CARDEAL TAURAN: CRISTÃOS E MUÇULMANOS TESTEMUNHEM RESPEITO RECÍPROCO EM ESPÍRITO DE
PAZ
Cidade do Vaticano, 09 out (RV) - "Cristãos e Muçulmanos: chamados a promover
uma cultura de paz": esse é o título da Mensagem enviada pelo presidente do Pontifício
Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran, aos fiéis muçulmanos
por ocasião de sua festividade _ o Id al-Fitr _ que dentro de poucos dias,
em meados de outubro, marcará o fim do Ramadã, o período sagrado para a religião islâmica.
Entrevistado pela Rádio Vaticano, eis o que nos disse sobre o espírito dessa mensagem,
o próprio Cardeal Tauran:
Cardeal Jean-Louis Tauran:- "É uma mensagem
de solidariedade espiritual, que insiste em duas prioridades: a educação e o exemplo,
tarefa dos fiéis. Em primeiro lugar, a educação: acolher o outro, respeitar as suas
convicções. Fala-se no texto de partilhar as riquezas específicas de cada um. Depois,
vem o exemplo: os fiéis devem observar seus deveres humanos e religiosos e, sobretudo,
demonstrar solidariedade mediante uma vida conforme o plano do Criador. Esse é o aspecto
da educação e do testemunho."
P. A liberdade de religião não se reduz à
simples liberdade de culto _ lê-se na mensagem _ "de fato, é um dos aspectos essenciais
da liberdade de consciência": Cardeal Tauran, o senhor pode nos explicar melhor essa
afirmação?
Cardeal Jean-Louis Tauran:- "A liberdade de culto é a
possibilidade de ter uma igreja, uma mesquita, um templo abertos. Isso é muito importante,
mas é somente um aspecto da liberdade de religião, porque a liberdade de religião
é, sobretudo, a liberdade deixada à consciência da pessoa humana de fazer ou não fazer
a escolha por Deus. A liberdade de religião é também a ausência de imposição por parte
da sociedade e do Estado sobre a consciência da pessoa humana, e é o reconhecimento
da sua dimensão social. Não significa somente ter uma igreja aberta, mas também desempenhar
obras caritativas, ter suas próprias escolas e hospitais, participar do diálogo público.
Em suma, a liberdade de religião é uma liberdade social."
P. A mensagem
reitera que todo recurso à violência jamais pode ter motivações religiosas, porque
a violência ofende a imagem de Deus no homem. Cardeal Tauran, como vencer o terrorismo?
Cardeal
Jean-Louis Tauran:- "Em primeiro lugar, procurando o motivo pelo qual existe o
terrorismo. Muitas vezes o terrorismo não é nada mais do que a manifestação de uma
situação de injustiça. É claro que com isso não se pode legitimar o terrorismo, mas
se deve reconhecer que o terrorismo nasce num terreno onde estão presentes situações
irresolutas. Portanto, devemos, sobretudo, buscar remediar essas situações de injustiça.
Depois, devemos educar para o direito à vida, educar para a dignidade humana, para
fazer entender que somente Deus é o 'Dono da minha vida'. É importante rejeitar, sobretudo,
o terrorismo perpetrado em nome de Deus, como o papa disse tantas vezes. Como Bento
XVI sempre diz: 'Religião e violência são incompatíveis'." (RL)