V Forum das Migrações da Caritas Europa: apelos em favor de uma nova perspectiva sobre
o fenómeno migratório
(22/9/2007) Chegou ao fim o V Fórum de Migrações da Caritas Europa, no qual vários
responsáveis da Igreja Católica deixaram apelos em favor de uma nova perspectiva sobre
o fenómeno migratório, procurando defender a dignidade humana de cada migrante e superar
perspectivas exclusivamente economicisitas ou securitárias sobre a imigração. Na
manhã deste Sábado, o presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (CEMH),
D. António Vitalino, defendeu "a construção de uma humanidade em mobilidade, mas pacífica
e solidária, acolhendo e ajudando sempre os mais fracos com entranhas de misericórdia,
aceitando as diferenças e diversidade como uma riqueza". O Bispo de Beja falou
da necessidade de "um diálogo intercultural, para melhor nos conhecermos e, em conjunto,
construirmos a cidade dos homens, aberta ao Reino de Deus, que está entre nós como
uma semente, que precisa de germinar e dar fruto". “Construir Pontes ou Barreiras.
Explorando as complexas dinâmicas entre migrações e desenvolvimento" foi o tema da
iniciativa da Cáritas Europa, que este ano se realizou na Costa da Caparica, aproveitando
a presidência portuguesa da União Europeia.
Durante a Missa celebrada este
manhã, D. António Vitalino pediu aos participantes que procurem " ajudar a transformar
as estruturas sociais e políticas dos nossos países e da nossa Europa, para que as
migrações se tornem pontes para o desenvolvimento gradual e harmonioso de todos os
povos". O prelado lamentou, por outro lado, que "os bons propósitos e projectos
de convivência pacífica com os imigrantes" acabem por cair por terra "logo que aparecem
as provações, como são o desemprego, as crises sociais, os grupos xenófobos, os actos
de desespero dos desempregados". A fechar os trabalhos, o Bispo Nicholas DiMarzio,
da diocese norte-americana de Brooklyn, deixou aos presentes o desafio de se tornarem
"advogados informados para os migrantes", seja nos países de destino, seja nos de
origem. "Conhecer os factos e ser parte da solução que pode ser oferecida é uma parte
importante do nosso trabalho", indicou. Neste Fórum, o ministro da Presidência
afirmou que o Governo garante total atenção às questões da imigração e fez questão
de frisar que a resolução dos problemas da imigração e dos imigrantes é uma “prioridade”.
Pedro Silva Pereira indicou que "o reforço das políticas públicas para a integração
dos imigrantes só pode ter sucesso com o desenvolvimento de parcerias na sociedade
civil e com uma aliança entre as políticas públicas e as instituições que estão no
terreno”. Valorizar os imigrantes
Na abertura dos trabalhos,
o presidente da Comissão Episcopal para a Pastoral Social, D. José Alves, apelou à
“solução dos múltiplos problemas ligados com as situações das migrações”, valorizando
a chegada de imigrantes com as suas “energias produtoras de trabalho e novos valores
culturais”. “Os imigrantes são fonte de riqueza e desenvolvimento”, defendeu.
O Bispo de Portalegre-Castelo Branco falou ainda da “frescura vital” que estes migrantes
trazem aos “envelhecidos países de acolhimento”. Este responsável não deixou de
alertar para “os perigos de uma imigração descontrolada”. No mesmo sentido se
manifestou José Magalhães, Secretário de Estado da Administração Interna, que falou
de “uma imigração ajustada, regulada e eficaz”. Para este responsável, “hoje a escolha
não é entre ter ou não ter imigração”, mas regular bem os fluxos migratórios. Se
tal não for feito, alertou, “as primeiras vítimas serão sempre os imigrantes”. Neste
âmbito, falou da necessidade de leis com “sentido humanista”, conjugando o plano económico
com a integração dos migrantes e a prevenção da imigração clandestina. A secretária-geral
da Caritas Internationalis, Lesly-Anne Knight, considerou na sua intervenção que a
imigração forçada de pessoas é um “escândalo internacional”, um dos maiores dos nossos
dias, que exige uma “resposta global urgente”. D. Vincent Landel, Bispo de Rabat
(Marrocos), veio a Portugal pedir que a discussão sobre o fenómeno migratório se concentre
mais sobre "o que se passa nos países de partida". Para o prelado de Marrocos,
cada pessoa deve ter "o direito a poder viver feliz no seu país”, evitando assim a
necessidade de procurar uma vida melhor em terra estranha.
O Fórum ficou marcado
por uma cerimónia simbólica, na noite de Quinta-feira, quando representantes de várias
confissões religiosas e membros das Cáritas de diversos países se reuniram ontem na
praia da Caparica para lembrar todos aqueles que morreram no mar, no deserto e nas
montanhas ao tentar chegar à "Europa fortificada". A cerimónia teve como lema
“Morrer de Esperança”, sendo dedicada ao silêncio, à memória e à oração "ao Deus que
abate todas as fronteiras". Calcula-se em 8000 o número de mortes ocorridas desde
1988, das quais 6078 por afogamento no Mediterrâneo e Atlântico, com 2785 corpos que
nunca foram encontrados. ( Ecclesia)