PAPA NO ANGELUS: CONSTRUIR MUNDO NO QUAL POBRES E RICOS SE SENTEM JUNTOS À MESMA MESA
Castel Gandolfo, 30 set (RV) - Em seu último domingo de férias em Castel Gandolfo
este ano, o papa encontrou-se hoje com os fiéis no pátio da residência apostólica,
para rezar com eles a oração do Angelus e fazer a sua habitual reflexão dominical.
Esta manhã, Bento XVI quis remarcar o 40º aniversário da encíclica de Paulo
VI, Popolorum Progressio, que, a seu parecer, “mantém ainda hoje toda a sua urgência”.
Com efeito, disse o papa, “não há tempo a perder: é preciso construir um mundo no
qual todos os homens possam viver uma vida plenamente humana, onde o pobre possa se
sentar à mesma mesa do rico”.
Citando ainda o documento mais célebre do Papa
Montini, Bento XV disse:
“A miséria é conseqüência das servidões que vêm dos
homens e de uma natureza mal domada. Infelizmente, alguns povos sofrem pela soma de
ambos os fatores. Como ignorar, especialmente neste momento, os países do norte da
África, castigados nos últimos dias por inundações tão graves? Não podemos também
esquecer de muitas outras situações de emergência humanitária, em várias regiões do
planeta, onde os conflitos por poderes políticos e econômicos agravam realidades ambientais
já difíceis”.
Continuando sua advertência, em tom bastante sério, Bento XVI
recordou que nós conhecemos a estrada a seguir: “a Lei e os Profetas – como diz Jesus,
no Evangelho”. E citou novamente o apelo de Paulo VI, afirmando que ainda hoje, “os
povos da fome interpelam dramaticamente os povos da opulência”.
A liturgia
deste domingo apresenta a parábola do homem rico e do pobre Lázaro, na qual o rico
usa seus bens de modo injusto, egoísta e desenfreado, pensando exclusivamente em si
mesmo e ignorando o mendicante que bate à sua porta. Já o pobre, por sua vez, tem
um nome: Lázaro, abreviação de Eleazar, que significa ‘Deus ajuda’. E recebe a atenção
de Deus.
O papa explicou aos fiéis esta relação:
“Quem é esquecido
por todos, não é esquecido por Deus; quem não vale nada aos olhos dos homens, é precioso
aos olhos do Senhor. Esta parábola demonstra como as desigualdades sofridas na vida
terrena são repagadas com a justiça divina. Depois da morte, Lázaro foi acolhido na
beatitude eterna, enquanto o rico acabou no Inferno, em meio a tormentos”.
Assim,
o papa tirou a conclusão: “É durante a vida que precisamos nos converter. Depois,
não serve para nada. Que Nossa Senhora nos ajude a ouvir e colocar na prática esta
parábola de Deus: que nos faça mais atenciosos com os irmãos mais necessitados, dividir
com eles o pouco que possuímos e contribuir para difundir a lógica e o estilo da autêntica
solidariedade”.
Após a oração do Angelus com os fiéis, Bento XVI pediu uma
solução pacífica para o fim dos conflitos em Mianmar (antiga Birmânia). Ele classificou
o conflito como extremamente sério, e ofereceu sua solidariedade à população do país.
“Eu estou acompanhando com muita atenção os eventos extremamente sérios que
estão acontecendo em Mianmar nesses dias. Eu gostaria de expressar minha aproximação
espiritual com a querida população, nesta situação dolorosa que atravessa” - disse
o papa, convidando a toda a Igreja a fazer o mesmo.
Nas duas últimas semanas,
Mianmar teve as ruas tomadas por manifestantes protestando contra o governo militar,
mas o número de pessoas nas marchas é agora muito menor e as principais cidades contam
com forte presença militar. Os monges budistas que estavam inicialmente liderando
os protestos foram presos ou confinados a seus templos. De acordo com números do governo,
dez pessoas foram mortas durante a violenta repressão às manifestações pró-democracia
na semana passada.
Além do apelo pela pacificação em Mianmar, o papa falou
também de outra situação difícil, a da Península coreana. Os importantes progressos
no diálogo entre as duas Coréias fazem esperar que os esforços de reconciliação se
concretizem, em benefício do povo coreano e da estabilidade e da paz em toda a região.
Bento XVI saudou os fiéis em francês, inglês, espanhol, alemão, eslovaco,
e polonês. Em italiano, despediu-se dos moradores da cidade de Castel Gandolfo, anunciando
seu retorno ao Vaticano, na próxima quarta-feira. Enfim, concedeu a todos a sua benção.
(CM)