem estreitos laços com uma história que os relegou ao completo esquecimento.
A
baía de Portobelo _ assim batizada pelo próprio Colombo, em 1502 _ nada mais conserva
de sua distante glória colonial, quando era sede de ricos mercados e meta de forasteiros
abastados. Somente o Cristo Negro consegue devolver ao pequeno povoado _ em outubro
de cada ano _ a glória e a importância de que desfrutou um dia, por um período de
mais de três séculos, como "o mais importante porto da coroa espanhola, para o comércio
de ouro e prata".
Durante a procissão de ontem _ que se inicia com o pôr-do-sol
e termina à meia-noite, quando o Cristo Negro retorna à sua capela, na colonial Igreja
de São Felipe _ Portobelo renasce à vida de outrora e todo o povo se veste de festa.
Narra
a lenda, que a imagem do Cristo Negro chegou a Portobelo no final do século XVIII,
a bordo de um barco que se destinava ao Peru, mas que teve que atracar em Portobelo,
devido ao mau tempo.
A voz do povo, porém, conta duas versões: uma diz que
pescadores encontraram a imagem flutuando nas águas do Caribe, enquanto outra diz
que atracou no porto de Portobelo, um galeão espanhol com duas imagens a bordo _ uma
de um Cristo branco e a outra, de um Cristo negro. A cada vez que o galeão tentava
zarpar, caía um temporal que o impedia. Ao cabo de várias tentativas, os espanhóis
decidiram deixar o Cristo negro em terra firme e, finalmente, conseguiram partir.
Portobelo,
situado a 115 km a noroeste de Cidade do Panamá, na costa atlântica, foi declarado
patrimônio da humanidade, pela UNESCO (Organização das NN.UU. para a Educação, a Ciência
e a Cultura) em 1980. (AF)