EPISCOPADO BOLIVIANO FAZ NOVO APELO EM FAVOR DO DIÁLOGO NACIONAL

La Paz, 06 set (RV) - "O país depositou suas esperanças no processo de mudança em que vivemos, que exige capacidade de diálogo e o acordo entre todos": essa foi a exortação dos bispos da Bolívia, num comunicado assinado pelo secretário-geral da Conferência Episcopal, Dom Jesús Juarez Párraga, bispo de El Alto, publicado ontem.

No comunicado, os bispos aconselham todos os homens e mulheres de boa vontade a se sentirem no dever de multiplicar os próprios esforços, para encontrar espaço numa pacífica convivência, desenvolvimento e justiça, em torno da liberdade e da democracia.

Segundo o prelado, apesar da esperança depositada pelo povo, cenários como a Assembléia Constituinte, (reunida há mais de um ano sem resultados relevantes), apresentam conflitos permanentes, radicalismos e interesses de grupo. Todos estes elementos conduzem a uma derrota.

Outro tema importante é a questão da sede dos poderes Legislativo e Executivo _ se em La Paz ou em Sucre _ uma questão que ameaça seriamente a unidade entre os bolivianos.

Sucre, capital do departamento de Chuquisaca, sudeste do país, transformou essa reivindicação _ de voltar a sediar os poderes Legislativo e Executivo _ apresentada à Assembléia Constituinte, em "questão de Estado".

Ontem, as organizações civis de Sucre aceitaram iniciar um diálogo sobre o conflito regional com La Paz, pela disputa da sede do governo, mas se negaram a suspender os protestos que abalam o país.

Outro fator de conflito é o processo pelo qual deverão ser submetidos quatro juízes do Tribunal Constitucional: os quatro juízes teriam agido com "abuso ilegítimo de poder", ao anularem algumas nomeações designadas pelo presidente Evo Morales.

A greve de 48 horas, organizada pelos juízes bolivianos, para expressar solidariedade aos quatro colegas, terminou ontem.

Os bispos afirmam ainda, que problemas como o custo de vida, o desemprego e a insegurança não são enfrentados de imediato pelos políticos, cujo modo de agir, conflitos e intolerância causam desorientação e incertezas na população.

Quanto ao racismo, o Episcopado declara que a Bolívia registrou progressos, ao reconhecer e valorizar a sua interculturalidade, mas esse processo agora pode ser impedido por comportamentos radicais e racistas, incentivados por interesses pessoais ou regionais, que poderiam reduzir o país a divisões profundas.

O cardeal-arcebispo de Santa Cruz de La Sierra, Julio Terrazas Sandoval, está participando do encontro latino-americano em favor da paz, iniciado ontem, em Buenos Aires, Argentina. Pouco antes de sua viagem, junto com o Episcopado, ele lançou um apelo em favor da tranqüilidade social, "sem a qual, não são possíveis encontros e diálogos, duas coisas das quais a Bolívia tem extrema necessidade" _ sublinhou. (GF/AF)