RDC: CRIANÇAS-SOLDADOS DESMOBILIZADAS, ACORDAM DE NOITE, ASSUSTADAS
Kinshasa, 06 set (RV) - Para as crianças-soldados que participaram da guerra
na República Democrática do Congo (RDC) e foram desmobilizadas, a volta para casa
é uma viagem difícil.
Com um sorriso amistoso e um ar de auto-suficiência,
Cyprien afirma ter 17 anos, apesar de sua ficha, no arquivo do Comitê Internacional
da Cruz Vermelha (CICV), indicar apenas 15.
"Fui para a guerra voluntariamente,
porque vi que outros faziam isso" _ diz, a bordo de um veículo do CICV, que o leva
de volta para sua casa, no território de Masisi, na província de Kivu Norte, leste
do país.
"Além disso, estava cansado de escutar as broncas de minha mãe" _
acrescenta Cyprien. Em seus anos de soldado, em grupos rebeldes, que faziam oposição
ao governo de Kinshasa, ele ficou conhecido como "Rambo".
Ao ser questionado
sobre o motivo que o levou ao lutar, ele responde calmamente: "Nenhum em especial".
A
RDC, país com uma extensão semelhante à Europa Ocidental, passou por duas guerras
nos anos 90, que deixaram mais de três milhões de mortos, em conseqüência dos combates,
da fome e das doenças.
Embora o processo de transição tenha terminado em 2006,
com a realização de eleições legislativas e presidenciais, a violência continua no
leste, onde ainda estão ativos os grupos armados que enfrentam regularmente o exército.
O
retorno à vida civil nem sempre é desejado ou fácil, para jovens que, desde crianças,
só conheceram a vida de soldado.
"No início, todos querem alardear que foram
soldados" _ diz Mario Pérez, diretor do Centro Don Bosco, de Goma, que acolhe menores
em situações difíceis, entre eles crianças-soldados desmobilizadas, à espera de se
unirem com suas famílias.
"Alguns estão traumatizados e não conseguem dormir
à noite, ou acordam gritando" _ revela Pérez, um venezuelano que trabalha há 20 anos,
no Congo, com os salesianos. (AF)