(26/9/2007) O presidente americano anunciou ontem sanções à Junta Militar que governa
a Birmânia (actualmente Myanmar). No discurso perante a Assembleia Geral das Nações
Unidas, em Nova Iorque, George W. Bush falou do Irão e do Zimbabwe, mas concentrou-se
na questão birmanesa, referindo-se ao regime dos generais como "reino do medo". De
seguida, Bush apelou a todos países para que ajudem os monges. A Junta Militar
ignorou as pressões internacionais. Já de noite, usando altifalantes, os generais
decretaram o recolher obrigatório na maior cidade do país, Rangun. A antiga capital
ficará num regime de "acesso restrito", terminologia geralmente usada para zonas de
combate. Não é a primeira vez que a Junta Militar de Myanmar ignora a pressão internacional,
mas ontem foi o dia em que os generais sofreram uma maior condenação de líderes mundiais.
Os europeus estiveram também muito activos no apoio aos monges: o Presidente francês,
Nicolas Sarkozy, anunciou que vai receber a oposição birmanesa. Na sua intervenção
na ONU, o primeiro-ministro José Sócrates (na presidência da UE) também abordou o
tema. A posição oficial da presidência incluiu o elogio da coragem dos monges budistas
e uma advertência ao regime de Myanmar contra o eventual uso da força. O assunto entrou
na agenda do próximo encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE. Ontem,
em Rangun, mais de cem mil pessoas desfilaram de forma pacífica, no oitavo dia dos
protestos. A manifestação era liderada por 30 mil monges budistas, cujas vestes cor
de açafrão têm inundado as ruas das cidades birmanesas. Pela primeira vez nestas manifestações,
surgiram cartazes a exigir a libertação dos presos políticos, além de bandeiras da
Liga Nacional para a Democracia, o movimento político que venceu as eleições de 1990. Este
partido é liderado por Aung San Suu Kyi, que se encontra sob prisão domiciliária A
Birmânia encontra-se em profundo isolamento político desde que, em 1990, os militares
no poder anularam as eleições que a oposição vencera de forma esmagadora. Suu Kyi,
actualmente com 62 anos e que entretanto recebeu o Prémio Nobel da Paz, foi colocada
sob prisão domiciliária. O movimento democrático então suprimido tinha surgido na
sequência da repressão de manifestações pela democracia, em 1988, que terminaram num
banho de sangue (há quem mencione um balanço de 3 mil mortos). Os militares estão
no poder desde 1962.