Em Portugal, forum europeu promovido pela Caritas: a Igreja quer novas perspectivas
sobre a imigração
(20/9/2007) A Igreja Católica defende uma perspectiva mais abrangente sobre o fenómeno
das migrações, que ultrapasse as perspectivas economicistas ou securitárias. A posição
foi apresentada esta manhã, no início do V Fórum de Migrações da Caritas Europa, a
decorrer na Costa da Caparica. Na abertura dos trabalhos, o presidente da Comissão
Episcopal Portuguesa para a Pastoral Social, D. José Alves, apelou à “solução dos
múltiplos problemas ligados com as situações das migrações”, valorizando a chegada
de imigrantes com as suas “energias produtoras de trabalho e novos valores culturais”.
“Os imigrantes são fonte de riqueza e desenvolvimento”, defendeu. O Bispo de Portalegre-Castelo
Branco falou ainda da “frescura vital” que estes migrantes trazem aos “envelhecidos
países de acolhimento”. Este responsável não deixou de alertar para “os perigos
de uma imigração descontrolada”. No mesmo sentido se manifestou José Magalhães,
Secretário de Estado da Administração Interna, que falou de “uma imigração ajustada,
regulada e eficaz”. Para este responsável, “hoje a escolha não é entre ter ou não
ter imigração”, mas regular bem os fluxos migratórios. Se tal não for feito, alertou,
“as primeiras vítimas serão sempre os imigrantes”. Neste âmbito, falou da necessidade
de leis com “sentido humanista”, conjugando o plano económico com a integração dos
migrantes e a prevenção da imigração clandestina. Assim, assinalou, será possível
uma Europa mais aberta para todos, que faça “da imigração uma grande oportunidade,
uma grande vantagem”. Sobre a próxima cimeira Europa-África, José Magalhães deixou
perspectivas de “consumação de passos concretos”, com apoios efectivos ao desenvolvimento
do continente africano. Lesly-Anne Knight, secretária-geral da Caritas Internationalis,
considerou na sua intervenção que a imigração forçada de pessoas é um “escândalo internacional”,
um dos maiores dos nossos dias, que exige uma “resposta global urgente”. Criticando
a desigualdade “obscena” no mundo actual, esta responsável sublinhou a ligação entre
migrações e desenvolvimento. “As imigrações forçadas podem ser atribuídas à pobreza
e à desigualdade social, de uma forma ou outra”, disse, assumindo um compromisso reforçado
da Caritas para a resposta no campo social e humanitário, de forma ecuménica e inter-religiosa.
Lesly-Anne Knight alertou ainda para os efeitos das mudanças climáticas “ameaçam
deslocar milhões de pessoas dos seus lares”, com consequências “devastadoras” para
os pobres. Quanto ao impacto da globalização, observou que “a crescente conectividade
destaca ainda mais as desigualdades que existem no nosso mundo e facilita a deslocação
das pessoas”. Por tudo isto, concluiu a secretária-geral da confederação internacional
da Caritas, é preciso deixar de pensar nos imigrantes apenas “como um recurso económico,
uma força de trabalho móvel”, dado que esta perspectiva “tende a ignorar os efeitos
das migrações nos indivíduos e nas suas família”. D. Gilberto Canavarro Reis,
Bispo de Setúbal e anfitrião do encontro, referiu que “a Europa será grande na medida
em que tratar bem os imigrantes”, promovendo o bem comum e a solidariedade, na defesa
da dignidade “inalienável de cada imigrante”. Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas
Portuguesa, não pôde estar presente no evento, por motivos de saúde, mas enviou uma
mensagem na qual defendia que “o fenómeno migratório deve ser lido à luz da globalização”.
“As políticas migratórias não podem estar à margem dos direitos humanos”, indicou.
O V Fórum de Migrações da Cáritas Europa é promovido através do seu Departamento
de Migrações em parceria com a Cáritas Portuguesa, prolongando-se até 22 de Setembro,
sob o lema: "Construindo pontes ou barreiras? Explorando as dinâmicas entre migrações
e desenvolvimento". Integrado neste Fórum, esta noite irá ter lugar uma Cerimónia
Inter-religiosa com o lema “Morrer de Esperança”, memória evocativa "de todos aqueles
que morreram no mar, no deserto e montanhas ao tentar chegar à Europa fortificada". (Ecclesia)