IGREJA BOLIVIANA ABRE PROCESSO BEATIFICAÇÃO DE ÍNDIO ESCULTOR DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA
COPACABANA
La Paz, 03 set (RV) - A Igreja na Bolívia iniciou, esta semana, o processo
de beatificação do indígena Tito Yupanqui, que esculpiu a imagem de Nossa Senhora
de Copacabana _ um povoado localizado às margens do lago Titicaca _ e que pode se
tornar o primeiro santo do país.
Yupanqui viveu há mais de 400 anos, e entalhou
uma das virgens mais famosas do mundo _ a de Copacabana. O indígena disse que sua
elaboração foi um "calvário" e "uma demonstração de fé".
A beatificação é o
passo anterior à santificação. Caso o processo chegue ao término, Yupanqui pode se
tornar o primeiro boliviano a ser canonizado.
Os bolivianos têm a bem-aventurada
Sor Nazaria Ignacia, que viveu na Bolívia no início do século XX, mas que nasceu na
Espanha. Seus restos mortais estão em Oruro, pequena localidade desse país andino.
Pe.
Hans van der Berg, da comissão promotora da beatificação de Yupanqui, apresentou,
na última quinta-feira, o início da campanha, que incluirá uma profunda pesquisa histórica
sobre sua vida e uma coleta de assinaturas de fiéis.
Pe. Van der Berg, reitor
da Universidade Católica da Bolívia, as principais fontes sobre a vida do eventual
"São Tito" são as obras de dois agostinianos, datadas de meados do século XVII, feitas
em Lima. A mais antiga é a de Alonso Ramos Gavilán que, em 1621, narrou os milagres
de Nossa Senhora de Copacabana, além de passagens da vida do escultor.
A segunda
foi escrita em 1653, por Fr. Antonio de la Calancha, considerado o primeiro cronista
do "Alto Peru", antigo nome da Bolívia, que reeditou o encontrado na primeira.
A
campanha para beatificar Yupanqui começou há meses, quando o bispo de El Alto, Dom
Jesús Juárez Párraga, apresentou à Congregação das Causas dos Santos, uma solicitação
para "continuar até o final, a pesquisa sobre a vida e virtudes" do escultor indígena.
Tanto
El Alto como Copacabana estão no planalto andino, quatro mil metros acima do nível
do mar. Copacabana é uma localidade turística encravada numa pequena península do
lago Titicaca.
Tito Yupanqui esculpiu, em barro, uma imagem de Nossa Senhora,
que foi desprezada pelo sacerdote que chegou a Copacabana. Magoado, ele foi para Potosí,
onde aprendeu a esculpir e a entalhar madeira, com o mestre Diego Ortiz.
Após
entalhar sua imagem, a partir de uma imagem da Virgem da Candelária _ mas com traços
indígenas _ ele voltou a Copacabana e conseguiu realizar seu sonho de colocá-la no
maior altar da capela de seu povoado.
Conta a lenda que Yupanqui deixou em
Potosí, uma cópia fiel à original, que foi adquirida por um comerciante português
que trabalhava entre essa cidade _ mais povoada que Paris na época _ e o Rio de Janeiro.
Assim, a Nossa Senhora entalhada por Yupanqui acabou dando nome à praia de Copacabana.
Pouco
se sabe da vida do entalhador após seu retorno a Copacabana, nem onde e quando morreu.
Porém, Pe. Van der Berg acredita que está comprovado que ele recebeu uma pensão vitalícia
dos agostinianos, por causa de sua precária situação econômica. (CM/AF)