“Pessoas que oferecem, na Igreja e na sociedade, uma experiência concreta daquele
amor pelo qual nós cristãos fomos conquistados”: assim se exprimiu Bento XVI referindo
os voluntários, no último encontro da sua viagem à Áustria, na grande “Sala de concertos”
de Viena.
(9/9/2007) "Pessoas que oferecem, na Igreja e na sociedade, uma experiência concreta
daquele amor pelo qual nós cristãos fomos conquistados”: assim se exprimiu Bento XVI
referindo os voluntários, no último encontro de sua viagem à Áustria, na grande “Sala
de concertos” de Viena. “É o amor de Deus que nos faz reconhecer no outro o próximo,
o irmão e a irmã” – advertiu. O Papa congratulou-se com a “cultura do voluntariado”
existente na Áustria, fazendo questão de “agradecer” todos e cada um por esta actividade
que contribui – recordou – “para a edificação de uma civilização do amor, que
se coloca ao serviço de todos e cria Pátria!”
“O amor do próximo não se pode
delegar. Não o podem substituir o Estado e a política, não obstante as prestações
sociais e as justas medidas para aliviar os que se encontram em situação de necessidade.
O amor do próximo requer sempre o empenho pessoal e voluntário, para o qual, sem dúvida
o Estado deve criar condições gerais favoráveis. Graças a este empenho, a ajuda mantém
a sua dimensão humana e não se despersonaliza. Precisamente por isso, vós não sois
tapa buracos na rede social, mas sim pessoas que contribuem para o rosto humano
e cristão da nossa sociedade”.
Citando uma frase do pensador e teólogo medieval
Duns Scoto – “Deus quer pessoas que amem com Ele”, observou Bento XVI que “empenhar-se
de modo voluntário constitui um eco da gratidão e ao mesmo tempo é transmissão do
amor recebido.
“Empenhar-se de modo gratuito tem muito que ver com a Graça.
Um cultura que tudo quer contabilizar e pagar, que coloca a relação entre os homens
numa espécie de esquema constritivo de direitos e deveres, experimenta graças às inumeráveis
pessoas empenhadas a título gratuito que a própria vida é um dom imerecido”.
“Foi
gratuitamente que recebemos do nosso Criador a vida – sublinhou ainda o Papa. Gratuitamente
fomos libertados do pecado e do mal. Gratuitamente nos foi dado o Espírito e seus
múltiplos dons… É portanto gratuitamente que transmitimos o que recebemos… Esta lógica
da gratuidade situa-se para além do mero dever e poder moral”.
“Sem empenho
voluntarista, o bem comum e a sociedade não podiam, não podem e não poderão perdurar.
A disponibilidade espontânea vive e demonstra-se para além do cálculo e da contra-resposta
aguardada: rompe com as regras da economia do mercado. De facto, o homem é muito mais
do que um mero factor económico a avaliar segundo critérios económicos. O progresso
e a dignidade de uma sociedade dependem sempre de novo precisamente daquelas pessoas
que fazem mais do que o seu mero dever”.
Na parte final do seu discurso
aos representantes do voluntariado austríaco, Bento XVI deteve-se a considerar “o
olhar” – olhar de Deus e olhar do homem, segundo o olhar de Deus. Partindo de duas
citações de Santo Ireneu de Lyon e de Nicolau de Cusa, o Papa observou que “o olhar
de Deus – o olhar de Jesus – contagia-nos com o amor de Deus”.
“Há olhares
que podem perder-se na indiferença ou mesmo desprezar. E há olhares que conseguem
exprimir respeito e amor. As pessoas que se empenham gratuitamente conferem ao próximo
apreço, recordam a dignidade do homem e suscitam esperança e alegria de viver. Os
expoentes do voluntariado defendem e mantêm os direitos do homem e a sua dignidade”.
A concluir, Bento XVI acrescentou mais uma observação a propósito do olhar
de Jesus, citando a parábola do bom samaritano e aqueles que fingem não ver o homem
abandonado na berma da estrada:
“Há quem faz de conta que não vê. A necessidade
encontra-se diante dos olhos e não obstante permanece indiferente. No olhar do outro,
precisamente do que tem necessidade da nossa ajuda, fazemos a experiência concreta
do amor cristão. Jesus Cristo não nos ensina uma mística dos olhos fechados,
mas sim uma mística do olhar aberto, com o dever absoluto de advertir a situação
dos outros, a situação em que se encontra o homem que, segundo o Evangelho, é nosso
próximo. O olhar de Jesus, a escola dos olhos de Jesus, introduz-nos numa proximidade
humana, na solidariedade, na partilha do tempo, na partilha das capacidades e também
dos bens materiais”.
E o Papa concluiu com uma referência expressa à “força
e importância da oração para todos os que se encontram empenhados na actividade caritativa.
A oração – recordou – é a via de saída da ideologia e da resignação perante a ilimitada
dimensão das necessidades”: “Embora imersos como os outros homens na dramática complexidade
das vicissitudes históricas, os cristãos continuam firmes na certeza de que Deus é
Pai e nos ama, mesmo se o seu silêncio permanece incompreensível para nós” (citação
da Encíclica “Deus caritas est”).