Santa Sé favorável ao uso pacífico da tecnologia nuclear, com as necessárias garantias
de segurança
(2/8/2007) O Vaticano considera que existem hoje em dia os pressupostos “para uma
política energética integrada, que contemple, ao lado de formas da chamada energia
limpa, também a energia nuclear”. Na sequência da intervenção do Papa, domingo
passado, ao Angelus, sobre o uso pacífico da energia nuclear, rejeitando as armas
atómicas e destinando a verba das despesas militares ao desenvolvimento dos países
pobres, nesta quarta-feira interveio também sobre esta temática o cardeal Renato Raffaelle
Martino: em entrevista ao programa italiano da nossa Emissora, o purpurado explicita
os contornos da posição da Santa Sé.
Porquê impedir a aplicação pacífica da
tecnologia nuclear no campo agrícola, medicinal e energético ? – interroga-se o presidente
do Conselho Pontifício Justiça e Paz. Conhecendo as objecções que se levantam a este
propósito, o cardeal Martino recorda desde logo a necessidade de assegurar “a segurança
das instalações e dos depósitos” e de “regulamentar de maneira severa a produção,
distribuição e o comércio da energia nuclear”, como premissas de uma política energética
integrada. Excluir “a energia nuclear por uma questão de princípio, ou então por
medo dos desastres – observa o purpurado – poderia ser um erro e em alguns casos conduz
a efeitos paradoxais. Pense-se no caso da Itália, que em 1987 abandonou a produção
de energia nuclear; mas que hoje em dia importa da França essa mesma energia e exporta
para o estrangeiro centrais nucleares produzidas por empresas de capital maioritariamente
do Estado. Em última análise, é necessário e imperioso avaliar com a máxima prudência
a possibilidade de um uso pacífico da tecnologia nuclear. Isso, em todo o caso, na
certeza de que as obras do engenho humano, portanto também as conquistas no campo
nuclear hão-de ser postas ao serviço da família humana. A tecnologia pode ser um mal
pelo uso errado que dela se possa fazer, não um mal em si”.
O cardeal Renato
Martino não esquece os desastres nucleares – de Chernobyl ao recente caso ocorrido
no Japão, mas considera que é tempo de “formular correctamente a questão e de fixar
com racionalidade os pontos fundamentais de uma hipotética política nuclear”, considerando
precisamente a complexidade da matéria. O presidente do Conselho Pontifício Justiça
e Paz recordou a posição da Santa Sé, sempre contrária ao nuclear militar, insistindo
num desarmamento balanceado mas cada vez mais decidido. Desarmamento que deve ser
alargado ao sector químico, biológico e das armas convencionais. Reafirmado também
o direito dos Estados ao uso pacífico da energia nuclear. Neste contexto, relança-se
o papel da AIEA – a Agência Internacional da Energia Atómica – para uma real conversão
da política mundial que gasta demasiado com as armas. O equilíbrio do terror não garante
a paz; pelo contrário, é uma ameaça para a família humana – recordou a concluir o
cardeal Martino.