2007-08-29 14:24:24

Eleito o novo Chefe de Estado da Turquia: aviso das Forças Armadas turcas, e um elogio da UE


(29/8/2007) O candidato dos conservadores islâmicos à Presidência turca, Abdullah Gül, foi ontem eleito pelo Parlamento como novo Chefe do Estado, apesar da recusa da oposição republicana e secular. O Presidente tomou posse ao fim do dia, em Ancara, numa cerimónia onde jurou fidelidade à República laica.
O novo Presidente turco era ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Recep Erdogan e um dos dirigentes máximos do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), oriundo do movimento islamita. Esta formação, por vezes definida como pós-islamita, venceu as legislativas de 22 de Julho com uma vitória que lhe garantiu 340 dos 550 deputados. A eleição indirecta do presidente, ontem, correspondeu à segunda volta da votação e, desta vez, bastava maioria simples de 276 votos: Gül conseguiu 339.
A facilidade da eleição é, apesar de tudo, aparente, pois a questão presidencial prolongou-se por meses e obrigou a legislativas antecipadas. Para mais, segunda feira, horas antes da decisiva votação, os militares fizeram um aviso aos políticos de que continuarão a defender o carácter laico da Turquia.
O chefe do Estado-maior, general Yasar Büyükanit, referiu (numa mensagem através da internet) que "as forças armadas não farão concessões no seu dever" de garantir "um Estado laico e social baseado na autoridade da lei". Na Turquia, os avisos dos quartéis não podem ser ignorados: os militares derrubaram quatro governos desde 1960, com o afastamento mais recente a ocorrer apenas há dez anos.
Embora o contexto da nova advertência militar seja vago, a mensagem pode ser interpretada como o aviso de que o partido no poder terá de cumprir a promessa de manter o carácter laico da república.
Gül e o líder do AKP, Recep Erdogan, contam com um trunfo importante: apoio europeu. Logo a seguir à eleição, a União Europeia apressou-se a esclarecer que a escolha do novo presidente poderá acelerar o processo de adesão da Turquia à UE. Na prática, foram reforçadas as declarações da véspera do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que surgiu na segunda-feira com uma posição mais favorável às negociações de adesão.
Em Bruxelas, a Comissão Europeia considerou que a escolha do novo presidente dará "um impulso imediato e positivo" ao processo de adesão da Turquia. A Europa não ficou menos dividida sobre a questão da entrada no clube deste país de maioria muçulmana, mas a estabilização política e a continuação das reformas serão argumentos para os Estados que, como Portugal, defendem a adesão.
A eleição de Abdullah Gül pode pôr um ponto final na actual crise política turca. Os partidos da oposição boicotaram uma votação semelhante, antes das legislativas, mas desta vez surgiram vozes de republicanos a recomendar cautela.








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