ANGELUS: PAPA FAZ APELO PELA PAZ E CONTRA CORRIDA ARMAMENTISTA
Lorenzago di Cadore, 22 jul (RV) - Contra os "inúteis massacres" provocados
pelas guerras, que "abrem espaços de inferno" no "jardim do mundo", os homens devem
escolher a força do direito e da liberdade, único caminho que pode garantir uma "paz
equânime e duradoura": foi o forte apelo feito esta manhã, antes da oração do Angelus,
pelo papa Bento XVI, que se dirigiu ao mundo da pequena cidade de Lorenzago di Cadore,
nos Alpes italianos, onde se encontra para um período de descanso. A oração mariana
realizou-se num clima de grande participação dos fiéis _ cerca de seis mil os presentes
_ que aplaudiram e aclamaram o Santo Padre XVI várias vezes.
Bento XVI lançou
hoje das ruínas e dos picos de montanhas que foram cenários do primeiro conflito mundial,
um grito contra a guerra e fez um apelo contra a corrida armamentista e a renúncia
ao direito. O pontífice disse que, nestes dias de descanso, sente "ainda mais intensamente"
o "impacto doloroso" das notícias que chegam sobre os "enfrentamentos sangrentos e
os episódios de violência que atualmente assolam o mundo". Essa violência o induz,
disse, a refletir sobre o "drama" da liberdade humana.
As palavras de Bento
XVI neste domingo procuram mexer com as consciências, que em várias partes do mundo
ainda não compreenderam que o "jardim" da Terra é um dom de Deus, e cabe ao homem
"cultivá-lo e preservá-lo" sem jamais violar a sua beleza com as feridas do ódio:
"Se
os homens vivem em paz com Deus e entre eles _ disse o papa _ a Terra se assemelha
verdadeiramente a um paraíso. Infelizmente, o pecado arruinou esse projeto divino,
gerou divisões e fez entrar a morte no mundo. Os homens cedem à tentação do mal e
fazem guerra uns contra os outros. A conseqüência é que, neste esplêndido jardim que
é o mundo, se abrem espaços de inferno."
Palavras fortes, herança de uma tradição
que desde Bento XV até João Paulo II, foram proferidas muitas vezes, nos microfones
da Rádio Vaticano ou na tribuna das Nações Unidas, para reafirmar um conceito chave
dos últimos pontificados: "Nunca mais a guerra"!
Precisamente a célebre
"Nota às potências beligerantes", enviada por Bento XV no dia 1º de agosto de 90 anos
atrás, foi recordada nesta manhã pelo Santo Padre, sublinhando o seu valor "amplo
e profético". Essa carta, afirmou Bento XVI, teve no ano de 1917 "a coragem" de definir
como "um inútil massacre" a guerra que as nações estavam combatendo, mas ainda hoje
_ observou o papa _ pode se aplicar a "tantos outros conflitos que ceifam inúmeras
vidas humanas".
"A Nota do papa Bento XV não se limitava a condenar a guerra
_ observou Bento XVI _ ela também indicava, num plano jurídico, os caminhos para construir
uma paz equânime e duradoura: a força moral do direito, o desarmamento controlado,
a arbitragem nas controvérsias, a liberdade dos mares, o recíproco perdão das despesas
bélicas, a devolução dos territórios ocupados e equânimes negociações para dirimir
os problemas."
Uma Nota, portanto, insistiu o papa, "orientada ao futuro da
Europa e do mundo, segundo um projeto cristão na sua inspiração, mas compartilhado
por todos, porque baseado no direito dos povos". É a mesma posição _ acrescentou o
pontífice _ que os Servos de Deus Paulo VI e João Paulo II seguiram em seus "célebres
discursos na ONU". E recordando os "muitos testemunhos" e "os comoventes corais dos
Alpinos" que narram os sofrimentos das guerras vividas pelos habitantes de Cadore,
Bento XVI concluiu:
"Deste lugar de paz, onde se pode ver ainda mais os inaceitáveis
horrores dos inúteis massacres, renovo o apelo a continuar de modo tenaz o caminho
do direito, a recusar com determinação a corrida armamentista, a rejeitar a tentação
de enfrentar novas situações com velhos sistemas."
Muitas pessoas ilustres
participaram do Angelus, neste domingo. Entre outros, o Santo Padre saudou
e abraçou o patriarca de Veneza, Cardeal Angelo Scola, e o arcebispo de Hong Kong,
Cardeal Joseph Zen Ze-Kiun, que se encontrava acompanhado por cerca de 60 fiéis chineses.
O papa também saudou, com particular alegria, o ancião irmão de João Paulo I, Edoardo
Luciani.
-Bento XVI ficará em Lorenzago di Cadore até a próxima sexta-feira,
dia 27, quando voltará a Roma e irá para a residência pontifícia de verão de Castel
Gandolfo, cerca de 30 quilômetros ao sul da capital, onde passará o restante deste
tórrido verão europeu.
Enfim, o Santo Padre concedeu a todos a sua Benção Apostólica.
(SP)