ARGENTINA: CAPELÃO NA DITADURA PODE SER CONDENADO À PRISÃO PERPÉTUA
Buenos Aires, 09 out (RV) – "Tinha a túnica manchada de sangue": essa foi a
dura acusação lançada ontem, contra Pe. Christian Von Wernich, ex-capelão da polícia
na província de Buenos Aires, no período da última ditadura militar no país (1973-83).
Pe. Von Wernich está sendo processado em La Plata. Uma das partes pediu a
prisão perpétua para o ex-capelão. "Poucos casos dispõem de tantas provas como este"
_ disse Alejo Padilla, advogado da família do jornalista Jacobo Timerman que, durante
o regime militar, foi seqüestrado e submetido a enormes humilhações.
Pe. Von
Wernich, que hoje está com 69 anos de idade, "era um genocida que colaborava com os
militares e que não teve escrúpulos em utilizar suas vestes sacerdotais, para colaborar
com os repressores" visto, entre outras coisas, que "participava dos interrogatórios
dos detidos" _ sublinhou Padilla na audiência. Ele pediu a pena máxima para o imputado.
Compareceu
à audiência de ontem, entre outros, o prêmio Nobel da Paz-1980, Adolfo Perez Esquível,
o qual solicitou à hierarquia eclesiástica que adote uma posição em relação à conduta
de Pe. Von Wernich.
O processo contra Pe. Von Wernich é o primeiro na história
argentina, em que um membro do clero é submetido a julgamento, por seus atos durante
a chamada "guerra suja".
O ex-capelão da polícia de Buenos Aires respondia
às ordens de Ramon Camps, condenado, por sua vez, em 1985, a 25 anos de reclusão,
por torturas e homicídios.
Pe. Von Wernich é acusado de sete homicídios, 31
torturas e 42 seqüestros cometidos em cinco campos de detenção clandestinos existentes
durante a última ditadura militar.
A sentença deverá ser proferida nesta terça-feira,
dia 9. (AF)