Eleito o novo Chefe de Estado da Turquia: aviso das Forças Armadas turcas, e um elogio
da UE
(29/8/2007) O candidato dos conservadores islâmicos à Presidência turca, Abdullah
Gül, foi ontem eleito pelo Parlamento como novo Chefe do Estado, apesar da recusa
da oposição republicana e secular. O Presidente tomou posse ao fim do dia, em Ancara,
numa cerimónia onde jurou fidelidade à República laica. O novo Presidente turco
era ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Recep Erdogan e um dos dirigentes
máximos do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), oriundo do movimento islamita.
Esta formação, por vezes definida como pós-islamita, venceu as legislativas de 22
de Julho com uma vitória que lhe garantiu 340 dos 550 deputados. A eleição indirecta
do presidente, ontem, correspondeu à segunda volta da votação e, desta vez, bastava
maioria simples de 276 votos: Gül conseguiu 339. A facilidade da eleição é, apesar
de tudo, aparente, pois a questão presidencial prolongou-se por meses e obrigou a
legislativas antecipadas. Para mais, segunda feira, horas antes da decisiva votação,
os militares fizeram um aviso aos políticos de que continuarão a defender o carácter
laico da Turquia. O chefe do Estado-maior, general Yasar Büyükanit, referiu (numa
mensagem através da internet) que "as forças armadas não farão concessões no seu dever"
de garantir "um Estado laico e social baseado na autoridade da lei". Na Turquia, os
avisos dos quartéis não podem ser ignorados: os militares derrubaram quatro governos
desde 1960, com o afastamento mais recente a ocorrer apenas há dez anos. Embora
o contexto da nova advertência militar seja vago, a mensagem pode ser interpretada
como o aviso de que o partido no poder terá de cumprir a promessa de manter o carácter
laico da república. Gül e o líder do AKP, Recep Erdogan, contam com um trunfo
importante: apoio europeu. Logo a seguir à eleição, a União Europeia apressou-se a
esclarecer que a escolha do novo presidente poderá acelerar o processo de adesão da
Turquia à UE. Na prática, foram reforçadas as declarações da véspera do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, que surgiu na segunda-feira com uma posição mais favorável
às negociações de adesão. Em Bruxelas, a Comissão Europeia considerou que a escolha
do novo presidente dará "um impulso imediato e positivo" ao processo de adesão da
Turquia. A Europa não ficou menos dividida sobre a questão da entrada no clube deste
país de maioria muçulmana, mas a estabilização política e a continuação das reformas
serão argumentos para os Estados que, como Portugal, defendem a adesão. A eleição
de Abdullah Gül pode pôr um ponto final na actual crise política turca. Os partidos
da oposição boicotaram uma votação semelhante, antes das legislativas, mas desta vez
surgiram vozes de republicanos a recomendar cautela.